Artista plástico brasileiro.Pintor, tapeceiro.
Obra em dupla dimensão : autobiográfica e religiosa
O acervo de Arthur Bispo do Rosário foi escolhido pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural como o mais no novo Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão unânime saiu na quarta-feira (19) durante reunião no Rio de Janeiro."
****************
Falecimento: 5 de julho de 1989,na Colônia Juliano Moreira, Rio de Janeiro
Condecorado com a Ordem do Mérito Cultural
*********
"A arte do sergipano de Japaratuba, que possuía diagnóstico de esquizofrenia-paranoide e morreu no ano de 1989, ganhou notoriedade no universo contemporâneo. Ela foi produzida dentro de um manicômio do Rio de Janeiro e provocou discussão entre o limite da arte e a loucura.
O acervo de Arthur Bispo do Rosário foi escolhido pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural como o mais no novo Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão unânime saiu na quarta-feira (19) durante reunião no Rio de Janeiro."
do site do G1 (2018)
**************
Em 1989,eu trabalhava para ao Departamento Cultural da UERJ,então sob a direção do Professor George Kornis, raro exemplo de gestor público des-burocratizado e desburocratizante,grande colecionador de arte,alma sensível e ser humano da melhor qualidade.

Pensávamos em realizar uma bela exposição para comemorar os 80 anos de Arthur Bispo do Rosário.
E estávamos tendo grandes dificuldades em convencer o artista a disponibilizar suas obras pois, dizia ele,”tudo era para Deus e,não,para a Humanidade”
Foi quando nos chegou a notícia da sua morte, em 5 de julho.****************
Sergipano ,descendente de escravos africanos, nascido em 1909 em Japaratuba,Arthur Bispo do Rosário foi marinheiro e lutador de box na juventude e,mais tarde, trabalhou no bairro de Botafogo, como caseiro no palacete de importante família carioca.
Numa noite de dezembro de 1938,acordou com alucinações e comunicou aos patrões que estava saindo porque precisava ir `a Igreja da Candelária,no centro da cidade.

Perambulou pelas ruas, até subir o pequeno monte que termina no Mosteiro de São Bento,onde avisou aos monges quee era um enviado de Deus e queria cumprir a missão de julgar vivos e mortos.Dali saiu direto para a delegacia da Praça Mauá e foi fichado como “negro sem documentos e indigente” Próxima parada:o Hospício Pedro II (o hospício da Praia Vermelha), primeira instituição oficial desse tipo no país, inaugurada em 1852.

Em seguida foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá,diagnosticado como "esquizofrênico-paranóico"
Uma observação:li no folder da exposição sobre Bispo do Rosário,por ocasião dos 500 anos do descobrimento do Brasil, no Paço Imperial (2000) que ,nos anos 20 ,um nudista, cidadão estrangeiro e com outra mentalidade nadava em Copacabana-então uma praia quase selvagem,quando surgiu uma viatura da polícia.
Virou um número:paciente 01662 e permaneceu internado por mais de 50 anos.
Preso, o infeliz passou o resto da vida na Juliano Moreira.
Esses eram os critérios da terapia psicanalítica aqui na terra, até surgir um anjo-na figura de uma psiquiatra chamada Dra. Nise da Silveira e uma instituição criada por ela,o"Museu da Imagem do Inconsciente".
Esses eram os critérios da terapia psicanalítica aqui na terra, até surgir um anjo-na figura de uma psiquiatra chamada Dra. Nise da Silveira e uma instituição criada por ela,o"Museu da Imagem do Inconsciente".
Dra Nise foi( 1906 — 1999) "
uma renomada médica psiquiatra brasileira, aluna de Carl Jung.Dedicou sua vida à psiquiatria e manifestou-se radicalmente contrária às formas agressivas de tratamento de sua época, tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoque, insulinoterapia e lobotomia" O louco se torna vanguardista
A partir de 1960, Bispo do Rosário passou recolher objetos do lixo e da sucata da Colônia e, em lembrança de seus tempos de Marinha, começou a produzir estandartes,faixas,objetos domésticos (colheres,pratos,escovas de dentes) e o famoso Manto da Apresentação, que iria vestir no dia do Juízo Final.
As palavras também eram importantes na obra de Bispo, que utilizava significantes e significados sem ter a menor noção do que era semiologia,nem Roland Barthes e,muito menos, Saussure.
Arte de um doente mental para o qual -achavam- não havia cura,foi comparada `a de Marcel Duchamps e estou aqui teclando e pensando em Roy Lichtenstein e seu slogan da pop art “o uso dado ao desprezado”
Porque tivemos acesso, via UERJ, a algumas peças do artista,onde ele remodelava, com grande preocupacão estética, os restos e dejetos lançados ao lixo, mergulhando no conceito de desperdício na sociedade de consumo que viria a desembocar na atual mentalidade ecológica.

Hoje, existe um museu que leva seu nome, suas obras são extremamente bem cotadas nas bolsa de artes no Brasil e exterior( Borrachas",Roda da Fortuna" e "Carrossel") e atingiu o que a gente aqui considera a glória: o centenário de seu nascimento e o conjunto de obra serviram como enredo de uma Escola de Samba em Campinas,SP, no carnaval de 2009.
Na pequena Japaratuba.terra natal,há uma estátua na entrada da cidade e o documentário "Senhor dos Labirintos",baseado no livro homônimo de Luciana Hidalgo,editado pela Rocco, em 1996 ganhou prêmio no Festival do Rio em 2010.
Um excluído da sociedade que se recusava a receber os tratamentos bárbaros de então (eletrochoques, por exemplo), transformou-se em referência da Arte Contemporânea.
*********
Video sobre expo no Itaú Cultural SP (inaugurada em maio 2022).
Clique aqui :
Nenhum comentário:
Postar um comentário