"O que melhora o atendimento é o contato afetivo de uma pessoa com outra. O que cura é a alegria, o que cura é a falta de preconceito".
Nise Magalhães da Silveira
(1905-1999)
Eternamente equivocado e ignorante do que se passa à sua volta,Bolsonaro veta inscrição da psiquiatra Nise da Silveira no 'Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria'.
Herói da pátria,para ele, foi Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel do Exército condenado em 2008 pela Justiça brasileira como torturador durante a Ditadura Militar ...
Homenageada pelo Senado, a médica alagoana é mundialmente reconhecida pelo uso da arte e dos animais no tratamento psiquiátrico.
Bolsonaro alegou "não ser possível avaliar a envergadura dos feitos'.
Que triste um país que não reverencia seus filhos mais nobres!
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Nenhuma marca externa permitia distinguir a equipe de supervisão dos pacientes. Era um pequeno território de liberdade, como Nise gostava de dizer.
Morreu ontem a psiquiatra Nise da Silveira, 94, vítima de insuficiência respiratória aguda, depois de ter sido hospitalizada há cerca de um mês com pneumonia.
Nise estava na CTI do Hospital Miguel Couto, na Gávea. A morte ocorreu às 14h55 e seu corpo será velado hoje no cemitério São João Batista, em Botafogo. O enterro está marcado para as 15h.
LEGADO
Primeira mulher brasileira a se formar em medicina, a psiquiatra Nise da Silveira se recusou a usar eletrochoque para tratar esquizofrênicos e criou uma seção de terapia ocupacional em um hospital do Rio de Janeiro. Mais tarde, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, um centro de pesquisa para preservar as obras desses pacientes como documentos que podem melhorar a compreensão do mundo interior dos esquizofrênicos.
O início da psiquiatria
Nascida no início do século 20 em Maceió, no nordeste do Brasil, Nise da Silveira foi uma das primeiras brasileiras a se formar em medicina em 1926, a única mulher em uma turma de 120 homens na Faculdade de Salvador da Bahia.
Na década de 1930, especializou-se em psiquiatria e, em 1933, passou num concurso público e ingressou na antiga Assistência de Profilaxia Mental do Rio de Janeiro.
Foi na Faculdade que encontrou seu futuro marido, o sanitarista Mário Magalhães da Silveira. O casal optou por não ter filhos para se dedicar inteiramente à medicina.
Leia mais em: https://saude.abril.com.br/coluna/tunel-do-tempo/voce-precisa-conhecer-a-historia-de-nise-da-silveira/
Em 1936, viu sua carreira interrompida.Foi denunciada por posse de livros de Karl Marx por uma enfermeira. Vale lembrar que era tempo de “Estado Novo”, a ditadura do presidente Getúlio Vargas, que declarou o Partido Comunista ilegal no Brasil –, e Nise passou um ano e meio na prisão.
Ao sair, não pôde retomar seu posto. Só em 1944, oito anos depois, ela pode voltar a trabalhar, desta vez no Centro Psiquiátrico Nacional do Rio de Janeiro, conhecido como Hospital Dom Pedro II, em um subúrbio pobre da cidade, que tinha 2.000 esquizofrênicos.
Rebelde
Ao retornar, descobriu com horror, os novos métodos terapêuticos vigentes, como eletrochoque,choque insulínico e lobotomia, que apresentavam riscos de sequelas no cérebro dos pacientes. Nise se recusou a adotar esses tratamentos, que considerava uma forma de violência.
Durante todos esses anos afastados, vários tratamentos e novas drogas entraram em voga na psiquiatria. O português Egaz Muniz, que ganhou o Prêmio Nobel, havia inventado a lobotomia.
Durante sua experiência como prisioneira, ela pôde ver como a ausência de qualquer atividade favorecia a ruína mental dos prisioneiros.
Por outro lado, os pacientes também viviam como prisioneiros em hospitais psiquiátricos, afastados de suas famílias e da sociedade.
Em 1946, conseguiu montar uma seção de terapia ocupacional que oferecia oficinas de música, artesanato, teatro, jardinagem, modelagem e pintura.
Era, ela disse, uma maneira não violenta e mais humana de lidar com esquizofrênicos. Muito rapidamente, a pintura e a modelagem se destacaram como formas de acesso ao mundo interior dessas pessoas.
Por meio da pintura, o esquizofrênico, que muitas vezes é uma pessoa de boca fechada e difícil de alcançar, permitiu que suas emoções mais profundas viessem à tona e, dessa forma, Nise acreditava poder entender um pouco de seu mundo interior.
