quinta-feira, 11 de março de 2021

Centenário de nascimento de Astor Piazzolla,o reinventor do Tango






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"A música é a arte mais direta, entra pelo ouvido e vai ao coração... É a língua universal da humanidade"


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Astor  Pantaléon Piazzolla  nasceu em Mar del Plata no dia 11 de março de 1921,filho de Vicente Piazzolla e Asunta Manetti, imigrantes italianos. 

A cerca de 400 quilômetros ao sul de Buenos Aires, a cidade era apenas um porto pesqueiro, depois se tornou um balneário aristocrático.

 Aos três anos, ele e seus pais se mudaram para Nova York.

 Aos oito anos, o pai, apaixonado pelo tango, deu-lhe um bandoneon .Astor, precoce admirador de jazz, gostaria de ter ganho um saxofone.

Aos treze anos de idade , foi escolhido para um papel em El Dia Que Me Quieras, o filme que homenageava grande mestre Carlos Gardel.  

Astor descobre Bach ao ouvir sua vizinha, a pianista Bela Wilda, ex-aluna de Rachmaninoff, que estuda nove horas por dia. 

A música de Bach o impressiona tanto que ele quer ter aulas com Bela.

 Início de carreira

Em 1936, a família Piazzolla retornou a Mar del Plata. 

Astor, então adolescente, meio perdido entre dois continentes não sabe o que fazer da vida.

Um concerto do violinista Elvino Vardaro com o seu tipico Sexteto, em Mar del Plata,  o faz  "acordar": Astor descobre uma nova forma de tocar o tango.

 Em seguida,formou seu primeiro  conjunto o Cuarteto Azul, copiando o estilo de  Vardaro.

Piazzolla e Troilo

Em 1938, aos dezessete anos, decidiu se tornar bandoneonista profissional e se estabeleceu em Buenos Aires. 

Por um ano, tocou em orquestras pouco conhecidas . 

Frequentando a noite portenha, conhece a orquestra típica de  Aníbal Troilo.  Um dos bandoneonistas  ficou doente e  Astor se oferece para substituí-lo.  

Com  todo o repertório de cór, foi logo contratado,mas Aníbal Troilo  impõe limites à criatividade de seu novo músico, que já dominava a escrita musical neoclássica.

Os salões de baile se propagam, há inúmeras orquestras de tango em Buenos Aires e em todo o país,cada uma com seu estilo próprio.

  A orquestra de Aníbal Troilo executa arranjos muito elaborados dando ênfase à execução do bandoneonista.

 É Piazzolla arranjador que também começa a se destacar como compositor.   

Mas ele não está satisfeito com este trabalho noturno, sonha em ser um compositor de música clássica "real". Recebe aulas de   Alberto Ginastera e ,todas as tardes, ensaia com a Orquestra Sinfônica do Teatro Colón.

         Carreira solo em Paris

É 1944 e Piazzolla deixa a orquestra Troilo e, já como regente, se liga à que acompanhava o famoso cantor Francisco Fiorentino. 

 Pouco depois, cria sua própria orquestra.  

No início da década de 1950,  pensa seriamente desistir do tango para se dedicar à música clássica. 

 É 1954. Piazzolla finalmente consegue realizar seu sonho: receber o primeiro prêmio de composição Fabien-Sevitzky e conseguir uma bolsa para estudar em Paris com Nadia Boulanger, que lhe ensina a arte do quarteto de cordas. 

Com Nadia Boulanger , em Paris

Nadia Boulanger,  diretora do Conservatório Americano de Fontainebleau,  abriu as portas para ele e toda uma geração: : Quincy Jones, Lalo Schifrin, Aaron Copland, Leonard Bernstein, Philip Glass.  


Terminado o ano de estudos no Conservatório Americano de Fontainebleau, suas composições não agradam Nadia Boulanger. Ela pergunta o que fazia antes,  Piazzolla "confessa" ser bandoneonista e   escrever tangos. Tocou "Triunfal"para a Mestra ,que logo percebe como é rica sua abordagem contemporânea.

