terça-feira, 23 de junho de 2015

Centenário de Nascimento de Orson Welles- colcha de retalhos



 A invasão marciana

Programa de rádio produzido pelo diretor Orson Welles e transmitido pela CBS na noite de 30/10/1938. Foi adaptado da obra A Guerra dos Mundos de H.G.Wells.

O programa causou pânico  no país.
 
"Em 30 de outubro de 1938, o então desconhecido Orson  Welles, interrompeu a programação da rádio CBS para anunciar que a Terra estava sendo invadida por marcianos trípodes:  “A C.B.S. interrompe seu programa para anunciar aos ouvintes que um meteoro de grandes dimensões caiu em Grovers Hill, no Estado de Nova Jersey, a algumas milhas de Nova York” – anunciou  o  locutor. Em seguida,  os  ouvintes escutaram as vozes de alienígenas que  invadiam a sede da estação de rádio.  Welles anunciou, então, que  os monstros caminhavam rumo a  New York. Ao perceber que a população entrava em um processo de histeria coletiva,  o  diretor da emissora decidiu explicar que tudo  era apenas uma leitura da obra Guerra dos Mundos (War of the Worlds), publicada em  1898  pelo escritor H.G. Wells." 

https://www.youtube.com/watch?v=y1lSJzFsAo0

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George Orson Welles,ator,produtor,diretor desenhista,escritor,cenógrafo e mágico amador, também conhecido como  O. W. Jeeves ou G. O. Spelvin  nasceu no dia 5 de maio de 1915 em Kenosha, Wisconsin,Estados Unidos.

Filho de Richard Heard Welles, industrial e  Béatrice Ives Welles, pianistacresceu num abiente refinado e excêntrico e são muitos os testemunhos de sua precocidade: sabia ler aos dois anos,tocava piano aos três fez pequeno papel em "Sansão e Dalila" na Ópera de Chicago. e encenou peça de Shakespeare - O Rei Lear- e também atuou em Madame Butterfly.
Em 1919,  com a separação dos pais,vai morar com a mãe em Chicago,onde foi "descoberto" e mereceu um  artigo no  jornal local :   « Desenhista, ator e poeta : e só tem dez anos"

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Interno numa escola de  Madison (Wisconsin), montou uma adaptação teatral do "Estranho caso do Dr.Jakyll e  M.Hyde"
Em1926, é matriculado na Todd School for Boys, uma instituição aberta `as artes em  Woodstock,Illinoi,dirigida por Roger Hill.Ali aprimorou o gosto pela poesia clássica,pelo ilusionismo e magia.
Muito ligado a essa escola,voltou em 1934 para montar um festivalde teatro que será sua primeira obra: o  Everybody's Shakespeare.
 
Dois tristes eventos marcaram a adolescência de Orson : a morte da mãe em maio de 1924 e, em seguida, a morte do pai.
Órfão aos 15 anos, passou `a tutela do pediatra  Maurice Bernstein,grande amigo de seus pais. 
Tendo conhecido desde sempre o gosto do jovem pelo teatro,lhe ofereceu uma lanterna mágica e um teatrinho de marionetes.  .
En 1930, ainda estudando na  Todd School, Orson recebe o prêmio da Associação Dramática de Chicago para a melhor montagem estudantil, por Julio Cesar  

O tutor Bernstein sugere que se inscreva em Harvard e o apresenta a  Boris Anisfeld, do Chicago Art Institut  que muito se impressionou com seus desenhos.
Terminado o curso, em 1931, recusa uma proposta para turnê na Irlanda e, em lugar disso,Welles pede um ano sabático para fazer uma "turnê" intelectual pela Europa. 
  
 Thornton Wilder e  Alexander Woollcott o colocaram  em companhia de Katherine Cornell .
Com o grupo  ele fez sua estreia como Tybalt,em  Nova York, em 1934. 
No mesmo ano, casou-se, dirigiu seu primeiro curta, e apareceu no rádio pela primeira vez.
 Começou a trabalhar com John Houseman e ,juntos,formaram o Teatro Mercury, em 1937.
 Em 1938,  produziram "The Mercury Theatre on the Air", famosa pela   transmissão de "A Guerra dos Mundos" (concebida como uma brincadeira de Halloween) .
 Seu primeiro filme para ser visto pelo público foi Cidadão Kane (1941), um fracasso comercial de  150 mil dólares para a RKO, mas considerado por muitos como o melhor filme já feito.
 Os próximos filmes também foram fracassos comerciais .
Exilou-se para a Europa em 1948. 
Em 1956, dirigiu A Marca da Maldade (1958);outro fracasso nos Estados Unidos que recebeu  um prêmio na feira Mundial de Bruxelas em1958.
 Em 1975, apesar de todos os seus fracassos de bilheteria, recebeu o Prêmio pelo Conjunto de Obra  do American Film Institute, e em 1984, o Directors Guild of America concedeu-lhe a mais alta honra, a DW Griffith Award. 

