O pioneiro da alta costura no Brasil |
São Paulo,abril de 2022:
Em cartaz no Teatro Eva Herz às quartas e quintas, às 20h, a peça Maria Thereza e Dener traz sua história com o amigo e estilista Dener Pamplona de Abreu (1937-1978), ícone da alta costura brasileira e que colocou fez da primeira dama um marco de beleza e elegância na esfera internacional (divulgação).
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'Na montanha-russa que marcaria a sua vida, aos 26 anos a primeira-dama Maria Thereza salta subitamente ao centro da cena social, exercendo fascínio e marcando época por sua beleza. Orientada pelo costureiro Dener, que vai ensiná-la a descobrir o próprio estilo, era apontada pela mídia nacional e internacional como uma das primeiras-damas mais belas do mundo' . (matéria do jornal Estado de Minas)
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Madrugada de um dia de abril de 1964.
O estilista Dener Pamplona de Abreu, responsável pelo visual da Primeira Dama MariaTereza, esposa do Presidente Jango Goulart, foi acordado pelo mordomo Pierre (Pedro Vila) que informou: “os tanques estão na rua, Dener. Parece que a revolução começou”.
Desde o dia 31 de março (na verdade, o golpe foi em 1º de abril), ele era muito assediado pela imprensa em busca de notícias, por estar próximo do poder em Brasília.
Logo se lembrou da praça em Pequim onde “todo mundo se vestia igualzinho” e imaginou as socialites da época “vestidas de macacão azul, colocando rótulos em pacotes de goiabada numa fábrica de subúrbio”.
A primeira preocupação foi tentar contato com o Palácio do Planalto e falar com a primeira dama, para que estivesse elegante na hora da derrota.
E pensou: “ e se Maria Thereza, que deveria estar nervosa, não soubesse escolher o vestido certo para um momento desses? Afinal, em matéria de deposição, é raríssima uma segunda oportunidade”.
Outra história famosa aconteceu em 1972, na visita forçada feita a um engenho de cana em Ceará-Mirim, Rio Grande do Norte, a convite de um amigo candidato a prefeito da cidade, conhecido como Rapadura.
Atendendo a pedido da irmã /cliente do político, Dener - seletivo, exigente e que não suportava vulgaridade - subiu ao palanque e tentou fazer um discurso.
Muito assustado com a proximidade do povão e sem saber o que dizer, usou seu famoso jargão e mandou: “Rapadura é um luxo’.
A oposição (ou seja, a ditadura militar vigente) publicou um manifesto com versos maldosos, fazendo referência à sexualidade do costureiro e acusou “Rapadura” de financiar a presença de um “inimigo do regime” no palanque e tentou confiscar seus bens.
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Madrugada de um dia de abril de 1964.
O estilista Dener Pamplona de Abreu, responsável pelo visual da Primeira Dama MariaTereza, esposa do Presidente Jango Goulart, foi acordado pelo mordomo Pierre (Pedro Vila) que informou: “os tanques estão na rua, Dener. Parece que a revolução começou”.
Desde o dia 31 de março (na verdade, o golpe foi em 1º de abril), ele era muito assediado pela imprensa em busca de notícias, por estar próximo do poder em Brasília.
Logo se lembrou da praça em Pequim onde “todo mundo se vestia igualzinho” e imaginou as socialites da época “vestidas de macacão azul, colocando rótulos em pacotes de goiabada numa fábrica de subúrbio”.
A primeira preocupação foi tentar contato com o Palácio do Planalto e falar com a primeira dama, para que estivesse elegante na hora da derrota.
E pensou: “ e se Maria Thereza, que deveria estar nervosa, não soubesse escolher o vestido certo para um momento desses? Afinal, em matéria de deposição, é raríssima uma segunda oportunidade”.
Outra história famosa aconteceu em 1972, na visita forçada feita a um engenho de cana em Ceará-Mirim, Rio Grande do Norte, a convite de um amigo candidato a prefeito da cidade, conhecido como Rapadura.
Atendendo a pedido da irmã /cliente do político, Dener - seletivo, exigente e que não suportava vulgaridade - subiu ao palanque e tentou fazer um discurso.
