A festa de rua já era chamada de "carnevalo” e assim viajou no tempo até a “Belle Epoque” - final de século 19/comecinho do século 20 - quando continuava a atrair as populações que vinham admirar carros decorados e pessoas fantasiadas.
Travestismo consentido
Nos álbuns fotográficos das famílias cariocas, no passado recente, havia pelo menos um grupo carnavalesco alegre, saindo para um banho de mar à fantasia, uma batalha de confetes ou para assitir o desfile dasSociedades e Préstitos, os avós da moderna Escola de Samba patrocinada.
Numa dessas fotos : banal, simples e corriqueira, minha mãe, ainda
solteira,de terno de tropical branco, chapéu panamá e bigodes feitos
com rolha queimada, acompanha seus três irmãos vestidos de baiana,
havaiana e melindrosa, maquiados e com unhas pintadas.num travestismo consentido e estimulado pela sociedade
Ritual
O Carnaval foi Introduzido entre nós pelos portugueses no século 17, com o nome de entrudo, festejo remanescente das festas daGrécia
antiga, das bacanais romanas, das danças macabras medievais, todas
elas depois aglutinadas e transformadas nos bailes de máscaras da
Renascença.
O Carnaval não era uma festa, mas um ritual. A data móvel de sua
celebracão é herança do momento histórico em que se decupava o
tempo em períodos de 40 dias.
A Quaresma, período que vai da Epifiânia ( Dia de
Reis) à quarta-feira de Cinzas, servia para ligar o profano ao sagrado.
O Carnaval permitia os derradeiros excessos quando a Igreja, em
seus primeiros séculos, preparava o cerne da festa de Páscoa, vinda das antigas comemorações pelo término do inverno no Hemisfério Norte.
Neste momento, as regras sociais eram invertidas: os senhores se
fantasiavam de escravos e, durante 5 dias, os escravos se
transformavam em senhores.
Origem da palavra
Com a cristianização do calendário, as festas pagãs foram
rebatizadas.
Fevereiro era o tempo de “Carne levare levamen”, quando eram
degustados pela útlima vez os pratos gordurosos, antes da entrada em
quarentena, a ”quadragésima”, palavra que evoluiu para Quaresma.
Quarenta dias de comidas “magras” até a chegada da Páscoa.
Outras
teorias remontam o termo a "carrus navalis”, carro que distribuía
vinho ao povo durante a festa de Isis, deusa egípcia adotada por
gregos e romanos.
No século 13, a festa de rua já era chamada de
"carnevalo” e assim viajou no tempo até a “Belle Epoque” - final de
século 19/comecinho do século 20 - quando continuava a atrair as
populações que vinham admirar carros decorados e pessoas
fantasiadas.
Entrudo
A palavra portuguesa "entrudo" e o galês "entroido" vieram do Latim
"introitu", que significava entrar na Quaresma e, por metonímia, o
tempo que vem antes da Quaresma. Ou seja, o Carnaval.
Mascarados, os foliões se aproveitavam do anonimato para atitudes
ilícitas e imorais.
A Igreja em Portugal, que criou o "Jubileu das 40 horas” e decretou
leis severas em 1817, mesmo assim não conseguiu conter a violência
da festa nem o terremoto que praticamente destruíu Lisboa em 1755
e diminuiu a sanha das brincadeiras agressivas.
A festa popular
chegou por aqui durante o período colonial e se estendeu pela
monarquia, com toques de sadismo.
As pessoas atiravam umas nas outras água em limões de cera ou
saquinhos com pó, farinha, cal ou o que tivessem nas mãos.
O primeiro baile de carnaval aconteceu no Rio de Janeiro em 1840,
organizado para divertir a Corte.
Em 1846, foi criado o “Zé Pereira”,
grupo de foliões com bumbo e tambores.
.
Com a chegada do automóvel, o
corso - desfile de carros decorados -
levava famílias inteiras ao centro das cidades, onde as batalhas de
confete e serpentina faziam a alegria geral.
Desigualdade carnavalesca
Proibido pela violência que continha, o entrudo evoluiu para
brincadeiras mais amenas com elementos lúdicos como os citados
confete, serpentina e mais o famoso lança-perfume. Até ser proibido
pelo breve
Presidente Jânio Quadros - nove meses de governo, até renunciar em
25/8/1961 - o lança-perfume era elemento indispensável na
bolsinha/adereço de qualquer folião, mesmo mirim.
os mais privilegiados usavam o
importado “Rodo Metálico”,(foto) o
povão mais simples ia de “Colibri”, em
sua embalagem de vidro.
Totalmente permitido e até incentivado
como o travestismo do album de fotos
familiar, o “lança” era encontrado nas
matinês dos clubes infantis e aspirado nos bailes de gala.
Crepes, brioches e croissants
Na véspera do dia em que
começava a proibição de
consumir carne e
gorduras durante a Quaresma
(terça-feira gorda), as pessoas
usavam o que havia restado de
gordura em casa para festejar,
consumindo frituras e pães super calóricos.
Neste tempo do peixe contra a
carne e do comedimento contra
os excessos, o consumo de ovos
era igualmente interditado.
Assim, surgiu a crepe –
panqueca, aqui no Brasil - feita de farinha e leite.
Nos países anglofônicos festeja-se o “Pancake Tuesday”, nos
francofônicos o
“Mardi Gras”, que veio a dar nome ao festejo popular mais
importante deNova Orléans.
Malhação do Judas e Rei Momo
A partir do século XI, um boneco encarnando o Rei do Carnaval -
nosso Rei Momo - fazia parte dos desfiles, sendo queimado pelos
habitantes das cidades ao final das folias.
Atualmente, estas manifestações ainda sobrevivem e, no Rio de
Janeiro, a alma alegre do povo chama este boneco de Judas. A cada
sábado de Aleluia, ao meio dia em ponto, um " Judas" é "malhado.
Com o correr dos tempos,as tradições que a gente encontrava nas
fotos de album de família foram se formando,se firmando e
acabaram por transformar o Carnaval (principalmente no Brasil)na festa popular mais diversificada e culturalmente rica do mundo.
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