Do moleque ao garoto
A
nobre linhagem do violão brasileiro conta com nomes como Canhoto,
Dilermando Reis, Zé Menezes, Laurindo de Almeida, Sebastião Tapajós,
Baden Powell, Rafael Rabello, Paulo Belinatti, Guinga e Yamandú Costa. E
na base destas cordas plenas de talento e originalidade, figura o nome
de Aníbal Augusto Sardinha, ou simplesmente, Garoto. É ele que serve de
referência comum à grande maioria dos músicos que se dedicam ao violão.
Em Gente humilde: vida e música de Garoto (Edições Sesc SP), o pesquisador musical Jorge Mello traça uma biografia recheada de histórias pessoais contadas pelo próprio protagonista, a partir de registros de seu diário. Com abordagem mais temática do que propriamente cronológica, Jorge narra fatos importantes da vida pessoal e profissional do multi-instrumentista que marcou a história da música brasileira.
Garoto nasceu em São Paulo, em 1915, e morreu no Rio de Janeiro, em 1954. Em seus quase 40 anos de vida e 25 de carreira, influenciou alguns dos maiores nomes das gerações posteriores. Com sua maneira de compor e interpretar o choro e o samba ao violão, deu um novo rumo à musica popular, apontando o caminho que alguns anos depois levaria à bossa nova.
Destacou-se tocando com maestria bandolim, cavaquinho, violão tenor, guitarra havaiana, guitarra portuguesa e banjo. Tocava também violino, contrabaixo, violoncelo, piano e harpa, mas só os amigos mais íntimos eram agraciados com essas apresentações.
A história da cultura brasileira está povoada de personalidades importantes cujas trajetórias precisam ser contadas. Conhecidas basicamente nos círculos restritos dos especialistas, certas figuras de proa do cenário artístico e cultural brasileiro começam agora a se tornar objetos de pesquisa histórica, publicadas sobre a forma de livros disponíveis ao grande público.
Foi o que fez Jorge Mello. Professor do Departamento de Física da UFRRJ [Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro] desde 1986, ele coordena na mesma instituição os projetos culturais Terças Musicais e Num Cantinho um Violão. Jorge é daqueles pesquisadores apaixonados pelo seu objeto. É co-autor do livro Caminhos cruzados, a vida e a música de Newton Mendonça e autor do ensaio “Brazilliance: uma experiência inovadora” para o site Músicos do Brasil: uma enciclopédia instrumental, coordenado por Maria Luiza Kfouri.
Gente humilde: vida e música de Garoto está
dividido em onze capítulos, apresentando ainda três apêndices
valiosíssimos. As primeiras páginas revelam que o contato de Aníbal
Augusto Sardinha com a música aconteceu ainda na infância, uma vez que
seu pai e seus irmãos tocavam instrumentos de corda.
Os registros do violonista em seu diário pessoal contam uma interessante passagem, ocorrida com seu irmão mais velho: “Batista tinha então um conjunto e guardava todos aqueles instrumentos lá em casa.
Quando não tinha ninguém por perto eu experimentava todos: violão, flauta, sax, bandolim, bandola, guitarra portuguesa, cavaquinho e o banjo. Eu tirava uns sons... Às vezes meu irmão me surpreendia e passava um pito, chamando-me de moleque”.
Segundo o autor, provavelmente essa é a origem do apelido Moleque do Banjo por meio do qual ele ficou conhecido no início de sua carreira, embora alguns creditem a alcunha ao fato de Garoto se apresentar tocando banjo com tão pouca idade. O fato é que, aos treze anos de idade, ele já mostrava habilidade ao tocar o instrumento e se apresentava acompanhando os irmãos em circos, bailes e cinemas.
Os registros do violonista em seu diário pessoal contam uma interessante passagem, ocorrida com seu irmão mais velho: “Batista tinha então um conjunto e guardava todos aqueles instrumentos lá em casa.
