sábado, 3 de outubro de 2015

Centenário de nascimento do cantor Orlando Silva

O texto abaixo, editado, está completo  no Dicionário  Cravo Albim de Música Popular Brasileira

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Orlando Silva

Orlando Garcia da Silva  

 3/10/1915 Rio de Janeiro, RJ
7/8/1978 Rio de Janeiro, RJ


 

  

Estreou no rádio no dia 23 de junho de 1934, aos 17 anos de idade, participando do programa de Francisco Alves na Rádio Cajuti. 
Entre 7 e 9 horas, o locutor  Cristóvão de Alencar anunciava aos ouvintes: "Aguardem a surpresa que Chico Alves  preparou."  
Às 9 horas, cantou a valsa "Mimi" acompanhado pelo violonista Pereira Filho. 
Ao final da apresentação, o locutor anunciou: "Acabaram de ouvir o cantor Orlando Navarro, descoberta de Francisco Alves." 
O sobrenome Navarro foi  inspirado no nome  de Ramon Navarro,  famoso artista americano de ascendência latina, que estava em visita ao Brasil. 
Acabou recusando o sobrenome pois queria manter seu nome de família. 
No carnaval seguinte, participou ao lado de Aracy de Almeida do coro da gravação de "Foi ela", lançamento de Francisco Alves. 
Com sete meses de carreira, assinou contrato com a RCA Victor para lançar disco logo após o carnaval.  
Em 1935, gravou seu primeiro disco, com acompanhamento do Grupo do Canhoto, de Rogério Guimarães, interpretando o samba-canção "No quilômetro dois...", de J. Aimberê e o samba "Para Deus somos iguais", de J. Cascata e J. Barcelos. 
No mesmo ano, gravou duas obras de Cândido das Neves, o noturno "Última estrofe" e a valsa "Lágrimas" com acompanhamento de Luperce Miranda no bandolim e Pereira Filho e Luiz Bittencourt nos violões. 

Gravou também os sambas "Não é proceder", de Assis Valente e Haroldo White e "Já é de madrugada", de Assis Valente e Carlos Perry, com o conjunto regional RCA Victor e, com Luperce Miranda, Pereira Filho e Luiz Bittencourt, a canção "Céu moreno", de Uriel Lourival, e o samba "O que restou de você", de Valdemar de Abreu, o Dunga. 

Com o fim do programa de Francisco Alves em 1935, passou a se apresentar nas Rádios Guanabara, Rádio Clube, Educadora, e na Transmissora, fundada nos estúdios da RCA, que durou apenas seis a sete meses. 
Num intenso corre-corre, apresentava-se diariamente e até mesmo em duas estações num mesmo dia. A consagração no Rádio foi a apresentação no Programa Casé, do qual participavam todas as grandes estrelas da época. 
Em 1936, gravou da dupla Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, a marcha "Viva a liberdade" e o samba "Se a orgia se acabar", com acompanhamento do grupo Diabos do Céu, dirigido por Pixinguinha. Nesse ano, gravou o samba "Não foi por amor", de Germano Augusto e Zé Pretinho, também com os Diabos do Céu, e a valsa "Apoteose do amor", de Cândido das Neves, e os sambas "Pela primeira vez", de Noel Rosa e Cristóvão de Alencar, e "Tristeza", de J. Cascata e Cristóvão de Alencar. 
Também nesse ano, gravou o samba "Dama do cabaré" e a marcha "Cidade mulher", ambas de Noel Rosa,da trilha sonora do filme "Cidade mulher", da Brasil Vita. 
Um fato curioso de sua carreira ainda em 1936 foi quando substituiu Joel de Almeida, da dupla Joel e Gaúcho, que faltou à gravação da marcha "A menina dos meus olhos", de Noel Rosa e Lamartine Babo, sendo formada assim, para uma única gravação, a dupla Orlando e Gaúcho. 

Em 12 de setembro de 1936, participou da inauguração da Rádio Nacional. Seu contrato de exclusividade foi assinado 11dias antes da inauguração.  . 
Pelo seu contrato , seria o primeiro cantor a ter um programa exclusivo nessa emissora e  passou a se apresentar às quintas-feiras sob o patrocínio de Urodonal. 
A cada quinta-feira, tinha um convidado, alguns nomes internacionais em visita ao Rio, como  Pedro Vargas, Jean Sablon, etc. Começando a atingir o auge de sua forma vocal, gravou em 1937, da dupla J. Cascata e Leonel Azevedo, com acompanhamento da Orquestra Victor brasileira, a valsa "Lábios que eu beijei", um dos maiores sucessos de sua carreira.

 No lado A desse  disco, que contou com a orquestração de Radamés Gnatalli, estava o samba "Juramento falso", também de J. Cascata e Leonel Azevedo. 
Segundo seu depoimento, com o lançamento desse disco, "O Brasil tomou conhecimento de que havia mais um, aí ninguém me segurou mais". 