Muito assustado com a proximidade do povão e sem saber o que dizer, usou seu famoso jargão e mandou: “Rapadura é um luxo’.
A oposição (ou seja, a ditadura militar vigente) publicou um manifesto com versos maldosos, fazendo referência à sexualidade do costureiro e acusou “Rapadura” de financiar a presença de um “inimigo do regime” no palanque e tentou confiscar seus bens.
(Ai, que saudade dos tempos em que candidato era processado por gastar seu próprio dinheiro na campanha! )
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Retocador de Deus
Dener Pamplona de Abreu nasceu em 13 de agosto de 1937 em Belém, Pará e foi um dos precursores da alta costura brasileira.
Fazia sua moda para ser usada em país tropical, levando em conta o físico, a idade e o gosto pessoal da cliente.
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Retocador de Deus
Dener Pamplona de Abreu nasceu em 13 de agosto de 1937 em Belém, Pará e foi um dos precursores da alta costura brasileira.
Fazia sua moda para ser usada em país tropical, levando em conta o físico, a idade e o gosto pessoal da cliente.
Admirador de Balenciaga, seus croquis eram de estilo clássico, apesar de também usar e abusar de detalhes suntuosos nos vestidos de festa e nas noivas.
Foi o pioneiro e uma espécie de “pai” da primeira geração de estilistas brasileiros: Guilherme Guimarães e Clodovil Hernandez , Markito e Ney Galvão.
Teve como “herdeiros” na fama e na sensibilidade Georges Henri, Jose Augusto Bicalho, Marilia Valls, Mauro Taubman, Simon Azulay, Maria Cândida Sarmento, Luiz de Freitas e Gregório Faganello,entre outros.
De acordo com a lenda,começou a carreira na "Casa Canadá", templo da moda na época, onde as modelos desfilavam para clientes- com hora marcada - vestidos exclusivos.
O primeiro ateliê foi aberto aos 21 anos, na Praça da República, São Paulo.
No ano seguinte, 1959, ganhou a Agulha de Ouro e Agulha de Platina, concorrendo-entre outros - com Christian Dior.
Percebendo o vácuo no mercado brasileiro da moda, foi o primeiro a usar a força da mídia na divulgação de seu trabalho e, em 1968, lançou a primeira grife nacional, a empresa "Dener Difusão Industrial de Moda".
A marca “Dener” foi licenciada em 22 categorias, inclusive uma linha de lajotas de cerâmica.
De acordo com a lenda,começou a carreira na "Casa Canadá", templo da moda na época, onde as modelos desfilavam para clientes- com hora marcada - vestidos exclusivos.
O primeiro ateliê foi aberto aos 21 anos, na Praça da República, São Paulo.
No ano seguinte, 1959, ganhou a Agulha de Ouro e Agulha de Platina, concorrendo-entre outros - com Christian Dior.
Percebendo o vácuo no mercado brasileiro da moda, foi o primeiro a usar a força da mídia na divulgação de seu trabalho e, em 1968, lançou a primeira grife nacional, a empresa "Dener Difusão Industrial de Moda".
A marca “Dener” foi licenciada em 22 categorias, inclusive uma linha de lajotas de cerâmica.
Deise Sabag, editora de moda,que organizou um site sobre o estilista, conta que segundo o jornalista David Nasser “pálido, frágil, de gestos delicados e atitudes excêntricas, o costureiro despertou raiva e paixão'.
Dener na bem dosada arrogância de retocador de Deus, embelezava as mulheres e enfurecia os homens. Os homens, principalmente os recalcados, o odiavam por tudo o que o genial figurinista representava na frescura de sua masculinidade.
Costureiro da Corte e ídolo popular
Como havia cuidado do guarda roupa de dona Sarah, mulher de Juscelino Kubitschek, ficou responsável pelas roupas e produção da imagem de dona Maria Thereza Goulart, mulher de Jango.
Com o apoio da revista Manchete, da Rhodia Tecidos e do Instituto Brasileiro do Café participou do lançamento da coleção Brazilian Look, com mais de cem modelos desfilados na Europa.