Quando não tinha ninguém por perto eu experimentava todos: violão, flauta, sax, bandolim, bandola, guitarra portuguesa, cavaquinho e o banjo. Eu tirava uns sons... Às vezes meu irmão me surpreendia e passava um pito, chamando-me de moleque”.
Segundo o autor, provavelmente essa é a origem do apelido Moleque do Banjo por meio do qual ele ficou conhecido no início de sua carreira, embora alguns creditem a alcunha ao fato de Garoto se apresentar tocando banjo com tão pouca idade. O fato é que, aos treze anos de idade, ele já mostrava habilidade ao tocar o instrumento e se apresentava acompanhando os irmãos em circos, bailes e cinemas.
Entre
São Paulo e Rio de Janeiro, Garoto trabalhou em diversas emissoras de
rádio, mas foi na Rádio Nacional que alcançou sucesso e reconhecimento.
Primeiramente, Garoto integrou uma orquestra de 36 músicos no programa Um Milhão de Melodias, dirigido por Radamés Gnatalli, e logo conquistou programa próprio em que apresentava músicas de sua autoria.
As composições que deram a Garoto maior popularidade foram São Paulo quatrocentão (em parceria com Chiquinho do Acordeon), que chegou a vender 700 mil copias pela Odeon; Duas contas, com música e letra dele; Tristezas de um violão, um solo para violão elétrico; e Gente humilde, que muitos anos depois ganhou letra de Vinícius de Moraes e Chico Buarque.
O autor recupera histórias importantes como a turnê que Garoto fez aos Estados Unidos - acompanhando Carmem Miranda e em apresentações solo. Jorge Mello ainda comprova o mérito de Garoto como precursor fundamental da bossa nova: no depoimento que deu, em 1967, ao Museu da Imagem e do Som, Tom Jobim afirmou que incluiria o compositor entre os pioneiros do movimento por se tratar de “peça importante”. Aliás, Garoto participou de inúmeros encontros festivos e musicais ao lado não somente do próprio Tom Jobim, como também de Pixinguinha, Laurindo de Almeida, Johnny Alf, Baden Powell, Billy Blanco Dorival Caymmi, Ary Barroso e Lúcio Alves.
Os três apêndices do livro formam aquele tipo de material organizado pela extrema habilidade documental do pesquisador dedicado.
O primeiro deles lista a participação de Garoto, como compositor ou instrumentista, nos discos e nos programas da Rádio Nacional. O segundo apresenta as extensas musicografia e discografia do artista. E a terceira exibe uma coleção de 26 fotografias que revelam a trajetória ímpar do músico – que vai do Moleque ao Garoto.
A morte precoce do violonista, aos 39 anos, vítima de infarto, encerrou uma carreira promissora. Ele já era um músico consagrado e se preparava para uma turnê pela Europa. A importância de Garoto para a música brasileira – que Jorge Mello resgata com sensibilidade e paixão – pode ser resumida pela alcunha que lhe foi dada pelo pesquisador Henrique Cazes. Para ele, Aníbal Augusto Sardinha não foi nada menos do que um “gênio das cordas”
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"Gente Humilde"
https://youtu.be/rdE8KdDOjis
(Quarteto em Cy)
Letra de Chico Buarque e Vinícius de Morais
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"Duas Contas"
https://youtu.be/WwbrF9cPops
(Garoto - Solo)
"Provavelmente a letra de "Duas Contas" é a única feita pelo multiinstrumentista/compositor Garoto (Aníbal Augusto Sardinha) em toda a sua carreira. Ao terminar esta composição, Garoto mostrou-a ao seu diretor na Rádio Nacional, Paulo Tapajós , preocupado com o fato de ela ter uma letra sem rima: "Teus olhos / são duas contas pequeninas / qual duas pedras preciosas / que brilham mais que o luar.."
( fonte;site Cifrantiga )
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