Há alguns anos e fora das festas natalinas, li no Jornal do Clube de Criação do Rio de Janeiro, um texto de João Bosco-na época da agência Contemporânea- em que o autor/ publicitário e gente boa -ressalta o papel do cliente no sensacional e esfuziante universo da propaganda brasileira,onde (não) circulo como observadora distante há muitas décadas.
O articulista,pessoa sensata e realista,mostrava que o cliente pode e deve ser ouvido.
Por vários motivos, até porque está pagando.
Uma opinião sob outro ângulo sempre deve ser considerada,mesmo que-depois- seja descartada.
João Bosco defendia sua tese usando o provável testemunho da vaca de presépio em Belém, para a qual o nascimento do bebê de 25 de dezembro foi um transtorno.
Inclusive, uma estrela super brilhante já tinha lhe tirado o sono durante várias noites.
Aí,ela viu a chegada do casal no burrico e quando percebeu a moça grávida e o marceneiro desempregado… gelou.
"Meu feno,pensou...meu leite..pensou..meu estábulo,pensou..".
Acabara sua privacidade.. E os outros representantes da fauna local se acharam no direito de ocupar o espaço,sem a menor cerimônia.
Nascido o nenem,as noites continuaram a ser complicadas, todo récem-nascido chora e muito e tem as mamadas, as trocas de fraldas (já existiam fraldas??).
Quando as coisas estavam entrando nos eixos, ou melhor, quando a vaca do presépio começou a se conformar com a invasão do território ( a gente sempre se conforma), chegaram 3 visitas montadas em camelos.
Um deles,aliás afrodescendente,trazia algo que fazia fumaça e era extremamente danoso ao sistema olfativo ('a vaca era alérgica'),embora com delicioso odor.
E assim segue o super criativo artigo,sugerindo que se ouçam todas as partes interessadas e- não- uma única opinião.
O fato mais importante dos últimos 2019 anos ficaria reduzido a nada, se observado do ponto de vista de uma vaca ignorante e autorreferente.
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Na vida pessoal,orientei meus filhos e procurei ajudar a incutir na cabeça da neta( e tento agir da mesma forma -é difícil paca-24 horas por dia) a atitude de observar as situações com os olhos de meus semelhantes, para melhor entendê-los e não praticar injustiças nem julgamentos precipitados.
Também tento entender o consumeirismo absurdo dessa sociedade em que você se realiza ostentando um Rollex que o pivete vai roubar ali na esquina.
Depois,fica na fila desde madrugada para comprar uma pochette francesa por milhares de reais, ou-pior- refém de uma concessionária à espera de um carrão pago em cento e tantos meses para impressionar os vizinhos, os cunhados,os colegas do trabalho.
Para segurar uma relação que se deteriora,para ganhar uma gatona (ou um gatão), vai-se o limite do cheque especial.
E vai-se o CPF para o SERASA, aí.....dançou...
Lembro o “Pequeno Príncipe” e, aproveitando a oportunidade,uma vez que o carneiro de Saint Exupéry tem meio visual de vaca,me permitam repetir as palavras aparentemente babacas -mas muito verdadeiras e lindas -que eram citadas,no passado, por cada Miss de concurso de beleza como prova de "sensibilidade' e "erudição":
"O essencial é invisível para os olhos.Só se vê bem com o coração "
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