terça-feira, 7 de junho de 2022

Zbigniew Ziembinski ,o homem que transformou o teatro no Brasil

 



  Ele derrubava tudo e sapateava por cima dos cacos




Foi em 28 de dezembro de 1943.

Quando,terminada a última fala do ultimo ato, a platéia de 2205 espectadores que lotava o Theatro Municipal do Rio de Janeiro reagiu, primeiro com perplexidade, depois com espanto e finalmente com delírio à montagem de “Vestido de noiva,” de Nelson Rodrigues, com direção de Zbigniew Ziembinski e iluminação de Tomás Santa Rosa.

Era o primeiro momento revolucionário da cena brasileira e marcava o início do nosso teatro moderno que, em desespero de causa, usou refletores do Palácio do Catete, então sede da presidência da república. 
Como? A nora do presidente Getúlio Vargas era a figurinista que desenhara o vestido de noiva, usado em cena.
E quem ajudou a criar a apoteóse foi um polonês que falava português carregado e tinha um gênio terrível, do mesmo quilate da genialidade criativa.

Em junho de 2007 (baseados na remontagem histórica de 1976), “Os Satyros” e Norma Bengell, atriz e diretora (no papel de Madame Clecy, a prostituta,reeditaram no palco do Itaú Cultural a íntegra do clássico de Nelson Rodrigues, com projeções de legendas, trilha com músicas da cantora islandesa Björk e 14 atores em cena.


Chegou, viu, adorou, venceu
 

Zigbniew Marian Ziembinski, judeu polonês em fuga durante dois anos, filho do médico de uma mina de sal na cidade de Wielisczka, iniciou sua carreira nos teatros de Cracóvia e Vilnestava.

 Em 1939, depois do bombardeio de Varsóvia e iniciada blitzkrieg - a guerra-relâmpago de Adolf Hitler - exilou-se na França.
Estava programado para viver em Nova York, onde iria dirigir um grupo polonês de teatro, mas o navio que o transportava fez uma escala no Rio.
O viajante resolveu descer na Praça Mauá e tomou a direção da Avenida Rio Branco.

Flanando, chegou à Cinelândia, naquela época centro de lazer, com cinemas e teatros funcionando praticamente 24 horas.

Encantou-se com a cidade e com os cariocas- o que não é difícil acontecer aqui, dado o nosso gênio alegre -mesmo nos momentos complicados.

Aos 33 anos não falava uma palavra de português e era já era o consagrado ator e diretor do teatro europeu.
Dirigiu o Teatro Nacional de Varsóvia, era formado em Letras e diplomado pela Escola de Arte Dramática do Teatro Municipal de Cracóvia, atuando em mais de vinte papéis, entre 1927 e 1929.
Em 1931, o início da Segunda Guerra Mundial provocou o êxodo.

Certamente, o ambiente boêmio e os latin lovers da Lapa também o inspiraram. Mesmo com os entraves do idioma, logo se enturmou com as pessoas certas do meio teatral e foi convidado para dirigir “Assim é se lhe parece”, de Pirandello.

Derrubava tudo e sapateava em cima dos cacos”(Nelson Rodrigues falando sobre o diretor furioso,em plena ação)

A primeira grande montagem que dirigiu - “Vestido de Noiva” - ocupa doze maravilhosas páginas do livro que biografa Nelson Rodrigues, “Anjo pornográfico”, de Ruy Castro (Companhia das Letras, 2003).

Ilustrado com imagens feitas logo após o espetáculo, o capítulo 13 do livro é dedicado ao lendário episódio: Ziembinski decretou oito meses de ensaios, oito horas por dia, para um resultado que poderia significar a glória ou o fim dos “Comediantes”, grupo amador que estrelou a peça na edição original.

O palco do teatro foi dividido em três planos : a realidade, o passado e o delírio da personagem principal, Alaíde.

Em poucos segundos, ela passava de um tempo ao outro, de roupa de luto ao vestido de noiva.


Tomás Santa Rosa usou 132 efeitos de luz pioneiros e transgressores, criando um clima nunca visto abaixo do Equador.
Foi a glória.
E passageira, porque todos os “Comediantes” eram amadores mesmo e alguns também socialites.Terminada a apresentação, voltaram a seus afazeres normais,aos seus cocktails e chás de caridade.
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Zimba, como era chamado carinhosamente, inaugurou o papel de Diretor no teatro brasileiro, criando encenação e trabalhando direto no texto. Tinha ataques de impaciência constantes, dava pitis, mas sabia se impor.

Antes dele, era o ensaiador que distribuía papéis e administrava a movimentação em cena. O normal, na época, era ensaiar uma semana e colocar o espetáculo na rua.
Somente por isso, o nome do diretor polonês já teria ficado gravado na nossa cena artística, mas sua trajetória continuou.

Dirigiu peças no Teatro Brasileiro de Comédia e no Teatro Cacilda Becker. Em 1950, já possuía sua própria companhia .

No palco, na telinha e na telona

Antes de mudar-se para São Paulo, dirigiu em Recife “Nossa Cidade”, de Thornton Wilder (1949), “Pais e Filhos”, de Bernard Shaw, e “Esquina Perigosa”, de J. B. Priestley e, no Teatro Universitário de Pernambuco (TUP), “Além do Horizonte”, de Eugene O'Neill, e “Fim de Jornada”, de Robert Sheriff.

Ao atuar, como era alto, forte e robusto, sempre lhe davam papéis de nobres, reis, ditadores, tiranos.

Para quebrar a rotina, fez um bicheiro em “Boca de Ouro” (bicheiro polonês é ótimo), um chefe de família em "Jornada de Longo Dia para Dentro da Noite" e uma velha fofoqueira em "A Celestina". 
Trabalhou nas peças “Dorotéia", "Pega-fogo" e "O Santo e a Porca". Era pintor e fotógrafo
Foi professor na Escola de Arte Dramática de São Paulo e voltou à sua Polônia natal em 1964, para encenar peças brasileiras.
Recebeu um prêmio diferente : a Ordem do Mérito Cultural Polonês das mãos do então embaixador da Polônia no Brasil, pelo trabalho a favor da divulgação da nossa arte no exterior.
Na década de 70, ficou muito popular ao ser contratado pela Rede Globo, onde protagonizou, ao lado de Zilka Salaberry, “Em Família”.
Em 1972, voltou a fazer um papel feminino: Stanislava, em “O Bofe”.
Continuou o trabalho de ator em vários filmes da Companhia Vera Cruz - de 1953 a 1975.
A mesma disciplina que impôs ao grupo “Os Comediantes “ em 1943, aplicou aos atores da Globo, ao se tornar Diretor do Núcleo de Casos Especiais.
Em 1976, para comemorar seus 50 anos de teatro, 35 de Brasil e a direção de 94 peças encomendou a Antonio Bivar a peça “O Quarteto”, que foi seu último trabalho.
Morreu aos 70 anos, em 18 de outubro de 1978.
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Com este texto o lembramos, com saudade, e agradecemos ao destino por ter mudado a rota de sua vida, ao mesmo tempo em que mudava, para sempre, a história do Teatro no Brasil




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O Teatro Ziembinski,pequenino mas sempre com um bom espetáculo, está na

Av. Heitor Beltrão, s/nº - Tijuca-RIO-RJ
CEP: 20550-000
Tel: 2254-5399 / 2569-9071
e-mail: teatrozimba@bol.com.br
Tijuca,Rio de Janeiro

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