domingo, 17 de julho de 2011

Personagens de "Meia Noite em Paris" de Woody Allen-4- Ernest Hemingway








O gênio de Woody Allen consegue transformar em meros figurantes de seu "Meia Noite em Paris" alguns nomes fundamentais da arte e da cultura que estavam baseados na Cidade Luz nos mágicos anos 20,como o jovem Ernest Hemingway
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Para ser um pai bem-sucedido, evite olhar seu filho nos primeiros dois anos de vida.”

Com dezenas de filmes e peças teatrais baseados em suas obras, Ernest Hemingway, ícone da cultura norte-americana, tropeçou feio ao escrever esta pérola de desinteresse, somente explicável pelo desenrolar dramático de acontecimentos familiares .

Pensar nele é visualizar o caucasiano vermelhão vibrando nas touradas, o personagem tisnado de sol que lhe deu o Pulitzer de 1953 (“O velho e o mar”) ou o laureado intelectual Nobel de Literatura em 1954, pelo conjunto de obra.
Segundo a biografia “Papa Hemingway” ( A.E.Hotchner), publicada no centenário de seu nascimento, teve uma relação complicada com o pai suicida. Diz o biografado: “Alguns anos mais tardes, pelo Natal, recebi um embrulho da minha mãe. Continha o revolver com que o meu pai se suicidara. Trazia um bilhete dizendo que achava que eu talvez gostasse de o ter, mas não explicava se era agouro ou profecia.”
Ele mesmo não foi lá um monstro para seus filhos, como Pablo Picasso, mas poderia ter sido pai mais presente. Quanto ao respeito à liberdade de orientação sexual, era homofóbico, embora tivesse um filho transexual. Gregory - ou Gloria, filho do terceiro casamento - morreu na prisão em 2001 e, ainda criança, apresentou tendências ao crossdressing.
O livro de Gregory/Gloria “Papá, Memórias Pessoais”, publicado em 1976, é revelador. Ao registrar o suicídio do pai, Gregory, que tinha 30 anos na ocasião, revela que guardou a imagem do "alcoólatra incurável" e confessa que sentiu o alívio de "nunca mais desapontar aquele grande homem”.
Hemingway, por sua vez, já havia usado a figura e as características de Gregory para compor o personagem Andy, na obra “As ilhas da corrente” (1970) e desenhou alguns de seus personagens masculinos, com traços homos.
Alguns biógrafos e amigas, como Gertrude Stein, contaram que Hemingway foi meio hesitante ao escolher parceiros na juventude.

“Leis estritas, mentes estreitas”
Ernest Miller Hemingway nasceu em 23 de julho de1899 in Oak Park, subúrbio de Chicago, Illinois. Primeiro filho homem de Clarence Edmonds ("Doc Ed") Hemingway, médico rural e de Grace Hall Hemingway.
O próprio pai (foto) fez o parto e tocou uma corneta na soleira da porta da frente para sinalizar aos vizinhos que havia nascido mais um macho na face da Terra - costume local.
Dona Grace, evangéilca até o último fio de cabelo. era professora de canto, depois de perder a esperança de se tornar cantora de opera.
E como desejava gêmeos, resolveu vestir Ernest e a irmã Marceline - um ano e meio mais velha - como se gêmeas fossem, com cabelos e roupas iguais. Referia-se aos dois como “as gêmeas” e passou chamar Ernest de Ernestine.
Muitos trabalhos de Hemingway dissecam relações conturbadas entre homens e mulheres (“Hills Like White Elephants"), amores sem casamento ( "Now I Lay Me", "The Short Happy Life of Francis Macomber") e arranjos de elementos entre homens e mulheres, inclusive nos trabalhos postumamente publicados ( “The Sun Also Rises”).
A mãe, a quem Ernest sempre atribuiu o suicídio do pai, o queria estudante de música. Mas, ele adotou os hábitos e hobbies paternos : caçar, pescar e acampar nos Grandes Lagos.
Jogava beisebol, lutava box e era excelente aluno das aulas de inglês na Oak Park and River Forest High School, onde se graduou na turma de 1917 e onde seus textos apareceram impressos pela primeira vez no jornal Trapeze e, como editor, no anuário Tabula.
Usava o pseudônimo Ring Lardner,Jr - homenagem ao seu ídolo literário Ring Lardner, escritor de pequenos contos e crítico esportivo.