Em 1964, recebeu a Palma de Ouro no Festival Internacional da Moda, em Las Vegas, com um modelo rebordado com a mais popular de nossas pedras preciosas, a água marinha.
Dener na bem dosada arrogância de retocador de Deus, embelezava as mulheres e enfurecia os homens. Os homens, principalmente os recalcados, o odiavam por tudo o que o genial figurinista representava na frescura de sua masculinidade.
Costureiro da Corte e ídolo popular
Como havia cuidado do guarda roupa de dona Sarah, mulher de Juscelino Kubitschek, ficou responsável pelas roupas e produção da imagem de dona Maria Thereza Goulart, mulher de Jango.
Com o apoio da revista Manchete, da Rhodia Tecidos e do Instituto Brasileiro do Café participou do lançamento da coleção Brazilian Look, com mais de cem modelos desfilados na Europa.
Em 1964, recebeu a Palma de Ouro no Festival Internacional da Moda, em Las Vegas, com um modelo rebordado com a mais popular de nossas pedras preciosas, a água marinha.
Em 1965 casou-se com uma de suas manequins, Maria Stela Splendore, com quem teve dois filhos: Frederico Augusto e Maria Leopoldina.
Em 1970,ano do fim do casamento com Maria Stela, Dener se torna personalidade nacional pela participação como jurado no programa de calouros campeão de audiência de Flávio Cavalcanti.
Em 1970,ano do fim do casamento com Maria Stela, Dener se torna personalidade nacional pela participação como jurado no programa de calouros campeão de audiência de Flávio Cavalcanti.
Mudança do ateliê para a Alameda Jaú.
Em 1972 ,lançou o livro autobiográfico Dener, o Luxo e um manual, Curso Básico de Corte e Costura.
No ano seguinte, com outros profissionais da área, traçou as bases da Associação da Moda Brasileira, com objetivo de “evitar a evasão de divisas”.
O novo casamento com a sociallite Vera Helena Pires de Oliveira Carvalho veio junto com nova mudança de endereço do ateliê, que foi para a Rua Groenlândia.
Desativado o ateliê, separado de Vera Helena, recebia em casa as clientes fiéis de alta-costura e, para as que sofriam dificuldades financeiras, reformava as roupas para que parecessem novas.
Embora doente e deprimido, lançou em 1977 uma coleção, inspirada no filme ‘A Viúva Alegre’.
Em 1972 ,lançou o livro autobiográfico Dener, o Luxo e um manual, Curso Básico de Corte e Costura.
No ano seguinte, com outros profissionais da área, traçou as bases da Associação da Moda Brasileira, com objetivo de “evitar a evasão de divisas”.
O novo casamento com a sociallite Vera Helena Pires de Oliveira Carvalho veio junto com nova mudança de endereço do ateliê, que foi para a Rua Groenlândia.
Desativado o ateliê, separado de Vera Helena, recebia em casa as clientes fiéis de alta-costura e, para as que sofriam dificuldades financeiras, reformava as roupas para que parecessem novas.
Embora doente e deprimido, lançou em 1977 uma coleção, inspirada no filme ‘A Viúva Alegre’.
9 de novembro de 1978 - o estilista morre em São Paulo aos 41 anos, vitimado por cirrose hepática. Foi enterrado no túmulo da amiga e cliente Alik Kostakis.
Sobre a vida de Dener foram publicados uma autobiografia pela Editora Landes, em 1972, “Bordado da Fama" por Carlos Doria, Editora SENAC, 1998 e uma nova biografia por Simone Esmanhoto pela Cosac &Naif foi lançada em 2007.
Se ainda entre a gente, o precursor,empreendedor e visionário estaria com quase 85 anos, mas os rastros de sua passagem breve pela vida continuam bem nítidos.
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Sobre a vida de Dener foram publicados uma autobiografia pela Editora Landes, em 1972, “Bordado da Fama" por Carlos Doria, Editora SENAC, 1998 e uma nova biografia por Simone Esmanhoto pela Cosac &Naif foi lançada em 2007.
Se ainda entre a gente, o precursor,empreendedor e visionário estaria com quase 85 anos, mas os rastros de sua passagem breve pela vida continuam bem nítidos.
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