domingo, 9 de julho de 2017

Alexander Calder


Calêndula ao sabor da brisa


Artista era  apaixonado pelo Brasil
      
Elizabeth Bishop - a poeta norte-americana -  e sua companheira Lota de Macedo Soares são figuras muito presentes na vida de Alexander (Sandy) Calder,criador dos  “móbiles”.
Lota usava um “pente-figa” feito a partir  de uma colher, presente do escultor para prender os longos cabelos negros – os mesmos que Bishop lavou carinhosamente, no poema “Shampoo”.
Em sua casa em Samambaia (Petrópolis,RJ) - ícone da arquitetura brasileira, projetada por Sergio Bernardes – duas obras do amigo ocupavam espaço especial.
Calder esteve  três vezes no Brasil e era apaixonado pelo samba. Adaptou os passos de nosso ritmo aos seus trabalhos, daí surgindo os “samba rattles”. Morou no Rio, no bairro de Botafogo e fez inúmeros amigos - em todas as classes sociais. Entre eles, o crítico de arte Mário Pedrosa que, durante 30 anos,  escreveu sobre o escultor.
“Móbiles”:assim são conhecidas as folhas de metal coloridas que balançam poeticamente tocadas pelo vento ou com a  ajuda de motores. 

Os “stabiles”, que vieram depois, são esculturas imensas que se integram harmonicamente nos locais para os quais são criadas. 
Os 30 anos do desaparecimento deste gênio, que incorporou movimento à escultura, foram marcados pela exposição “Calder no Brasil”,em 2006.

Depois de São Paulo a mostra com fotos, objetos pessoais e cerca de 50 esculturas e maquetes - inclusive a que fez para Brasília, encomenda de JK, e que  nunca foi  realizada - esteve itinerando no Rio. Mais exatamente, instalada no Paço Imperial, na Praça XV.  com o vídeo, musicado por John Cage, é imperdível.

                           A tática e a prática

Alexander (Sandy) Calder, nasceu na Filadélfia (22-7-1898). Filho de dois artistas plásticos - o pai, escultor renomado e a mãe pintora – graduou-se em Engenharia Mecânica sem racionalizar a escolha. No futuro, a intuição daria sentido à decisão da juventude.

Os pendores artísticos e  a habilidade manual  ajudaram-no  a encontrar trabalho como ilustrador da National Police Gazette. Em 1925, já  com várias telas tendo como inspiração o picadeiro, o jornal encomendou-lhe um poster para os espetáculos do circo Ringling Bros. and Barnum & Bailey.
Nas duas semanas em que passou nos traillers dos artistas, fascinou-se pela precisão e equilíbrio dos trapezistas e produziu seu próprio cirquinho. As figuras  dos ”artistas” eram  feitas de arame  e com o alicate que levava sempre no bolso.  Ele próprio servia de apresentador, animador, mestre de cerimônia e  ainda animava as marionetes, tudo acompanhado de efeitos sonoros.

Quando o “dono” partiu para uma de suas temporadas européias, desta vez na  Académie de la Grande-Chaumière, em Paris, o   Circo-Miniatura Calder  foi junto - cabia em duas simples maletas de mão.
Em 1930, diz o historiador  Wayne Craven, “o Circo Calder  tornou-se um grande sucesso no mundo artístico de Montparnasse e entre a intelectualidade francesa”. 
Uma platéia entusiasmada e seletíssima começou a freqüentar as funções: Le Corbusier, Fernand Léger, Joan Miró, Piet Mondrian, Theo van Doesburg. Jean Cocteau,  Jean Arp e muitos mais. 
 A bailarina e cantora negra norte-americana Josephine Baker, grande  sensação em Paris, serviu de modelo para vários trabalhos que exploravam  a flexibilidade dos movimentos da dança
Palmada no bebê

Visitando Piet Mondian em seu estúdio da Rue du Départ 26, Calder notou que as paredes do pintor holandês estavam tomadas por retângulos coloridos. Seu espírito criativo começou a imaginar como seria incrível se eles pudessem oscilar em várias direções, em diversas amplitudes.







Em 1931, participou da coletiva com o grupo Abstraction-Création , e casou-se com Louisa James,grande compreensiva  admiradora, que manteve duas casas : uma na França e outra nos Estados Unidos, para que o marido produzisse em paz. Tiveram duas filhas.
 Foi  em 1932 que a  exposição  “Calder e seus móbiles”, com 31 obras, abriu a galeria Vignon, em Paris.

Com o aumento do tamanho dos trabalhos, começaram a surgir os “stabiles” –esculturas em negro e  nas cores primárias (azul, vermelho, amarelo)  ancoradas ao solo, com motivos animais e vegetais que eram fixadas ao solo com as técnicas que aprendeu no curso de Engenharia.

Reunidos em assemblages, os stabiles (foto) começam a se espalhar pelo mundo: decoram a sede da UNESCO, em Paris e o estádio olímpico do México. Em 1952, recebe o Grand Prix de escultura na Bienal de Veneza.  A partir de 1974,  com criatividade ingênua, quase infantil, mostra ao mundo os “crags”:  que juntavam  aos móbiles os ângulos dos stabiles e  dos critters (stabiles negros que parecem formas humanas).
Passa a trabalhar com papel, litografias, gravuras super coloridas.
Em 1953, compra uma casa de pedra do século 17, perto de Tours, na França, para servir de imenso estúdio.
Hoje, esta mansão se transformou num albergue para estudantes de artes plásticas.
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 Calêndula ao sabor da brisa

A curadora da exposição que aconteceu no Paço Imperial, Roberta Saraiva Coutinho, contou- na época- que “já na sua primeira viagem ao País, em 1948, incentivado pelo arquiteto Henrique Mindlin e pelo crítico de arte Mário Pedrosa, que conhecera nos EUA, Calder mostrou-se um grande passista. Além de fã do candomblé.
 Levado pelos amigos brasileiros a um terreiro, ele tirou uma mulata para dançar e foi flagrado por um paparazzo. A foto foi estampada na revista de fofocas Fon-Fon, causando alvoroço na época”.
Essas e outras histórias  estão no  livro “Calder no Brasil“, organizado pela mesma Roberta Saraiva, em parceria da Pinacoteca do Estado de São Paulo com a Editora CosacNaif, 288 páginas, e foi  lançado na inauguração da mostra em São Paulo ( preço R$ 85,00).
 Calder expôs em 1954 no recém inaugurado edifício do Ministério da Educação, no Rio e participou de Bienais, em São Paulo. 

Elizabeth Bishop, em carta a Howard Moss (“Uma Arte”, Companhia das Letras, tradução de Paulo Henriques Britto - página 404) relata:
“... na véspera (7/7/1959) estiveram aqui Calder e a mulher e creio que esta visita foi melhor de todas. 
Eles já passaram uns tempos no Brasil antes e adoram sambar. Calder ficou sambando no terraço, com uma camisa de um laranja vivo, parecia uma calêndula ao sabor da brisa”.
O grande amigo do Brasil morreu em  Nova York , em 11  de  novembro   de 1976, de crise cardíaca.

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