Piazzolla  aplica este conceito à letra ,em 1955, na gravação das "sessões parisienses" com as cordas da Ópera de Paris, Martial Solal e Lalo Schifrin ao piano e ele próprio no bandoneon. 

Grava cerca de 16 peças, a maioria de sua autoria (Chau Paris, Sens Unique, Picasso, Marron y Azul etc.).


Orquestra de Cordas e  Octeto Buenos Aires  


Octeto Buenos Aires

Ao  voltar a Buenos Aires, em 1957, criou uma orquestra com cordas, piano e bandoneon. Ali estavam os melhores solistas e músicos de tango da cidade, como Elvino Vardaro, Jaime Gossis e José Bragato,  

Com esta orquestra, ele mostra toda sua habilidade na composição para cordas. 

Seu repertório inclui   Tango del ángel (Tango do anjo) e Tres minutos con la realidad (“Três minutos com a realidade”), Melancolico Buenos Aires, Lo que vendra (“O que virá”), enquanto ele reinterpreta outros compositores (Sensiblero, Fuimos, la Cachila, la Cumparsita).

Ao mesmo tempo, fundou seu famoso Octeto Buenos Aires com Mario Francini, Hugo Baralis (violino), Leopoldo Federico (bandônio), Atilio Stampone (piano), José Bragato (violoncelista), Eduardo Vasalo (contrabaixo) e Horacio Malvicino ( guitarra elétrica).

Leitor(a), ouça Marrón y Azul, com o Octeto Buenos Aires:

https://www.youtube.com/watch?v=d-E_smRLGDk&list=RDd-E_smRLGDk&start_radio=1&t=0

   

 Uma nova concepção de Tango

 

Quinteto Nuevo Tango



Buenos Aires , 1960: Formação de outro grupo,  o Quinteto Nuevo Tango. 

Este quinteto é o modelo perfeito para Piazzolla.  A cada nova música,mais rompe com a forma-padrão do tango popular,inserindo toques de Bartok, Stravinsky e do Jazz Hard-Bop.

É acompanhado por músicos tangueros progressistas da cena de Buenos Aires: Simon Bajour depois Elvino Vardaro no violino, Jaime Gossis no piano, Jorge Lopez Ruiz na guitarra elétrica e Kicho Diaz no contrabaixo. 

A década de 1960 traz a maior parte de suas obras: Decarissimo, Adiós Nonino, Buenos Aires Hora Cero, Seria del Angel (Introducción al ángel, Milonga del ángel, Muerte del ángel e Resurrección del ángel),  que seriam as mais gravadas e executadas nas décadas seguintes. 

 Em 1965, incorporou a seu grupo Antonio Agri (violino) e Oscar Lopez Ruiz (guitarra elétrica).

Nesse mesmo ano, musicou poemas do escritor Jorge Luis Borges,com a participação   do cantor Edmundo Rivero e do ator Luis Medina Castro.  

A partir de 1967, Osvaldo Manzi, Dante Amicarelli e Osvaldo Tarantino substituíram Jaime Gossis no piano. 

Em 1973,  Piazzolla dissolveu o Quinteto Tango Nuevo.

  

 Busca incessante pela perfeição


         


Astor Piazzolla e Horacio Ferrer em 1970

 1970- Partida para a Itália.Com o poeta Horacio Ferrer criou  mais famosos tangos do repertório: Chiquilín de Bachín e Balada para un loco e a opereta Maria de Buenos Aires

Piazzolla monta um novo conjunto, um noneto, com o qual grava dois discos e faz turnês pela Europa. 
A percussão aparece nesta época.Escreve   Concierto de Nácar para 9 tanguistas y orquesta .

Em 1974, encenou o Conjunto Electrónico na Itália, com órgão Hammond, marimba, flauta, baixo elétrico, bateria, guitarra elétrica, percussão e violinos.  

