quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Adrienne Rich

     Tributo à coerência   

2019 é o ano em que Adrienne Rich.poeta,ensaísta e ativista das causas feministas completaria seus noventa anos.
Aos 82,.morreu  em casa, na cidade de Santa Cruz,vitima de complicações da artrite reumatoide, doença da qual sofria há muito tempo.
Considerada das mais lidas poetas norte americanas da segunda metade do século XX ,estendeu a rede que lhe concedia uma biografia de intelectual engajada para tentar proteger os marginalizados e oprimidos, sem distinçaõ e usando a solidariedade como força propulsora.
Participou,por exemplo, do movimento Jewish Voice for Peace (Vozes Judaicas a Favor da Paz) que, nos Estados Unidos, se coloca contra a ocupação dos territórios palestinos.
“Com quem acreditas estar lançada a tua sina? De onde vem a tua força?
Adrienne Cécile Rich nasceu em em 16 de maio de 1929, em Baltimore,Maryland,a mais velha das duas filhas do Dr. Arnold Rich,medico e professor de patologia da Johns Hopkins University e de Helen Jones Rich,talentosa compositora e pianista que preferiu desistir da carreira para se dedicar a formar uma família.
A menina cresceu em meio à presença intelectual do pai e aos tensos conflitos religiosos sem palavras (são os piores) entre o judaísmo paterno e a herança cultural sulista da mãe protestante,tudo marcado pelo forte desejo de aprovação paterna (o mais sofrido dos desejos de aprovação..)
E é consenso que não houve uma intelectual contemporânea tão completa com presença em tantas areas do conhecimento como Adrienne que,durante décadas,  militou em areas diversas:política, cultura,sexualidade,tentando evitar conflitos racias e ,last but not the least, movimento feminista.
São dezenove obras publicadas:3 coleções de ensaios On Lies, Secrets and Silence (1979), Blood, Bread and Poetry ( Sangue,Pão e Poesia1986), What Is Found There: Notebooks on Poetry and Politics (algo tipo “O que se achou lá: anotações sobre Poesia e Política,1993), estudos sobre maternidade em Of Woman Born: Motherhood as Experience e Institution ( mais ou menos Sobre natalidade:maternidade como experiência e instituição,1976),artigos inumeráveis em jornais de orientação feminista, militância constante contra racismo,millitarismo,homofobia. 

Filhos de pais judeus e mães não judias não são considerados judeus,mas Adrienne tomou para si as dores do antissemistismo.
Infelizmente,ainda muito pouco traduzida em português,peço especiais desculpas por ter ousado- eu mesma- traduzir os títulos das obras.
“O que não posso dizer, sou. Para isso vim”.
Num longo poema autobiográfico 
"Sources" ( Fontes,1983) e no ensaio (Blood, Bread and Poetry) estão todas as perplexidades e conflitos desse coquetel racial, que divide uma pessoa por dentro. 

Em 1951, aos 22 anos, dois fatos marcantes:sua graduação em Radcliff e a conquista de um troféu:o Yale Younger Poets Prize pelo primeiro livro A Change of World (Mudança do mundo)
Quem avalizou a conquista do prêmio como presidiente do juri que escolheu a vencedora foi,nada mais nada menos que W. H. Auden !
.Em 1953, aconteceu o casamento com o economista Alfred Conrad, e a mudança  para Cambridge, Massassuchets ,onde o casal teve 3 filhos e Adrienne dedicou nove anos a cuidar deles.
Qualquer mulher intelectualizada e com um mínimo de sensibildade, fica dividida entre os deveres e prêmios da maternidade e o desgosto por ralentar o sopro criativo.