A primeira ida a São Paulo foi a convite de Carlos  Bacará, que o levou a Santos, onde passou cerca de 10 dias, antes de ir a São Paulo, apresentando-se na sacada do Teatro Colombo, situado no bairro do Brás, ocasião em que se reuniram cerca de 10 mil pessoas para ouvi-lo, com o comércio local praticamenete fechado para prestigiá-lo. 
De volta  à Radio Nacional , o locutor Oduvaldo Cozzi lhe atribuiu o título de "O cantor das multidões". Ainda em 1937, gravou a valsa "Aliança partida", de Benedito Lacerda e Roberto Martins; o samba-canção "Amigo leal", de Benedito Lacerda e Aldo Cabral, ambas com acompanhamento do grupo Boêmios da Cidade e os sambas "Boêmio", de Ataulfo Alves e J. Pereira e "Rainha da beleza", de Ataulfo Alves e Jorge Faraj com acompanhamento dos Diabos do Céu. 

Nesse ano, tornou-se o primeiro cantor a gravar o samba "Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro, gravação que se constituiria num clássico da música popular brasileira. 
O disco trazia, também de Pixinguinha, a valsa "Rosa", com acompanhamento do conjunto Regional RCA Victor. A música "Carinhoso" passou a ser utilizada por ele como prefixo de suas audições. 
Já a valsa "Rosa" era a música preferida por D. Balbina, mãe do cantor, razão por que depois de sua morte ele jamais voltaria a interpretá-la. Outra música marcante gravada por ele em 1937 foi o samba "Alegria", de Assis Valente e Durval Maia. Em 1938, participou do filme "Banana da terra", dirigido por J. Rui, interpretando a marchinha "A jardineira", de Benedito Lacerda e Humberto Porto, cuja gravação, lançada em dezembro deste ano, contou com o acompanhamento da Orquestra Victor Brasileira, dirigida por Pixinguinha. No mesmo ano, estourou com grande sucesso no carnaval com o samba "Abre a janela", de Arlindo Marques Júnior e Alberto Roberti. ]
Segundo depoimento do cantor, o termômetro  musical do carnaval carioca era o bloco que saía da Casa da Moeda; o que eles  cantavam na avenida estourava no carnaval. Nesse mesmo ano, saíram cantando "Abre a janela", fato que trouxe enorme emoção para ele. Ainda em 1938, lançou com grande sucesso  a valsa "Caprichos do destino", de Claudionor Cruz e  Pedro Caetano, e o fox "Nada além", de Custódio Mesquita e Mário Lago. 
Esta última música fazia parte da revista "Rumo  ao Catete", onde era apresentada pelo tenor Armando Nascimento com uma interpretação exageradamente operística. Custódio Mesquita, então, convidou Orlando Silva para assistir ao espetáculo e o  induziu a gravar a música, que foi lançada com orquestração de Radamés Gnattali.  . 

Em 1967, foi à Porto Alegre, realizar um show no evento "Jantar Anual dos Casados", no Clube do Comércio. Nessa visita à capital gaúcha foi entrevista pelo radialista Vanderlei Malta da Cunha para o programa "Domingo & Arte", apresentado por ele na Rádio Metrópole AM. 
Na ocasião, além de eventos de sua carreira, assim respondeu à pergunta "A seresta anda muito prejudicada?": "Eu tenho colegas que têm ojeriza à juventude, arrepios até. Eu acho isso maravilhoso. Tenho certeza que a música que eu canto estava estacionada, empoeirada.
 Para dar lugar às músicas estrangeiras, os boleros, o fox, o rock, a balada. No que apareceram Tom Jobim e Vinícius, com o samba moderno, e agora com o advento do iê-iê-iê, isso sacudiu a música! Eles entraram como uma avalanche... Então, quando aparece uma música (cantarola "Lábios que beijei") vira um lenitivo, entendes? Eu aplaudo o iê-iê-iê, o samba moderno porque eles sacudiram  a serenata. A serenata está viva." 

Em 1968, foi lançado o LP "Orlando Silva, O Cantor das Multidões"  
 Em 1969, gravou o LP "Orlando Silva, o eterno seresteiro" interpretando clássicos como "Serenata do adeus", de Vinícius de Moraes; "Modinha", de Jaime Ovalle e Manoel Bandeira; "Maringá", de Joubert de Carvalho; "Guacira", de Joracy Camargo e Hekel Tavares e "Modinha", de Sérgio Bittencourt, além de "Falsa Felicidade", de Paulo Medeiros; " Misterioso Amor", de Saint-Clair Sena; "Volta Para o Meu Amor", de Joubert de Carvalho e Tostes Malta; "Um Novo Céu", de Fernando César e Ted Moreno; "Meu Companheiro", de Francisco Alves e Orestes Barbosa, e "Vidro Vazio", de Romualdo Peixoto "Nonô" e Orestes Barbosa. 