Casamentos 

Viveu durante 25 anos com Oja Kodar

Paola Mori (de 1955 a 1985), Rita Hayworth (1943 a 1947),Virginia Nicholson (1934 a 1940)

Morreu no dia 10 de outubro de 1985 , de crise cardíaca em Hollyood,California.

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Orson Welles no Brasil
(fonte : site  http://historiavivaaessul.com.br)


O filme de Orson Welles que não saiu

"Durante a presidência de Getúlio Vargas e a tentativa de implantação da política de boa vizinhança dos Estados Unidos com o Brasil, o cineasta Orson Welles desembarcou no país para filmar dois episódios de It’s All True (É Tudo Verdade), seu novo filme.

 Estávamos em 1942, e no ano anterior, Orson havia lido na revista Time uma reportagem sobre a travessia por mar dos jangadeiros de Fortaleza Manuel Olímpio (o Jacaré), Jerônimo de Sousa e Raimundo Lima e Pereira da Silva em direção à então capital federal, Rio de Janeiro. 

O grupo havia peregrinado até o Rio para pedir a Getúlio Vargas que fossem cumpridos seus direitos previdenciários. Depois de 61 dias com percurso de 2.500 km percorridos, chegaram à Baía da Guanabara e foram recebidos como heróis. 
Vargas os recebeu e, só depois de conseguirem a promessa do presidente em ampará-los voltaram para o Ceará, desta vez em um bimotor da Navegação Aérea Brasileira.

Inspirado na história dos jangadeiros, Orson veio ao Brasil filmar. Porém, a produção, rodada durante seis meses daquele ano, nunca foi lançada.

Isso porque havia nas rédeas daquele set um gênio inquieto: o próprio diretor Orson Welles. Welles, ainda com 26 anos de idade na época, acabou comprando uma briga feia com Getúlio Vargas e Nelson Rockefeller. A proposta do filme era bem ousada: É Tudo Verdade foi planejado como uma tentativa de diluir o estereótipo hollywoodiano do negro e do latino-americano.
Um assunto ainda muito polêmico para a época. A ideia do diretor era conectar a história dos povos à cultura negra norte-americana durante o segmento final do longa. Inclusive, esta foi a única parte que nunca chegou a ser filmada. A produção, estrelada por Louis Armstrong, contaria a raiz comum do samba e do jazz.

Porém – voltando aos jangadeiros peregrinos – foi a simpatia de Orson por um deles, o Jacaré, o motivo do incômodo do governo brasileiro com o cineasta.
O fato é que Jacaré estava sendo acusado de comunista pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, o famigerado DIP.
Porém, cinco dias depois de Welles começar as filmagens da reencenação da viagem dos jangadeiros, o mar virou a embarcação em que estavam, jogou os quatro homens no mar, e Jacaré desapareceu. Depois do episódio, ainda mais determinado do que nunca, Welles resolveu contar sobre as precárias condições de vida dos jangadeiros cearenses.

Enquanto o diretor editava a obra, o filme foi confiscado pelo estúdio RKO e posteriormente vendido à Paramount. Welles foi demitido e, em 1958, uma funcionária teria queimado a maior parte dos rolos.
Hoje em dia, existem diversas obras cinematográficas sobre It’s All True - o filme que não aconteceu. Existe um curta ficcional americano e três do cineasta brasileiro Rogério Sganzerla: Nem Tudo É Verdade (1986), Tudo É Brasil (1997) e O Signo do Caos (2005).

Segundo a Cinemateca Brasileira, existe ainda uma cópia do filme original. Porém, a verdade é que ninguém assistiu It’s All True de Orson Welles."
  
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Do site     http://oglobo.globo.com/cultura





 


 RIO — As comemorações pelo centenário do nascimento de Orson Welles (1915-1985) têm feito Oja Kodar viajar pelo mundo, para participar de inúmeros tributos à memória do companheiro, com quem viveu seus últimos 25 anos, e de quem detém os direitos sobre o espólio.

Uma tarefa nem sempre prazerosa porque, em ocasiões como essas, a atriz e artista plástica croata de 74 anos se vê obrigada a passar mais tempo defendendo a honra e o nome do genial e genioso cineasta americano, a quem muitos atribuem a pecha de louco e perdulário, do que propriamente falando sobre a obra que ele deixou, com clássicos como “Cidadão Kane” (1941) e “A marca da maldade” (1958).
— É frustrante. As pessoas não querem saber quem foi Orson ou o que ele representa, estão mais interessadas em ouvir algo que se encaixe na imagem que decidiram construir dele — queixa-se a ainda bela artista, que conversará com o público carioca hoje à noite, após a sessão de “Verdades e mentiras” (1973), atração das 19h30m da mostra Centenário de Orson Welles, em cartaz no Estação Net Botafogo. —
Defendê-lo virou uma cruzada particular. Receio ser uma espécie de Dom Quixote nessa luta. É por isso que não leio mais biografias, especialmente as sobre ele. Vejo como as pessoas tentam se promover às custas dos personagens que escolheram, com invenções e mentiras.

