quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Carmen Miranda -pequeno ensaio


9 de fevereiro 2017 -107 anos do nascimento da Pequena Notável
Balangandãs
Em 2009, o maior evento de moda da América Latina, o São Paulo Fashion Week (SPFW), homenageou o centenário de nascimento de Carmen Miranda,celebrando os “Brasileirismos”com seus coloridos e irreverências. Carmen Miranda continua fashion.

Sapatos de plataforma, bijuterias, a barriguinha bem torneada aparecendo nas roupas exóticas continuam movimentando a moda feminina . A cantora Madonna declarou, recentemente, que suas roupas exóticas foram inspiradas no guarda roupa de Carmen.
Além de cantora,atriz de cinema (e de televisão que já estava a todo vapor nos nos Estados Unidos) ,é lembrada como a mais bem paga artista de todos os tempos em sua época e tornou-se ícone ainda em vida.

O smoking de lamê e a cartola da famosa cena das “Cantoras do Rádio” é de sua criação,assim como praticamente todo o guarda-roupa que usou em shows e na vida pessoal.Em Hollywood, ela supervisionava pessoalmente todas as peças que usava.

Carmen viveu 16 anos nos Estados Unidos e foi - durante muito tempo - a artista mais bem remunerada do país e a maior pagadora de imposto de renda ao leão do Tio Sam.

Jamais se naturalizou, mesmo tendo se casado, em 1948, com o norte-americano David Sebastian.
Criava e costurava suas roupas, idealilzava seus turbantes,seus acessórios.Por conta de Carmen,as mulheres passaram a usar bijuterias em ocasiões sociais e foi a inventora dos sapatos plataforma que não quís patentear –com a generosidade que a caracterizava.

O primeiro retorno

E,certamente,foi de sua autoria o croquis do tailleur verde e amarelo com que, em 10 de Julho de 1940,no cais da Praça Mauá, Rio de Janeiro.
Um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas registrou , no desembarque do “SS Argentina”, a pequena figura graciosa. Em seguida, em carro aberto, o desfile sob a chuva de confete e serpentina, Era Carmen Miranda que voltava ao Brasil para participar, a convite de Dona Darcy Vargas (mulher do Presidente Getúlio), de um show em benefício da “Casa das Meninas”, obra social dirigida pela, então, primeira-dama. Cinco dias depois, no Cassino da Urca, glamurosa e já com reconhecimento internacional é praticamente vaiada pela elitista platéia da época, sob a acusação de americanização e por ter incluído em seu repertório algumas canções em inglês. Desta estada, que durou 3 meses, ficaram profundas mágoas, traumas psicológicos e a gravação de diversas canções encomendadas pela cantora para comprovar a sua “brasilidade”.

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Infância e adolescência
Maria do Carmo Miranda da Cunha – Carmen, para seus familiares e depois para o mundo - nasceu em Marco de Canavezes, cidadezinha na região do Porto, a 9 de fevereiro de 1909, filha do barbeiro José Maria e da ex-tecelã Maria Emília.

Em 1919, já morando no Rio, os irmãos Olívia, Carmen, Mário, Cecília, Aurora e Oscar conseguiram vagas como alunos num convento da Lapa, no centro da Cidade, o que aliviou bastante a situação financeira da família.

Em 1925, os Miranda da Cunha mudaram-se para uma casa maior na Praça 15, proximidade do Arco do Teles. Dona Maria Emília alugava cômodos e fornecia refeições para comerciários. Para ajudar no sustento da família Carmen trabalhou como chapeleira na tradicional Maison Marigny, confecccionando chapéus e turbantes. Estas habilidades seriam muito úteis no futuro, quando sua imagem pública foi montada com roupas extravagantes e turbantes/salada de frutas. Cantando em festinhas de vizinhança, Carmen começou a interpretar tangos. O talento da mocinha foi percebido por um dos frequentadores da pensão que a encaminhou ao compositor Josué de Barros.

Com ele, ensaiou durante meses até que um disco com a cantora interpretando suas melodias foi gravado pela Brunwick, em 1929. Carmen assinou com a RCA Victor para um segundo disco, que muito impressionou outro compositor, Joubert de Carvalho, que criou “Taí” especialmente para ela.

As 35 mil cópias vendidas em um mês, transformaram Carmen em estrela de primeira grandeza.

Sucesso nas ondas do rádio


Nos anos 20/30 um eletrodoméstico veio revolucionar a vida dos brasileiros:o rádio. Em qualquer lar havia pelo menos um aparelho e a família se reunia diante dele como hoje diante da tv. A música popular brasileira entrou na moda e compositores como Ary Barroso, Noel Rosa e Caymmi criavam canções memoráveis.

Enquanto todos os cantores recebiam cachês por apresentação, Carmen foi a primeira cantora a assinar um contrato (de 2 anos com a Rádio Mayrink Veiga). Em 1935, o famoso locutor Cesar Ladeira batizou a nova sensação de "Pequena Notável”, por conta de seus 153 cm de altura.
O cinema falado era outra novidade. Carmen cantou com sua irmã Aurora em filmes como “Alô Alô Brasil” e “Alô Alô Carnaval”. Mas, a figura da baiana - que ficaria para sempre imortalizada como uma segunda pele da cantora - surgiu no filme “Banana da Terra” (1939) ao interpretar “ O que é que a baiana tem?”, do jovem Dorival Caymmi.

