O TEXTO DO CURADOR
O Projeto Respiração tem por objetivo criar intervenções de arte contemporânea na Fundação Eva Klabin. A idéia surgiu a partir da vontade de estabelecer outras camadas de leituras do acervo, que é basicamente de arte clássica e arqueológica, cobrindo quatro mil anos de história da arte, do Egito Antigo ao impressionismo.
Como lidar com um acervo muitas vezes engessado pela própria circunstância de sua criação, que foi a de deixar para a memória coletiva da sociedade brasileira uma coleção que é um resumo dos principais momentos da história da arte clássica, circunscrito em uma ambiência de casa-museu que reflete o gosto pessoal e os hábitos sociais de sua instituidora?
Como trazer para um espaço totalmente preenchido pelo imaginário de Eva Klabin experiências plásticas mais afeitas ao "cubo branco", como os dos museus de arte moderna e das galerias de arte?
A nossa resposta a esse desafio foi convidar artistas capazes de estabelecer outras camadas de leitura do acervo. A intenção foi declaradamente criar fricções de linguagens entre a arte consagrada do passado, incorporada ao patrimônio, e as manifestações contemporâneas.
Esses atritos são provocados não só pelo acervo ou pela história da arte, como também por outras questões específicas de uma situação de casa-museu. Essas vão desde o fato de as obras estarem expostas em um ambiente doméstico, em oposição a um ambiente tradicional de museu, até outras implicações mais sutis como a relação entre o que é pessoal e o que não é socializável, entre o espaço da intimidade de uma residência e o de um ambiente de um museu de representação coletiva.
Eva Klabin habitou e formatou esse espaço, criou o cenário para a sua existência e o transformou em museu.
Em outras palavras, por ser uma casa-museu, as obras expostas na Fundação Eva Klabin estão diretamente ligadas à história pessoal da colecionadora: seu gosto, seu olhar, sua percepção e apreensão da vida, do mundo e da história da arte. Não é um campo neutro, como nos museus, onde as obras são absorvidas pelo que são, destituídas de qualquer outra intervenção que não a da própria história da arte.
A casa-museu de Eva Klabin é um território habitado. É um território cheio de recordações, memórias, vivências, que criam um pano de fundo para as obras.
Essa circularidade de sentido que escoa por entre as obras aqui reunidas - como resultado impalpável e imaterial das relações estabelecidas por Eva Klabin - constitui o campo de proposição estética do Projeto Respiração.
Esse campo - da mesma forma que uma obra de arte - tem origem no indizível. Ou seja, as relações espaciais estabelecidas por Eva Klabin constituem um território expressivo de sua singularidade. Mesmo que não dito, esse território está presente e emana das relações que suas escolhas estabeleceram.
É esse território silencioso que a curadoria quer pôr em questão quando convida artistas que proponham uma ação na intencionalidade que rege o espaço deste museu.
Essa situação é possível, hoje, porque há uma sensibilidade nas artes plásticas capaz de atravessar o mundo imediato da visibilidade e estabelecer outras relações com o seu entorno. O objetivo é que o artista convidado utilize como rastilho estético a sua leitura dos espaços vazios - dos espaços que existem entre as coisas - e que nos permitem perceber as coisas.
É uma proposta de trabalhar com as zonas adormecidas, silenciosas e de descanso, que não são imediatamente perceptíveis, mas são o que garantem a nossa percepção do espaço.
Dessa forma o artista está criando novas relações espaciais no acervo da casa-museu de Eva Klabin, oxigenando, revitalizando e atualizando o sentido dessa coleção. Por isso: Respiração.
Marcio Doctors
Curador
O Projeto Respiração tem por objetivo criar intervenções de arte contemporânea na Fundação Eva Klabin. A idéia surgiu a partir da vontade de estabelecer outras camadas de leituras do acervo, que é basicamente de arte clássica e arqueológica, cobrindo quatro mil anos de história da arte, do Egito Antigo ao impressionismo.
Como lidar com um acervo muitas vezes engessado pela própria circunstância de sua criação, que foi a de deixar para a memória coletiva da sociedade brasileira uma coleção que é um resumo dos principais momentos da história da arte clássica, circunscrito em uma ambiência de casa-museu que reflete o gosto pessoal e os hábitos sociais de sua instituidora?
Como trazer para um espaço totalmente preenchido pelo imaginário de Eva Klabin experiências plásticas mais afeitas ao "cubo branco", como os dos museus de arte moderna e das galerias de arte?
A nossa resposta a esse desafio foi convidar artistas capazes de estabelecer outras camadas de leitura do acervo. A intenção foi declaradamente criar fricções de linguagens entre a arte consagrada do passado, incorporada ao patrimônio, e as manifestações contemporâneas.
Esses atritos são provocados não só pelo acervo ou pela história da arte, como também por outras questões específicas de uma situação de casa-museu. Essas vão desde o fato de as obras estarem expostas em um ambiente doméstico, em oposição a um ambiente tradicional de museu, até outras implicações mais sutis como a relação entre o que é pessoal e o que não é socializável, entre o espaço da intimidade de uma residência e o de um ambiente de um museu de representação coletiva.
Eva Klabin habitou e formatou esse espaço, criou o cenário para a sua existência e o transformou em museu.
Em outras palavras, por ser uma casa-museu, as obras expostas na Fundação Eva Klabin estão diretamente ligadas à história pessoal da colecionadora: seu gosto, seu olhar, sua percepção e apreensão da vida, do mundo e da história da arte. Não é um campo neutro, como nos museus, onde as obras são absorvidas pelo que são, destituídas de qualquer outra intervenção que não a da própria história da arte.
A casa-museu de Eva Klabin é um território habitado. É um território cheio de recordações, memórias, vivências, que criam um pano de fundo para as obras.
Essa circularidade de sentido que escoa por entre as obras aqui reunidas - como resultado impalpável e imaterial das relações estabelecidas por Eva Klabin - constitui o campo de proposição estética do Projeto Respiração.
Esse campo - da mesma forma que uma obra de arte - tem origem no indizível. Ou seja, as relações espaciais estabelecidas por Eva Klabin constituem um território expressivo de sua singularidade. Mesmo que não dito, esse território está presente e emana das relações que suas escolhas estabeleceram.
É esse território silencioso que a curadoria quer pôr em questão quando convida artistas que proponham uma ação na intencionalidade que rege o espaço deste museu.
Essa situação é possível, hoje, porque há uma sensibilidade nas artes plásticas capaz de atravessar o mundo imediato da visibilidade e estabelecer outras relações com o seu entorno. O objetivo é que o artista convidado utilize como rastilho estético a sua leitura dos espaços vazios - dos espaços que existem entre as coisas - e que nos permitem perceber as coisas.
É uma proposta de trabalhar com as zonas adormecidas, silenciosas e de descanso, que não são imediatamente perceptíveis, mas são o que garantem a nossa percepção do espaço.
Dessa forma o artista está criando novas relações espaciais no acervo da casa-museu de Eva Klabin, oxigenando, revitalizando e atualizando o sentido dessa coleção. Por isso: Respiração.
Marcio Doctors
Curador
Nenhum comentário:
Postar um comentário