DE REVOLUCIONÁRIO A PROBLEMÁTICO

Para muitos, Welles é o cineasta de um filme só, o monumental “Cidadão Kane”, para o qual desenvolveu uma série de inovações técnicas e dramáticas.

Outros o veem com o prodígio incompreendido, que revolucionou todas as mídias — do rádio, com a dramatização de “Guerra dos mundos”, de H.G. Wells, ao cinema, como a abertura de “A marca da maldade”, um plano-sequência de quase 15 minutos.

A mais duradoura é a fama de realizador problemático e impulsivo, cujos caprichos teriam resultado numa série de projetos inacabados, como uma versão do livro “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes, ou o drama “The other side of the wind”.
— Até hoje insistem que Orson tinha um defeito psicológico comum aos gênios, que os impede de concluir projetos. Mas ele simplesmente não tinha dinheiro para terminá-los — afirma Oja, sentada no Bar dos Descasados, no Hotel Santa Teresa. — Em alguns, chegou a usar recursos próprios, como no telefilme “História imortal” (1968), inicialmente financiado por uma TV francesa. Também pôs dinheiro em “Verdades e mentiras”, do qual nem era produtor. E não devia nada a ninguém, porque os filmes eram dele, não do estúdio. Se você começa um livro e leva 50 anos para terminá-lo ou nunca o faz, é uma escolha.

Oja e Welles, então casado com a atriz Paola Mori, se conheceram no início dos anos 1960, quando o diretor filmava “O processo” (1962) em Zagreb, na ex-Iugoslávia. Ela queria ser escultora, e fizera trabalhos como atriz e âncora da TV local para sustentar o sonho de entrar na Escola de Belas Artes. Oja conhecia alguns croatas da equipe da produção, e uma noite foi convidada para acompanhá-los ao clube que Welles frequentava.

 Lá, entre as falsas palmeiras da decoração, cruzou com os olhos “penetrantes” do diretor, que se aproximou para puxar papo “em um italiano torto”.
— Ele quis saber o que eu fazia como aspirante às artes plásticas, e mostrei. Então, disse que mandaria um motorista me buscar na manhã seguinte para mostrar o que ele fazia. Eu morava na periferia da cidade, onde passavam poucos carros, e você não imagina o alvoroço no lugar quando a limusine chegou.
 Foi como se os marcianos estivessem invadindo o planeta! — lembra a atriz, que conta que os dois levaram anos para assumir o relacionamento. — Na época, muitos diretores italianos iam filmar épicos bíblicos na Iugoslávia, que era um país comunista, e muitas garotas iugoslavas se aproximavam deles com o intuito de sair do país. Então, uma moça de família acompanhada de um estrangeiro não era bem vista.
Um dos primeiros projetos dos dois juntos foi o thriller “The deep”, que começou a ser desenvolvido em 1967, a partir do romance “Dead calm”, de Charles F. Williams, e foi abandonado dois anos depois, incompleto.
Além de Welles e Oja, o longa tinha no elenco a francesa Jeanne Moreau, uma combinação que se revelou problemática. Segundo a versão que chegou a público, o filme não foi concluído porque Welles teria cancelado duas vezes a sessão de dublagem da voz de Jeanne que, por causa disso, abandonou o projeto. A versão de Oja é outra.

— Hoje posso dizer que Jeanne é uma mentirosa, tenho documentos dos advogados de Orson que dizem que foi ela quem cancelou a dublagem — acusa. — Ela não gostou de Orson ter me dado o papel principal. Eu era jovem e bonita, estava acostumada aos olhares de inveja das outras mulheres, e o olhar que Jeanne lançou para mim ao me conhecer seria capaz de matar, estava cheio de ódio. Ela não o perdoou por me amar, e não a ela, essa é a verdade. Agora posso dizer isso, porque minha beleza já se foi, não é um peso para mim.

Oja diz que os últimos anos de Welles foram profissionalmente frustrantes, porque os mitos em torno dele “pareciam mais interessantes do que seus feitos”.

Ela lembra de uma vez em que o cineasta chegou “estranho” em casa, após encontrar o ator Joseph Cotten, um de seus maiores amigos e frequente colaborador. Questionado, Welles revelou que Cotten lhe contara uma história que ouvira sobre ele. O diretor disse que a negara imediatamente. E o ator teria respondido: “Ah, Orson, mas é uma história maravilhosa!”.
— Era um homem imbatível, ninguém conseguiu derrubá-lo — defende Oja. — As pessoas perguntam qual é o maior legado dele, entre tanto material filmado, artigos políticos, peças e roteiros. Há uma frase que ele diz no documentário “Verdades e mentiras” que resume bem sua filosofia. É mais ou menos assim: “Talvez um dia nossos cânticos escritos em pedra sejam silenciados, mas siga em frente, continue cantando”. Orson era assim.
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  Cidadão Kane (1941)  - Versão completa em inglês

https://youtu.be/cVMco6IRdnI

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