Calêndula ao sabor da brisa
Depois de São Paulo a mostra com fotos, objetos pessoais e cerca de 50 esculturas e maquetes - inclusive a que fez para Brasília, encomenda de JK, e que nunca foi realizada - esteve itinerando no Rio. Mais exatamente, instalada no Paço Imperial, na Praça XV. com o vídeo, musicado por John Cage, é imperdível.
Alexander (Sandy) Calder, nasceu na Filadélfia (22-7-1898). Filho de dois artistas plásticos - o pai, escultor renomado e a mãe pintora – graduou-se em Engenharia Mecânica sem racionalizar a escolha. No futuro, a intuição daria sentido à decisão da juventude.
Os pendores artísticos e a habilidade manual ajudaram-no a encontrar trabalho como ilustrador da National Police Gazette. Em 1925, já com várias telas tendo como inspiração o picadeiro, o jornal encomendou-lhe um poster para os espetáculos do circo Ringling Bros. and Barnum & Bailey.
Quando o “dono” partiu para uma de suas temporadas européias, desta vez na Académie de la Grande-Chaumière, em Paris, o Circo-Miniatura Calder foi junto - cabia em duas simples maletas de mão.
Com o aumento do tamanho dos trabalhos, começaram a surgir os “stabiles” –esculturas em negro e nas cores primárias (azul, vermelho, amarelo) ancoradas ao solo, com motivos animais e vegetais que eram fixadas ao solo com as técnicas que aprendeu no curso de Engenharia.
Reunidos em assemblages, os stabiles (foto) começam a se espalhar pelo mundo: decoram a sede da UNESCO, em Paris e o estádio olímpico do México. Em 1952, recebe o Grand Prix de escultura na Bienal de Veneza. A partir de 1974, com criatividade ingênua, quase infantil, mostra ao mundo os “crags”: que juntavam aos móbiles os ângulos dos stabiles e dos critters (stabiles negros que parecem formas humanas).
Elizabeth Bishop, em carta a Howard Moss (“Uma Arte”, Companhia das Letras, tradução de Paulo Henriques Britto - página 404) relata:
Artista era apaixonado pelo Brasil
Lota
usava um “pente-figa” feito a partir de uma colher, presente do
escultor para prender os longos cabelos negros – os mesmos que Bishop
lavou carinhosamente, no poema “Shampoo”.
Em
sua casa em Samambaia (Petrópolis,RJ) - ícone da arquitetura
brasileira, projetada por Sergio Bernardes – duas obras do amigo
ocupavam espaço especial.
Calder
esteve três vezes no Brasil e era apaixonado pelo samba. Adaptou os
passos de nosso ritmo aos seus trabalhos, daí surgindo os “samba
rattles”. Morou no Rio, no bairro de Botafogo e fez inúmeros amigos - em
todas as classes sociais. Entre eles, o crítico de arte Mário Pedrosa
que, durante 30 anos, escreveu sobre o escultor.
“Móbiles”:assim
são conhecidas as folhas de metal coloridas que balançam poeticamente
tocadas pelo vento ou com a ajuda de motores.
Os “stabiles”, que vieram depois, são esculturas imensas que se integram harmonicamente nos locais para os quais são criadas.
Os “stabiles”, que vieram depois, são esculturas imensas que se integram harmonicamente nos locais para os quais são criadas.
Os
30 anos do desaparecimento deste gênio, que incorporou movimento à
escultura, foram marcados pela exposição “Calder no Brasil”,em 2006.
Depois de São Paulo a mostra com fotos, objetos pessoais e cerca de 50 esculturas e maquetes - inclusive a que fez para Brasília, encomenda de JK, e que nunca foi realizada - esteve itinerando no Rio. Mais exatamente, instalada no Paço Imperial, na Praça XV. com o vídeo, musicado por John Cage, é imperdível.
A tática e a prática
Alexander (Sandy) Calder, nasceu na Filadélfia (22-7-1898). Filho de dois artistas plásticos - o pai, escultor renomado e a mãe pintora – graduou-se em Engenharia Mecânica sem racionalizar a escolha. No futuro, a intuição daria sentido à decisão da juventude.
Os pendores artísticos e a habilidade manual ajudaram-no a encontrar trabalho como ilustrador da National Police Gazette. Em 1925, já com várias telas tendo como inspiração o picadeiro, o jornal encomendou-lhe um poster para os espetáculos do circo Ringling Bros. and Barnum & Bailey.
Nas
duas semanas em que passou nos traillers dos artistas, fascinou-se pela
precisão e equilíbrio dos trapezistas e produziu seu próprio cirquinho.
As figuras dos ”artistas” eram feitas de arame e com o alicate que
levava sempre no bolso. Ele próprio servia de apresentador, animador,
mestre de cerimônia e ainda animava as marionetes, tudo acompanhado de
efeitos sonoros.