‘Graça sob pressão”

Depois da high school, Hemingway se recusou a cursar universidade.
Foi trabalhar como repórter no The Kansas City Star por seis meses. Logo perdeu a paciência com o novo trabalho, mas ali definiu a base de seu estilo como escritor: “Use frases curtas. Use pequenos primeiros parágrafos. Use um vigoroso Inglês e seja positivo, nunca negativo”.
Contra a vontade do pai, deixou o emprego e se alistou no exército dos Estados Unidos para atuar no front da Primeira Guerra Mundial. Foi reprovado no exame médico e tentou a Cruz Vermelha, onde foi aproveitado como motorista de ambulância.
Ferido durante uma ação (1918), foi para um hospital em Milão onde se apaixonou pela enfermeira americana que o cuidava.
O relacionamento não deu certo, mas rendeu a primeira obra de ficção baseada em amor na vida real “”Adeus às armas” (1925).
Recebeu medalha de mérito e foi o primeiro norte-americano ferido no conflito mundial

Fase “Geração Perdida’

Voltou à cidade natal, Oak Park, e começou a trabalhar no periódico Toronto Star como freelancer e correspondente internacional. Enviado a Paris para cobrir a Guerra entre a Grécia e Turquia levou carta de apresentação para Gertrude Stein, que o introduziu no Movimento Modernista Parisiense, que se reunia em Montparnasse.
Foi o início da fase “Geração Perdida”, epígrafe do romance “The Sun also rises”.
Discípulo de Erza Pound, freqüentava a livraria de Sylvia Beach, a Shakespeare & Co, ainda hoje em atividade às margens do Sena e ponto obrigatório, para quem está no Quartier Latin.
Depois das experiências francesas, casado com Elizabeth Richardson, com quem compartilhou grandes dificuldades financeiras, retornou a Toronto, onde nasceu seu primeiro filho, John, afilhado de Gertrud Stein.
Em 1928, o pai Clarence, deprimido com problemas causados pela diabetes, suicidou-se usando uma pistola da época da Guerra Civil.
Este episodio foi retratado no livro “Por quem os sinos dobram” – o pai de Robert Jordan reproduziu o Dr. Clarence.
Fase Guerra Civil Espanhola
Para Hemingway, a guerra civil espanhola foi uma espécie de reprise de sua atuação nos fronts pós 1ª Guerra Mundial. Mas, mesmo antes de partir para Espanha como correspondente de guerra, participou da luta pela implantação da República , no documentário Spain in Flames ao criticar abertamente o fascismo.
A experiência de correspondente de Guerra (1937/38), deu origem à sua única peça teatral, The Fifth Column, e a um dos seus memoráveis romances, Por Quem os Sinos Dobram.
De regresso aos Estados Unidos, Hemingway manteve o apoio às brigadas internacionais que acompanhou, recolhendo fundos e fazendo a locução do filme de propaganda pró-republicano The Spanish Earth.
O sucesso sempre vinha com tormentos : foi infeccionado por antraz, sofreu acidente de carro com seqüelas, teve hemorróidas e enxaquecas insuportáveis.
Fase 2ª Guerra mundial
Quando os Estados Unidos entraram na Guerra, Hemingway' alistou-se na Marinha, com a missão de afundar submarinos alemães nas costas de Cuba. Depois foi para Europa, como correspondente do Collier’s magazine. Testemunha ocular do DIA D, Hemingway formou seu próprio grupo de Resistência e participou da liberaçao de Paris, como oficial de ligação.
Fase Cuba
Em 1959, acompanhou os acontecimentos que depuseram o General Fulgencio Batista e culminaram com Revolução Cubana. Hemingway, que apoiava Fidel, resolveu ficar um pouco mais na ilha.
Hemingway era observado pelo FBI desde a 2ª Guerra, por conta de seu envolvimento profundo com a Espanha e com os marxistas que lutaram na guerra civil contra Franco. Em 1960, quando deixou a ilha, o governo cubano declarou que ele estava ainda mais à esquerda que os próprios dirigentes. Em 2001, foi inaugurado um museu dedicado ao escritor.
A maldição de ser um Hemingway_
Em 1959, Hemingway, eterno repórter, visitou a Espanha onde conheceu o famoso toureiro Luis Miguel Dominguín, ferido em uma corrida. Pensou em escrever um livro sobre toureiros mortos, mas, Dominguin se recuperou.
Em 1960, foi hospitalizado na Clínica Mayo, em Rochester, para tratamento de depressão.
Recebeu eletrochoques durante dois meses e teve alta no inicio de 1961.
Em 2 de julho do mesmo ano, Ernest Hemingway cometeu suicídio com sua espingarda favorita, na residência de Ketchum, Idaho.
Clarence, pai de Hemingway e seus tios Ursula e Leicester também se suicidara., Assim como a neta Margaux Hemingway(foto), atriz e modelo - com uma dose letal de soníferos, aos 41 anos.
A terceira geração rompe a cadeia
Em 2003, o escritor norte-americano radicado na Itália, John Hemingway, lançou livro em que conta a história do avô e de seu pai transexual. John é casado, tem dois filhos, trabalha como tradutor e professor de Inglês e foi criado por uma tia. Não chegou a conhecer o avô, que morreu quando ele tinha apenas onze meses.
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