Em 1973, lançou o LP "Orlando Silva hoje", interpretando músicas de compositores contemporãneos como "Hoje", de Taiguara; "Desespero", de Antônio Carlos e Jocafi; "Clarice", de Capinam e Caetano Veloso; "Mancada", de Gilberto Gil e "Pra dizer adeus", de Edu Lobo e Torquato Neto, além de "Tua canção", de Ted Moreno; "Chuvas de Verão", de Fernando Lobo; "Rancho da Mulher Amada", de Luis Antônio e Luis Reis; "Canção da Lágrima", de José Orlando e Benil Santos; "Este É o Meu Rio", de Catulo de Paula, e "O Amor e a Flor", de Carlos Wagner e G. Carvalho.  

Entre 1975 e 1977, gravou vários números para o programa  "Brasil especial" da TV Globo dirigido por  A .C. Vanucci. 
A série abordava a vida dos grandes compositores e o cantor era sempre requisitado pelo redator R.C. Albin, que, muitas das vezes, ao editar o programa cortava sua participação para poupá-lo do constrangimento provocado pelo declínio daquele que havia sido o maior cantor do Brasil em seu tempo. 
Ao morrer, em agosto de 1978, a esposa Lourdes avisou a poucos amigos. Entre estes estava um dos seus maiores admiradores, o crítico R. C. Albin, que, atendendo um dos últimos desejos, levou o corpo para ser velado, graças ao então presidente Márcio Braga, no salão nobre do Clube de Regatas do Flamengo, no Morro da Viúva, Rio de Janeiro, clube de futebol pelo qual o cantor era apaixonado. 

Por ocasião de sua morte, assim relatou o Jornal do Brasil em matéria que apresentou como título a seguinte manchete: "Coração silencia o cantor das multidões": "O cantor Orlando Silva, 62 anos, morreu vítima de um ataque cardíaco.

 A notícia causou comoção nacional e arrastou uma multidão às ruas, para prestar a última homenagem ao artista".  
Em 1979, foi lançado pelo Museu da Imagem e do Som o LP "Orlando Silva", com as gravações realizadas ao vivo, em programas da Rádio Nacional, e recuperadas de acetatos radiofônicos, por iniciativa do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, com produção artística de Paulo Tapajós, apresentando os seguinte fonogramas: "Sertaneja", de René Bittencourt, em faixa que contou com a participação do Trio Madrigal

Em 1993, foram lançados dois CDs com gravações suas, "Linda flor que morreu - Orlando Silva e Gilberto Alves" e "Canção do amor que lhe dou". 
No ano seguinte, foram lançados mais dois CDs com gravações suas, "Jornal de ontem - Orlando Silva e Odete Amaral" e "Quero beijar-te ainda". Em 1995, a BMG lançou caixa com três CDs, "Orlando Silva, o cantor das multidões", com gravações originais de 1935 a 1942. Em 2001, a EMI lançou a série "Cantores do Rádio" na qual aparece no volume 1 sua gravação de "Eu chorarei amanhã". Em 2002, a BMG relançou em CD o LP "Sempre sucesso",coletânea lançada 40 anos antes. 
Em 2004, foi homenageado com o espetáculo "Orlando Silva, o cantor das multidões", com direção de Antonio de Bonis sobre pesquisa de Jonas Vieira que assina o texto com Cláudia Valença. 

No espetáculo apresentado na Sala Baden Powel e em lonas culturais no Rio deJaneiro, o cantor é interpretado pelo ator Tuca Andrade que interpreta 16 canções que marcaram a trajetória artística do "Cantor das multidões", um dos quatro grandes cantores da chamada "Era do Rádio". 

Ainda em 2004, o pesquisador Jonas Vieira relançou ampliada e revista, sua biografia sobre o cantor, agora prefacida por R. C. Albin. 

Também no mesmo ano, recebeu homenagem do cantor Zé Ranato, em espetáculo realizado no Teatro Rival BR, interpretando canções consagradas pelo "Cantor das Multidões". 


Em 2005, por ocasião do aniversário dos seus 90 anos de nascimento foi homenageado com um programa especial na Rádio Nacional do Rio de Janeiro quando seus maiores sucessos foram interpretados por nomes como Roberto Silva, Marcos Sacramento e Paulo Marquez. 
Em 2008, o Jornal do Brasil, dentro da sessão "Hoje na História" relembrou os 50 anos de sua morte apresentando a manchete com a qual na época foi anunciada a morte do artista: "Coração silencia o cantor das multidões". 

 Em 2015, por conta do centenário de nascimento do cantor, o Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin, usando de suas atribuições legais e devidamente aprovado pelo Conselho Diretor, resolveu criar o Comitê Orlando Silva-100 anos.

 Coube ao Comitê definir a programação e as atividades para homenagear a memória de Orlando Silva, realçando-se a sua importância e perenidade na cultura musical do Rio e do Brasil". 
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Orlando Silva interpreta "Carinhoso",de Pixinguinha
https://www.youtube.com/watch?v=gmciBTsJdy4 

e "Rosa"

 https://www.youtube.com/watch?v=s3ACY3eBgkc
 
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