Quando o “dono” partiu para uma de suas temporadas européias, desta vez na Académie de la Grande-Chaumière, em Paris, o Circo-Miniatura Calder foi junto - cabia em duas simples maletas de mão.
Em
1930, diz o historiador Wayne Craven, “o Circo Calder tornou-se um
grande sucesso no mundo artístico de Montparnasse e entre a
intelectualidade francesa”.
A
bailarina e cantora negra norte-americana Josephine Baker,
grande sensação em Paris, serviu de modelo para vários trabalhos que
exploravam a flexibilidade dos movimentos da dança
Palmada no bebê
Visitando
Piet Mondian em seu estúdio da Rue du Départ 26, Calder notou que as
paredes do pintor holandês estavam tomadas por retângulos coloridos. Seu
espírito criativo começou a imaginar como seria incrível se eles
pudessem oscilar em várias direções, em diversas amplitudes.
Marcel
Duchamps, ao visitar Calder no estúdio da Rue de la Colonie, ficou
fascinado pelas esculturas que se movimentavam e sugeriu o nome “móbile”, “um trocadilho em francês”, disse ele.
Em
1931, participou da coletiva com o grupo Abstraction-Création , e
casou-se com Louisa James,grande compreensiva admiradora, que manteve
duas casas : uma na França e outra nos Estados Unidos, para que o marido
produzisse em paz. Tiveram duas filhas.
Foi em 1932 que a exposição “Calder e seus móbiles”, com 31 obras, abriu a galeria Vignon, em Paris.
Com o aumento do tamanho dos trabalhos, começaram a surgir os “stabiles” –esculturas em negro e nas cores primárias (azul, vermelho, amarelo) ancoradas ao solo, com motivos animais e vegetais que eram fixadas ao solo com as técnicas que aprendeu no curso de Engenharia.
Reunidos em assemblages, os stabiles (foto) começam a se espalhar pelo mundo: decoram a sede da UNESCO, em Paris e o estádio olímpico do México. Em 1952, recebe o Grand Prix de escultura na Bienal de Veneza. A partir de 1974, com criatividade ingênua, quase infantil, mostra ao mundo os “crags”: que juntavam aos móbiles os ângulos dos stabiles e dos critters (stabiles negros que parecem formas humanas).
Passa a trabalhar com papel, litografias, gravuras super coloridas.
Em 1953, compra uma casa de pedra do século 17, perto de Tours, na França, para servir de imenso estúdio.
Hoje, esta mansão se transformou num albergue para estudantes de artes plásticas.
.
Calêndula ao sabor da brisa
A
curadora da exposição que aconteceu no Paço Imperial, Roberta Saraiva
Coutinho, contou- na época- que “já na sua primeira viagem ao País, em
1948, incentivado pelo arquiteto Henrique Mindlin e pelo crítico de arte
Mário Pedrosa, que conhecera nos EUA, Calder mostrou-se um grande
passista. Além de fã do candomblé.
Levado pelos amigos brasileiros a um terreiro, ele tirou uma mulata para dançar e foi flagrado por um paparazzo. A foto foi estampada na revista de fofocas Fon-Fon, causando alvoroço na época”.
Levado pelos amigos brasileiros a um terreiro, ele tirou uma mulata para dançar e foi flagrado por um paparazzo. A foto foi estampada na revista de fofocas Fon-Fon, causando alvoroço na época”.
Essas
e outras histórias estão no livro “Calder no Brasil“, organizado pela
mesma Roberta Saraiva, em parceria da Pinacoteca do Estado de São Paulo
com a Editora CosacNaif, 288 páginas, e foi lançado na inauguração da
mostra em São Paulo ( preço R$ 85,00).
Calder expôs em 1954 no recém inaugurado edifício do Ministério da Educação, no Rio e participou de Bienais, em São Paulo.
Elizabeth Bishop, em carta a Howard Moss (“Uma Arte”, Companhia das Letras, tradução de Paulo Henriques Britto - página 404) relata:
“... na véspera (7/7/1959) estiveram aqui Calder e a mulher e creio que esta visita foi melhor de todas.
Eles já passaram uns tempos no Brasil antes e adoram sambar. Calder ficou sambando no terraço, com uma camisa de um laranja vivo, parecia uma calêndula ao sabor da brisa”.
Eles já passaram uns tempos no Brasil antes e adoram sambar. Calder ficou sambando no terraço, com uma camisa de um laranja vivo, parecia uma calêndula ao sabor da brisa”.
O grande amigo do Brasil morreu em Nova York , em 11 de novembro de 1976, de crise cardíaca.
................................................................
Nenhum comentário:
Postar um comentário