A baiana original, descrita em cada frase da música,é criação de Carmen


Patrocínio Polêmico
Não existe consenso sobre as razões da ida de Carmen Miranda para a América do Norte. Alguns registros falam na política de boa vizinhança entre o governo Roosevelt e a América Latina.
A simpatia do Brasil seria essencial naquele momento de esforço de guerra. Borracha, manganês, minério de ferro, cristais de quartzo, areias monazíticas e um ponto geográfico no nordeste para instalação de base aérea eram vitais para os Estados Unidos. Todo um programa cultural foi desenvolvido com esse objetivo. Intelectuais brasileiros foram levados aos Estados Unidos como profesores visitantes nas Universidades. Walt Disney criou um personagem, o Zé Carioca, papagaio malandro que apresentava o Brasil ao Pato Donald.
Outros biógrafos contam que Carmen viajou com passagem paga pelo empresário Lee Schubert e como se recusava a se apresentar com músicos estrangeiros (que não saberiam tocar o verdadeiro samba), pediu ajuda ao Itamarati, que pagou apenas 3 passagens do “Bando da Lua”.
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Carmen completou com seu próprio dinheiro as outras 3 passagens e embarcou, em 4 de maio de 1939, com o grupo completo, pelo vapor “Uruguai”. Brazilian Bombshell Carmen fazia muito sucesso no Uruguai e na Argentina, onde estrelava musicais sofisticados. Ali foi “descoberta” pelo empresário Lee Schubert, que a contratou para estrelar “Streets of Paris” no Broadhurst Theatre, em plena Broadway. Com um layout surpreendente para o povo americano, que nunca havia visto nada igual, cantava em português e se expressava com as mãos, olhos, pés e quadris. Logo, tornou-se a Brazilian Bombshell ( A explosão brasileira ). Passou a influenciar a moda quando as boutiques da Quinta Avenida que sempre exibiam criações de Chanel e Dior passaram a mostrar suas indumentárias, turbantes, sapatos e balangandãs. Gravou seus pés e mãos no Hall of Fame do Chinese Theatre e recebeu uma estrela de ouro com seu nome nas calçadas do Hollywood Boulevard. Jamais se naturalizou, mesmo tendo se casado, em 1948, com o norte-americano David Sebastian.
Segundo retorno

Após a estadia de 1940, a mágoa com o Brasil virou fixação e uma reportagem negativa de David Nasser (que havia se hospedado em sua mansão em Beverly Hills) transformou esta mágoa em certeza de rejeição.
A falsa impressão só se desfez em 1954 quando, em estado de profunda depressão e devastada pelo uso de pílulas para dormir e para se manter acordada e pela bebida, voltou ao Brasil trazida pela insistência da irmã Aurora, para certificar-se de que era amada e admirada.
No início, ficou isolada para tratamento numa suíte do Copacabana Palace. Em seguida,compareceu a homenagens em teatros e festas.
Matou as saudades de todos os amigos, foi reverenciada pelo público e retornou aos Estados unidos em 4 de abril de 1955, para dar continuidade ao trabalho intenso em Las Vegas, em Havana e na televisão americana.
Quatro meses depois, em 12 de agosto de 1955, passou mal `a tarde durante a filmagem de um programa para a televisão com Jimmy Durante ` A noite,recebeu amigos para jantar, cantou música brasileira, subiu as escadas jogando beijos para as visitas-como na última imagem gravada do show de Durante. Entrou no quarto,acendeu um cigarro,pegou um espelho para retirar a maquiagem e caiu fulminada por um colapso cardíaco, aos 46 anos de idade.
A volta definitiva
O corpo embalsamado chega ao Rio e é velado na Câmara de Vereadores. Nas 24 horas seguintes, mais de 60.000 pessoas desfilam diante do caixão.
O sepultamento de Carmen, no Cemitério de São João Batista, até então o mais concorrido em toda a história do Rio, foi acompanhado por cerca de um milhão de pessoas.
Dezenas de missas foram rezadas pela sua alma
Museu Carmen Miranda
Em 1976, o prefeito Negrão de Lima assinou a Lei nº 886, que cria o Museu Carmen Miranda, “para guarda, conservação e exposição do acervo da artista, doado pelo marido, e constante de sapatos, roupas, jóias e troféus”.
O Museu fica situado no Aterro do Flamengo, junto à Avenida Ruy Barbosa e acolheu as homenagens pelo centenário de nascimento,em 2009
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A mais completa biografia da artista é a escrita por Rui Castro (‘Carmen-Uma biografia”Companhia das Letras,2005)
Gostaria de destacar o trabalho da banda carioca 1E99 que apresenta novo enfoque do repertório da “Pequena Notável”,com uma pitadas de dadaísmo e som sampleado que linka passado e presente.
Participei, com os meninos da Banda, na produção das comemorações do centenário
Carmen é fonte inesgotável de inspiração.
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