No mesmo ano, Piazzolla e seu Conjunto Electrónico gravaram o álbum Libertango 5, lançado mundialmente. 
Nos anos que se seguiram, compôs novos tangos de sucesso (Suite Troileana eLumière) e voltou a abordar o jazz, com o álbum Summit / Reunion Cumbre composto pelo saxofonista Gerry Mulligan.

Quinteto Tango Nuevo (segunda rodada) 

 É de tirar o fôlego.

De  1979 a 1988, Astor Piazzolla voltou ao quinteto anterior com Pablo Ziegler no piano, Hector Console no baixo, Oscar Lopez Ruiz e depois Horacio Malvicino na guitarra e Fernando Suárez Paz no violino. 

 Imenso sucesso, turnês no exterior, encomendas para filmes, suítes para flauta e violão, concertos de Aconcagua e Homenaje em Liège, Five Tango Sensations (quarteto Kronos) e a sonata Le Grand Tango para Rostropovitch.  
 
Em 1988, Piazzolla dissolveu o quinteto que lhe deu notoriedade mundial. Após dez anos de concertos   decidiu,em 1989, formar um  sexteto,  

Dois bandoneons, Astor e Julio Pane (rapidamente substituído por Daniel Binelli),o contrabaixista Hector Console e o guitarrista Horacio Malvicino, Gerardo Gandini- pianista-compositor especializado em música contemporânea escrita ou improvisada. 
 e Carlos Mozzi no violoncelo.

 Também escreve novas peças (Sex-tet e Preludio y Fuga).  

A atmosfera fica pesada  dentro do grupo e Piazzolla abandona  este projeto em 1990.

Passou o início da década de 1990 em turnê como solista clássico tocando seus concertos e peças orquestrais.

         

Tristes tempos finais


Em 4 de agosto de 1990, num apartamento  parisiense, começou o final. Astor Piazzolla sofreu um derrame cerebral e não mais se recuperou. 

Fumante inveterado,havia sofrido um enfarte e portava um marca-passo.  O músico e sua esposa Laura voltaram a Buenos Aires.   O grande Astor, vegetando em um estado de coma, faleceu em 4 de julho de 1992.



Tributo no centenário

 *  O Teatro Colón reabriu,mesmo durante a pandemia, para homenagear Astor Piazzolla. 
 
*O Centro Cultural Kirchner dedica uma programação especial ao músico. 

*No final de 2021, em Buenos Aires,está previsto grande concerto em frente ao Obelisco da Av.Nove de Julho,símbolo da cidade. 

*Piazzolla,antes tão incompreendido por avançar além do tango clássico,  tornou-se um herói argentino, figura mítica como Borges, Cortázar, Maradona, Perón,Evita.

*A Fundação Astor Piazzolla, administrada pelo neto Daniel, baterista do sexteto de jazz Escalandrum , informa que sua música  é ouvida em todo mundo e que 
"nos jardins de infância da Rússia, as crianças escutam ‘Libertango’ quando vão para o recreio. 
Em 2019, ele foi o músico mais interpretado do planeta. Era um gênio, um sujeito incansável que trabalhou muitíssimo. O legado dele para as novas gerações é que sigam seu exemplo: estudem, pratiquem, se esforcem, tenham convicção, não sejam repetitivos, façam coisas novas e, sobretudo, conheçam a raiz do que  pretendam mudar"

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-Ouça Marrón y Azul, com o Octeto Buenos Aires:

https://www.youtube.com/watch?v=d-E_smRLGDk&list=RDd-E_smRLGDk&start_radio=1&t=0

     -Leitor (a),deixo você
com esta linda interpretação.

 A noiva que aparece emocionada, é  Maxima, rainha consorte da Holanda, argentina de Buenos Aires,  e o evento foi no dia de seu casamento.

 "Adiós ,nonino" Tango composto por Piazzolla em outubro de 1959, na cidade de Nova Iorque (onde então residia), dias depois da morte de seu pai, Vicente Piazzolla, a quem seu filho costumava chamar de Nonino (avozinho em italiano):

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