No dia 23/9/2009, completaram-se setenta anos da morte do Pai da Psicanálise.
Os direitos dos autores não são eternos e,na maioria dos países, passam a ser de domínio público nesse instante.
*************************** A correspondência entre o fundador da Psicanálise e seu colega Dr.Wilhelm Fliess.
Em 1887, um mês depois do nascimento de sua filha Mathilde - quando decidiu usar a abstinência como método anti-concepcional - Freud conheceu Wilhelm Fliess (1858-1928).
A partir dali, teve início uma longa amizade, alimentada pela correspondência íntima e científica.
A cura pelas palavras
Aos 27 anos e totalmente desconhecido pela comunidade científica, Freud era um jovem pesquisador da neuro filosofia (que corresponderia, hoje, à neuro ciência). Conseguia ouvir e perceber o não dito, inventava expressões (ego, Id, superego, ato falho, complexo, inibição, neurose, projeção, psicanálise, psicose, repressão, transferência), avaliava as entrelinhas e observava as incoerências. Assim, o grande Mestre e médico da alma iniciou a construção da sua obra e legou-a para todos os que, na qualidade de pacientes, são beneficiados pela “talking cure”, a cura pelas palavras.
E nasceu a Psicanálise
No verão de 1883, Josef Breuer - médico de grande reputação em Viena - apresenta a Freud o caso de uma paciente histérica e bela, rica, educada, inteligente e infeliz.
A paciente sofria de um estranho distúrbio de fala após a perda do marido e entrara em depressão. Esperava estendida sobre o divã e apoiada numa almofada.Quando viu Freud gritou: ”não me toque,não diga nada, não se mexa! Expressou a vontade de falar sem ser interrompida e Freud consentiu. Numa carta à jovem noiva Martha, Freud conta que o Dr. Breuer lhe revela “certas coisas” sobre a paciente que não poderiam jamais ser divulgada e que enquanto ela contava suas lembranças, desapareciam, aos poucos, os sintomas e as alucinações. Mais tarde esta paciente - Bertha Pappenheim - apareceu para a história como um ícone da Psicanálise: ”Anna O”
A correspondência Freud - Fliess
A correspondência com Wilhelm Fliess cobre o período entre 1887 e 1904, quando um Freud apaixonado pelo trabalho que desenvolve (sobre a teoria e a prática da psicanálise) troca ideias com Wilhelm Fliess.
Este otorrino judeu berlinense fazia extensas pesquisas sobre a fisiologia e a bissexualidade e desenvolvia pesquisas sobre o papel do nariz na sexualidade: as doenças sexuais seriam causadas por distúrbios da mucosa nasal, da mesma fisiologia da vaginal.
Ao contrário de Freud, que dizia não crer em nada, Fliess era esotérico e apaixonado pela numerologia, sendo considerado o pai das teorias sobre a bissexualidade.
Freud comenta nas cartas suas hesitações, experimentos, erros e vitórias e - muito interessado no amigo - chama-o, em certas passagens, de seu “juiz supremo”.
Essenciais no caso de um estudo mais profundo da obra de Freud, estas cartas estavam em poder um livreiro e foram achadas quase por acaso.
São consideradas a mais importante fonte de informação sobre os primórdios da psicanálise. Conhecemos só uma das mãos de direção: as cartas escritas por Fliess nunca foram encontradas.
Interpretacão dos sonhos
Em 1900, aos 44 anos, Freud começa a publicação em ritmo frenético de obras que mudariam os rumos da humanidade.
Passou do questionamento das elaborações teóricas ao dia-a-dia da clínica das doenças mentais e das ciências conexas. Com o trabalho de auto-análise, descobriu o papel dos sonhos na vida física. O livro sobre interpretação dos sonhos causou grandes mudanças em sua vida pessoal.
A amizade apaixonada por Fliess - centro e a inspiração da autoanálise - foi esfriando graduamente até dar lugar a brigas violentas e destruidoras.
Freud, até então, fazia de conta que não existiam diferenças gritantes entre seu pensamento e o de Fliess - que considerava um gênio. Costumava chamá-lo "meu alter ego"
Em determinado momento, no entanto, começa a se afastar e consegue perceber as falsas ilusões que nutria pelo colega e amigo. Muitos dos sonhos interpretados no livro do ano de 1900 mostram bem este estado de decepção.
A ruptura definitiva
Swoboda, paciente de Freud era amigo e colaborador de Otto Weininger, um teórico de idéias provocantes. Weininger publicou um livro contendo teorias muiro parecidas com as de Fliess sobre a bissexualidade, o que fez com que este acusasse Freud de quebrar o segredo, durante sessão com o paciente.
Plágio, fofocas, espionagem científica, venda de informações acabaram a amizade e macularam a história da psicanálise.
O fim da relação deixou Freud ferido e desapontado. Conscientizado de sua propensão por amizades passionais, passa a lidar com as pessoas com grande dose de desconfiança até encontrar Carl Gustav Jung, com quem reproduziria a mesma situação
Cronologia Freudiana
1856 - Filho de Amalia Nathanson e Jacob Freud nasce em Freiberg, Morávia, atual República Tcheca, “coroado” com o cordão umbilical - sinal de sorte, na época.
1881 - Termina o curso de medicina na Universidade de Vienna.
1883 - Apresentação do caso '”Anna O”, através de seu amigo Breuer.
1884 - Descobre as propriedades analgésicas da cocaína.
1885 - Como bolsista, trabalha com o Professor Charcot na Salpêtrière, em Paris. Assiste aulas e observa como os doentes da “galeria dos loucos” são tratados por hipnose.
1886 - Abre consultório em Viena e casa com Martha Bernays, após 4 anos de noivado. 1899 - Início da auto-análise e introdução da teoria do complexo de Édipo.
1908 - Primeiro Congresso Internacional da Psicanálise
1917/23 - Publicação de obras em ritmo impressionante e criação de um grupo de discípulos do qual faz parte Jung.
1923 - Publicação de “O id e o ego”
1935 - Sigmund Freud torna-se membro honorário da Honorary Royal British Medical Society. 1930 - Recebe o Prêmio Goethe.
1938 - Perseguida pela la Gestapo, a família Freud se exila na Inglaterra.
1939 - Morre aos 83 anos, esgotado, após 33 cirurgias na tentativa de deter um câncer na mandíbula, diagnosticado em 1923. *****************************************************************
A edição das cartas em português pela Zahar Editora "Freud / Fliess -Mito e quimera da auto-análise" ,de Erik Porge,da Coleção Transmissão da Psicanálise e com tradução de Vera Ribeiro é de 1988 e não possui qualquer relação com a instituição do domínio público.
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