Imaginemos,então, como deve ter sido esse momento para Adrienne,que em seus escritos confessava se sentir “um monstro” ao misturar amor pelos filhos e raiva por estagnar o que pretendia dizer ao mundo. .
Então veio a mudança para Nova York (1966) porque o marido recebeu um convite para lecionar no City College.
Ela começou a ensinar no programa SEEK,para ajudar negros,pobres e estudantes vindos do terceiro mundo a entender as diferenças culturais que ela tanto dissecou em suas obras, muito iinfluenciada pelo exemplo de Simone de Beauvoir.
O casal Conrad estava envolvido nos movimentos pela justiça social e Adrienne mergulhou de cabeça no movimento feminista,
Durante esses anos de aparente recesso, foi professora adjunta  no Swarthmore College e na Columbia University School of the Arts,o que-parece- não bastou para tão competente ser humano. 
Os probelmas no casamento ,que haviam começado no início da década de 60,antes da mudança geográfica, levaram o casal ao divórcio, seguido do suicídio de Alfred,em 1970.                     
Um novo tempo
Num livro em linguagem muito pessoal,Snapshots of a Daughter-in-Law.( qualquer coisa como “Anotações de uma nora”),ela começa a examinar sua identidade como mulher, que se assumiria lésbica em 1976,quando publicou-como já vimos Of Woman Born: Motherhood as Experience and Institution e nas obras que cito a seguir: Twenty-One Love Poems ( Vinte e um poemas de amor,1977) e Dream of a Common Language (Sonho de uma linguagem comum1978) , A Wild Patience Has Taken Me This Far (Uma paciência selvagem me levou assim tão longe,1981) e alguns dos poemas de The Fact of a Doorframe (2001). Estes trabalhos consolidaram a orientação sexual e a levaram a escrever grande número de ensaios,incluindo, Compulsory Heterosexuality and Lesbian Existence (Heterossexualidade compulsória e existência lésbica)
Adrienne Rich abraçou a causa da igualdade e do apoio à diversidade e passou a lecionar,até 1979, no City College e na Rutgers University Para completar a nova vida, mudou-se para Massachusstss com a companheira Michelle Cliff no início dos anos 80s.
        
   Ativismo


Desde a década de 60 do século passado,o comprometimento sempre foi total com movimentos estudantis e antibelicistas.
Quando se mudou para Nova York,abraçou a causa dos direitos das mulheres.
Em 1964 filiou-se ao partido político New Left (Nova Esquerda) e a adesão ao movimento feminista aparece bem nítida,quase radical. em seus poemas e textos da época. 
Em 1974, a coletânea Diving Into the Wreck(Mergulhando nos escombros). recebeu o National Book Award for Poetry,mas Adrienne Rich se recusou a recebê-lo sozinha,
Fez questão de dividir a honra com as poetas Alice Walker and Audre Lorde, explicando que era sua forma de compartilhar o sofrimento das mulheres de todo mundo que não podem se expressar .Também recusou a National Medal of Arts, patrocinada pela Casa Branca, por achar que ‘'a arte é incompatível com a política hipócrita dos administradores do país'.
A sua poesia continua engajada nos premiados livros An Atlas of the Difficult World  (Um Atlas do difícil mundo(1991) e Dark Fields of the Republic ( Os campos negros da República,1995)
Foi nesse momento da vida que se tornou membro do Fundo Feminino de Boston.da União Nacional de Escritores, da Irmandade em apoio `as irmãs da Africa do Sul e das Vozes Judaicas em favor da paz.
Ganhou dois prêmios Guggenheim Fellowships, o primeiro Prêmio Ruth Lilly para Poesia, o Prêmio William Whitehead pelo conjunto da obra e o Prêmio da Associação Americana de Poesia,por relevantes serviços prestados à Arte.
No poema "Tear Gas," ela afirma "The will to change begins in the body not in the mind/My politics is in my body." (o desejo de mudar começa no corpo,não em minha mente.Minha política está no meu corpo” )
Adrienne Rich foi um exemplo vivo de coerência e fazia parte do cada vez menor grupo de pessoas que vivem como pensam.





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1883-1931 Ensaísta,prosador,poeta, conferencista e  pintor de origem libanesa.   Autor do- entre outros- livro "O profeta ",   sua...

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