quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Petrônio, árbitro da elegância

 Rei da etiqueta e autor de "Satiricon" 



"Citius flammas mortales ore tenebunt, quam secreta tegant" "É mais fácil um mortal engolir chamas do que guardar um segredo"
O "Satiricon" de Petrônio, obra que vem interessando gerações de leitores, escritores, críticos, antropólogos, historiadores, filólogos e linguistas durante os últimos vinte séculos, ganhou novíssima edição em português (Cosac Naify, 2008).

A tradução direta do latim e posfácio são de Cláudio Aquati. O posfácio, que contextualiza a obra, é um presente à parte para o leitor. "Satiricon" - no título original "P.A. Satiricon libri", as iniciais correspondendo a Petrônio Arbitro, foi elaborado com a intenção de ridicularizar a oposição a Nero e tornou-se uma das origens da novela moderna.

Primeira reunião de histórias fragmentadas a chegar à nossa era é, da mesma forma, considerado o primeiro romance realista da literatura universal.
Escrito num momento em que a economia do Império Romano estava meio cambaleante (governado por Nero, entre 62 e 66 d.C.), focaliza a liberalidade dos costumes e a decadência já instalada.

Petrônio fez uma paródia das obras gregas que estavam na moda, com apelos sentimentalistas e ações sensacionalistas. No lugar dos heróis épicos, escolheu três vagabundos como protagonistas.

Utilizou mistura de prosa e verso e foi do latim mais vulgar ao mais sofisticado para contar, de maneira irônica e amoral, as façanhas dos vigaristas Encólpio, seu amigo Ascilto, e o garoto Gitão na Itália, entre Nápoles e Roma. 
Mesmo fragmentado, o texto não perdeu a beleza plástica. Prende a atenção do leitor até a última linha e influenciou autores de gerações sucessivas: Tácito, Bocaccio, Proust, Nietzsche, Henry Miller, Casanova, Henry Miller, Bucowsky, T.S.Elliot.

A lista é imensa e eclética. Em 1664, saiu a primeira edição impressa dos originais da Idade Média, incluindo a Festa de Trimalchio.
Graças aos esforços do editor Pierre Petit, Satiricon foi traduzido em várias línguas e tornou-se um dos bestsellers da literatura ocidental.

Em 1969, o cineasta italiano Frederico Fellini dirigiu uma película homônima, inspirada na novela de Petrônio. Fiel ao texto, Fellini recria o ambiente de corrupção e libertinagem da época, inserindo no contexto do roteiro, como sempre, sua visão criativa.
A Trama
A peça de Petrônio, um mestre na prosa da literatura latina, faz uma crônica da vida na Roma Antiga ao contar as peripécias de Encolpio e seu amigo Ascilto que disputam o afeto do jovem Gitão.

Encolpio, um ex gladiador, punido com impotência pelo deus Priapro que acha exageradas suas atividades com o amigo e amante Ascilto (que, etimologicamente, significa "infatigável") protagoniza extravagâncias em companhia do jovem Gitão, um adorável efebo de dezesseis anos.

Petrônio mostra como a sociedade focada no prazer vive cada dia como se fosse o último.
O rejeitado Encolpio empreende longa jornada onde encontra todos os tipos de pessoas envolvidas em todos os tipos de situações.

Entre elas, uma orgia e um desfile de prostitutas na Roma Antiga, triângulos amorosos circulando num ambiente de vagabundos, corruptos, sacerdotisas fofoqueiras e novos-ricos grosseiros obcecados por sexo e prestígio. (A gente já ouviu este samba, não é, meu leitor?) Durante a orgia organizada por Trimalchio(cena do filme de Fellini),um ex escravo que enriqueceu ilicitamente e passou a ser considerado um self made man (a parte mais conhecida da obra),

Petrônio faz uma reflexão sobre a sexualidade masculina e suas variações.


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Gaius Titus Petronius, nasceu em Marselha (27 d.C.) em família aristocrática e foi competente nos cargos de governador da Bitínia, atual Turquia, e depois, no de cônsul.

Assessor de Nero, foi nomeado arbiter elegantiae (árbitro da elegância) no ano 63 d.C. porque era uma verdadeira autoridade em assuntos de bom gosto, etiqueta e refinamento.

Acusado de participar na conspiração contra o imperador, foi condenado ao suicídio no ano 65. Passou suas últimas horas de vida numa festa em Cumas, antiga colônia grega que ficava a cerca de vinte quilômetros de Nápoles.
Nessa ocasião, fez uma lista dos vícios de Nero, discursou sobre eles, enviou-lhe uma carta contendo essas aberrações e, em seguida, cortou os pulsos.


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