“ Mandaram avisar que dona Thereza já foi para a eternidade”
recado dado por Francisca, empregada na casa dos meus sogros.
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E os tempos eram muito bicudos!!
Não havia Túnel Rebouças, mas eu sabia que a Banda de Ipanema saía no dia seguinte, um sábado. Talvez ainda desse pra ir, apesar do barrigão.
Freqüentávamos muito ali o pedaço, Ipanema, pra tomar um sorvete no Morais e comer pizza numa palhoça que ficava perto de onde hoje é o Obelisco.
A “viagem” era no Dauphine cor lilás que eu trouxe como dote.
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Sexta feira, oito e meia da manhã e fui à feira.
Sempre amei uma feira, adorava contato com a vizinhança descontraída nesses eventos,os feirantes.
que conhecia pelo nome.
Em retribuição, indicavam onde estava naquela semana a barraquinha do angu do Gomes, que consumi em quantidades industriais durante a gravidez.
Naquele momento, a historia do mundo era pré-supermercados (oh,yes) e a gente comprava de tudo na feira - arroz, sapatos, feijão, torresmo, material escolar, roupas, frutas, carnes.
Parecia até as atuais feiras do 5ème, na Place Maubert, onde podem-se comprar os mesmos quesitos.
Aí deu-se a melódia - PUFFFFFFFF, estourou a bolsa e atravessei a rua com passinho de gueixa, na maior saia justa, ou melhor, na maior bata justa.
Leila Diniz ainda não tinha mostrado o barrigão e as grávidas usavam umas batas ridículas,umas saias pretas e uns macacões ridículos.
Eu ia pra Faculdade vestida assim, para escândalo dos Mestres- que achavam que lugar de mulher era na cozinha.
Devo ter sido a 1ª universitária grávida da Faculdade Nacional de Filosofia.
A vizinha de porta, dona Wilza, acudiu.
Era casada com médico e me acompanhou até um táxi que voou pra maternidade.
Na minha ingenuidade juvenil e com desejo de agradar a sogra , abandonei o1º e único ginecologista - mais que isso, um amigo e protetor - e fui bater na clínica dum Dr que mal conhecia.
Era estranho porque quando ia ao pré-natal no consultório dele (super incipiente), apenas me tiravam a pressão, receitavam Natalyns e "até mês que vem,minha filha".
Nunca fizeram um exame ginecológico e as pacientes eram todas magrinhas e tristes.....
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Ao ser chamado a comparecer, o pai da criança - que trabalhava e muito!, no momento, ponderou que viria mais tarde, porque "1º filho custa pra nascer" e tinha razão: foram 14 horas e meia de trabalho de parto pesado.
Nasceu um nenenzinho tão pequenininho que, acho, pesava menos que meus brincos de hippie.
Na “clínica”, que sacamos que era aparelhada só,no máximo, pra micro-cesarianas, não havia hotelaria, nem assistência de urgência e nem mesmo um simples balão de oxigênio de que, num certo momento dificílimo, eu e meu filho acabamos precisando.
Como disse Francisca, premonitória, quase fomos pra eternidade, mas a marcada para morrer foi outra pobre ingênua no quarto ao lado, coitadinha.
Deu à luz um menino, que me coube amamentar. Que foi feito dele?
Do meu, foi feito um belo ser humano, de quem tenho grande orgulho e que tem dado provas constantes que todo aquele circo de horrores valeu a pena ser vivido.
Felices cumpleaños mañana, André, mi hijito.
Besos de la
Madre
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