Além disso, os trabalhos manuais dos esquizofrênicos o impressionaram pela quantidade e qualidade.
O Museu de Imagens do Inconsciente
Nise da Silveira passou, então, a estudar essas imagens e a coletá-las como material de pesquisa para tentar entender a doença.
Em 1952, fundou no Rio de Janeiro o Museu de Imagens do inconsciente: um centro de pesquisa para preservar as obras de pacientes, como documentos que podem melhorar a compreensão do mundo interior dos esquizofrênicos.
( eu, Thereza,no final da década de 80,trabalhei na produção de lindo projeto do psicanalista e fotógrafo Hugo Denizart ,exposto nas estações do metrô aqui do Rio, com obras destes pacientes)
Poucos anos depois, em 1956, ela montou um projeto revolucionário para a época, a Casa das Palmeiras, uma clínica de reabilitação para pacientes psiquiátricos graves onde os pacientes eram considerados simplesmente "visitantes,vindos de fora".
Nenhuma marca externa permitia distinguir a equipe de supervisão dos pacientes. Era um pequeno território de liberdade, como Nise gostava de dizer.
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As mandalas de Jung
"Ao identificar um padrão de imagens circulares nos trabalhos dos clientes ou que tendiam ao círculo, associou-as às mandalas referidas por C. G. Jung em sua obra".
Segue-se, adiante, primoroso site do Itaú Cultural sobre o projeto Ocupação Nise da Silveira. As mandalas e relação com C G Jung.
Gostaria que você, meu/minha leitor/a, desfrutasse de maneira completa da experiência de ler a troca de cartas manuscritas entre Dra Nise e Jung.
E o posterior convite (aceito, claro)para participação no Congresso Interncional de Psiquiatria em Zurique (1957) e a Exposição " A arte e a Esquizofrenia"
Clique no link abaixo:
https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/nise-da-silveira/jung/
Dias finais
Depois de longa vida,inteiramente dedicada a seus semelhantes, no dia 31 de outubro de 1999, a Folha de São Paulo e toda a mídia nacional e internacional publicou seguinte texto:
Morreu ontem a psiquiatra Nise da Silveira, 94, vítima de insuficiência respiratória aguda, depois de ter sido hospitalizada há cerca de um mês com pneumonia.
Nise estava na CTI do Hospital Miguel Couto, na Gávea. A morte ocorreu às 14h55 e seu corpo será velado hoje no cemitério São João Batista, em Botafogo. O enterro está marcado para as 15h.
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LEGADO
o "Núcleo de Atividades Expressivas Nise da Silveira", do Hospital Psiquiátrico São Pedro (Porto Alegre, Rio Grande do Sul)
o "Museo Attivo delle Forme Inconsapevoli" (hoje renomeado "Museattivo Claudio Costa", Genova, Itália)
O antigo "Centro Psiquiátrico Nacional" do Rio de Janeiro recebeu em sua homenagem o nome de "Instituto Municipal Nise da Silveira".
Em 2015, foi incluída na lista das Grandes mulheres que marcaram a história do Rio".
Obras publicadas
- SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra. Rio de Janeiro: José Álvaro Ed. 1968.
- SILVEIRA, Nise da. Imagens do inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.
- SILVEIRA, Nise da. Casa das Palmeiras. A emoção de lidar. Uma experiência em psiquiatria. Rio de Janeiro: Alhambra. 1986.
- SILVEIRA, Nise da. O mundo das imagens. São Paulo: Ática, 1992.
- SILVEIRA, Nise da. Nise da Silveira. Brasil, COGEAE/PUC-SP 1992.
- SILVEIRA, Nise da. Cartas a Spinoza. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1995.
- SILVEIRA, Nise da. Gatos - A Emoção de Lidar. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 1998.
TRIBUTO
- "Ordem de Rio Branco" no Grau de Oficial, pelo Ministério das Relações Exteriores (1987)
- "Prêmio Ciccillo Matarazzo Personalidade do Ano de 1992", da Associação Brasileira de Críticos de Arte
- "Medalha Chico Mendes", do grupo Tortura Nunca Mais (1993)
- "Ordem Nacional do Mérito Educativo", pelo Ministério da Educação e do Desporto (1993)
* 2016 -Filme completo : Nise-o coração da loucura
Gloria Pires como a médica .
Este filme, fruto de 13 anos de pesquisa, ganhou o Grand Prix do Festival de Tóquio e Gloria recebeu prêmio de Melhor Atriz
*Site "Contando Alagoas"
*Leia mais em: https://saude.abril.com.br/coluna/tunel-do-tempo/voce-precisa-conhecer-a-historia-de-nise-da-silveira/
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