"Morto em 13 de abril de 2015, aos 74 anos, Eduardo Galeano dedicou seus últimos meses ao que mais gostava de fazer: escrever. As palavras finais do autor uruguaio estão reunidas no livro “O caçador de histórias”, que chega este mês às livrarias dos países de língua espanhola. O lançamento no Brasil está previsto para o fim de maio, pela editora L&PM, em tradução de Eric Nepomuceno, amigo do escritor por mais de quatro décadas".
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Repostagem do texto publicado por mim aqui. em 13/4/2015:
A mão sangrando, escultura de Oscar Niemeyer à frente do Memorial da América Latina, em São Paulo, se vincula a esta obra.
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Obituário publicado ontem na revista "Carta Capital"
( sobre "As Veias Abertas ") :“Era um livro de economia política, mas à época eu não tinha o treino necessário”, dizia o escritor sobre o libelo de indignação contra os poderes europeus, seguidos por aqueles norte-americanos responsáveis, segundo ele argumentava, por abandonar um continente à pilhagem sangrenta.
Obituário publicado ontem na revista "Carta Capital"
( sobre "As Veias Abertas ") :“Era um livro de economia política, mas à época eu não tinha o treino necessário”, dizia o escritor sobre o libelo de indignação contra os poderes europeus, seguidos por aqueles norte-americanos responsáveis, segundo ele argumentava, por abandonar um continente à pilhagem sangrenta.
“Não me arrependo de tê-lo escrito, mas é uma etapa que, para mim, está superada.” Ele, que atuava como jornalista enquanto se estabeleciam as ditaduras latino-americanas, dizia que naqueles anos 1960 seu país agrário “produzia mais violência do que carne ou lã”.
Assíduo frequentador do Café Brasileiro, em Montevidéu, junto a outros luminares da escrita uruguaia, como Mario Benedetti, e antes de se tornar um intelectual irredutível da esquerda latino-americana, Galeano trabalhou como operário industrial, desenhista, pintor, mensageiro,datilógrafo e caixa de banco, entre outros ofícios.
Com a vida fincada nos pés, é possível que não tivesse esperado ver em 2009, durante a Cúpula das Américas, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presentear o colega norte-americano Barack Obama com um exemplar de As Veias Abertas da América Latina, proibido nos anos 1970 pelas ditaduras do Uruguai, Argentina e Chile.
Na época, o livro saltou em um dia da posição número 60.280 para a de número dez na lista de mais vendidos da Amazon.
Nada em seu engajamento político talvez se pudesse comparar, contudo, ao que sua escrita clara e filosófica, presente em livros inescapáveis como La Canción de Nosostros, Dias y Noches de Amor y de Guerra, El Siglo del Viento e especialmente Memoria del Fuego, fez pelas artes do futebol.
Era o esporte, para ele, como um caminho à compreensão humana.
Nos ensaios calorosos de Futebol ao Sol e à Sombra, aqui editado pela LP&M, em 1995, Galeano defende o carinho com que um jogador deve tratar a bola, contra a política e o dinheiro que o fazem regredir.
Naturalmente, consagra ao heroísmo a conquista do campeonato mundial por seu país, em 1950, ao perfilar o místico capitão da seleção uruguaia no Maracanazo, Obdulio Varela. Mas, com a mesma poesia eletrizante ele entendia todos os grandes, de Pelé a Garrincha, de Zico a Maradona.
Escreveu sobre o craque argentino Di Stéfano, morto em 2014, aos 88 anos: “O campo inteiro cabia nas suaschuteiras. A cancha nascia de seus pés, e de seus pés crescia.
De arco a arco, Alfredo Di Stéfano corria e corria pelo gramado: com a bola, mudando de rumo, mudando de ritmo, de trotezinho cansado ao ciclone incontido; sem a bola, deslocando-se para os espaços vazios e buscando ar quando o jogo ficava congestionado.
Nunca parava quieto. Homem de cabeça erguida via o campo inteiro e o atravessava a galope, abrindo brechas para lançar o assalto. Estava no princípio, durante e no final das jogadas de gol, e fazia gols de todas as cores. Socorro, socorro, aí vem a flecha voando a jato.”
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