quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

#tbt História do Carnaval Carioca. Texto 2

 


 A festa  de rua já era chamada de "carnevalo” e assim viajou no tempo até a “Belle Epoque” - final de século 19/comecinho do século 20 - quando continuava a atrair as populações que vinham admirar carros decorados e pessoas fantasiadas.


Travestismo consentido

Nos álbuns fotográficos das famílias cariocas, no passado recente, havia pelo menos um grupo carnavalesco alegre, saindo para um banho de mar à fantasia, uma batalha de confetes ou para assitir o desfile dasSociedades e Préstitos, os avós da moderna Escola de Samba patrocinada.
Numa dessas fotos : banal, simples e corriqueira, minha mãe, ainda

solteira,de terno de tropical branco, chapéu panamá e bigodes feitos

com rolha queimada, acompanha seus três irmãos vestidos de baiana,

havaiana e melindrosa, maquiados e com unhas pintadas.num travestismo consentido e estimulado pela sociedade


Ritual
O Carnaval foi Introduzido entre nós pelos portugueses no século 17, com o nome de entrudo, festejo remanescente das festas daGrécia

antiga, das bacanais romanas, das danças macabras medievais, todas

elas depois aglutinadas e transformadas nos bailes de máscaras da

Renascença.
O Carnaval não era uma festa, mas um ritual. A data móvel de sua
celebracão é herança do momento histórico em que se decupava o

tempo em períodos de 40 dias.



A Quaresma, período que vai da Epifiânia ( Dia de
Reis) à quarta-feira de Cinzas, servia para ligar o profano ao sagrado.
O Carnaval permitia os derradeiros excessos quando a Igreja, em

seus primeiros séculos, preparava o cerne da festa de Páscoa, vinda das antigas comemorações pelo término do inverno no Hemisfério Norte.
 

Neste momento, as regras sociais eram invertidas: os senhores se

fantasiavam de escravos e, durante 5 dias, os escravos se

transformavam em senhores.
Na Idade Média, a festa se realizava nas igrejas e a missa era dita ao
contrário - começava com a Eucaristia e terminava com os Atos de
Penitência - os ricos se fantasiavam de pobres, os pobres de ricos, as
crianças se vestiam de adultos e os adultos de criança.
Origem da palavra
Com a cristianização do calendário, as festas pagãs foram

rebatizadas.
Fevereiro era o tempo de “Carne levare levamen”, quando eram

degustados pela útlima vez os pratos gordurosos, antes da entrada em

quarentena, a ”quadragésima”, palavra que evoluiu para Quaresma.


Quarenta dias de comidas “magras” até a chegada da Páscoa.

Outras

teorias remontam o termo a "carrus navalis”, carro que distribuía

vinho ao povo durante a festa de Isis, deusa egípcia adotada por

gregos e romanos.

No século 13, a festa de rua já era chamada de

"carnevalo” e assim viajou no tempo até a “Belle Epoque” - final de

século 19/comecinho do século 20 - quando continuava a atrair as

populações que vinham admirar carros decorados e pessoas

fantasiadas.
Entrudo

A palavra portuguesa "entrudo" e o galês "entroido" vieram do Latim
"introitu", que significava entrar na Quaresma e, por metonímia, o

tempo que vem antes da Quaresma. Ou seja, o Carnaval.

Mascarados, os foliões se aproveitavam do anonimato para atitudes

ilícitas e imorais. 


A Igreja em Portugal, que criou o "Jubileu das 40 horas” e decretou

leis severas em 1817, mesmo assim não conseguiu conter a violência

da festa nem o terremoto que praticamente destruíu Lisboa em 1755

e diminuiu a sanha das brincadeiras agressivas.

A festa popular

chegou por aqui durante o período colonial e se estendeu pela

monarquia, com toques de sadismo.
As pessoas atiravam umas nas outras água em limões de cera ou

saquinhos com pó, farinha, cal ou o que tivessem nas mãos.
O primeiro baile de carnaval aconteceu no Rio de Janeiro em 1840,
organizado para divertir a Corte.

Em 1846, foi criado o “Zé Pereira”,
grupo de foliões com bumbo e tambores.
A Maestrina Chiquinha Gonzaga

(foto) [inovou os festejos com seu
“Abre Alas”(1899). A partir daí, o

Carnaval passou a ter composições
especialmente elaboradas :

marcha-rancho, o samba, a

marchinha, o samba-enredo e o

frevo, além da batucada
.
Com a chegada do automóvel, o

corso - desfile de carros decorados -
levava famílias inteiras ao centro das cidades, onde as batalhas de
confete e serpentina faziam a alegria geral.

Desigualdade carnavalesca
Proibido pela violência que continha, o entrudo evoluiu para
brincadeiras mais amenas com elementos lúdicos como os citados

confete, serpentina e mais o famoso lança-perfume. Até ser proibido

pelo breve
Presidente Jânio Quadros - nove meses de governo, até renunciar em
25/8/1961 - o lança-perfume era elemento indispensável na
bolsinha/adereço de qualquer folião, mesmo mirim.
 


Mesmo ali prevalecia o desnível social:

os mais privilegiados usavam o

importado “Rodo Metálico”,(foto) o

povão mais simples ia de “Colibri”, em

sua embalagem de vidro.
Totalmente permitido e até incentivado

como o travestismo do album de fotos

familiar, o “lança” era encontrado nas

matinês dos clubes infantis e aspirado nos bailes de gala.
Crepes, brioches e croissants
Na véspera do dia em que

começava a proibição de

consumir carne e
gorduras durante a Quaresma

(terça-feira gorda), as pessoas

usavam o que havia restado de

gordura em casa para festejar,

consumindo frituras e pães super calóricos.

Neste tempo do peixe contra a

carne e do comedimento contra

os excessos, o consumo de ovos

era igualmente interditado.

Assim, surgiu a crepe –
panqueca, aqui no Brasil - feita de farinha e leite.
Nos países anglofônicos festeja-se o “Pancake Tuesday”, nos

francofônicos o
“Mardi Gras”, que veio a dar nome ao festejo popular mais

importante deNova Orléans.


Malhação do Judas e Rei Momo

A partir do século XI, um boneco encarnando o Rei do Carnaval -


nosso Rei Momo - fazia parte dos desfiles, sendo queimado pelos

habitantes das cidades ao final das folias.
Atualmente, estas manifestações ainda sobrevivem e, no Rio de

Janeiro, a alma alegre do povo chama este boneco de Judas. A cada

sábado de Aleluia, ao meio dia em ponto, um " Judas" é "malhado.

Com o correr dos tempos,as tradições que a gente encontrava nas 

fotos de album de família foram se formando,se firmando e 

acabaram por transformar o Carnaval (principalmente no Brasil)na festa popular mais diversificada e culturalmente rica do mundo.

**************************************  

Nenhum comentário:

a seguir> As avós da Plaza de Mayo. em elaboração

  Avós da Praça de Maio encontram neto 138, sequestrado pela ditadura argentina  Na home do UOL hoje https://operamundi.uol.com.br/direitos-...

Textos mais visitados