Google Doodle faz homenagem ao 123º aniversário do poeta
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“Há um tempo em que é preciso abandonar a roupas usada, que já tem a forma do nosso corpo, e"Fernando Pessoa-Plural como o universo " com curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenithe e o projeto assinado pelo cenógrafo Hélio Eichbauer chegou ao Rio em março para ocupar o espaço do Centro Cultural dos Correios e lá esteve até 22 de maio..
Outro presente editorial: lançado:"Dicionário de Fernando Pessoa e do modernismo português"(Editora Leya), organizado pelo especialista Fernando Cabral Martins,reunindo 80 colaboradores e 600 verbetes sobre o escritor (1888-1935) e sua obra.
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Dedico o texto abaixo à saudosa memória do Professor Catedrático da UFRJ José Carlos Lisboa,Mestre e Paraninfo que me abriu as portas do universo pessoano.
O Professor Lisboa honrou-com sua generosidade,senso de justiça e bom caráter- a delicada missão de ensinar.
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"O amor é que é essencial.O sexo é só um acidente.Pode ser igual ou diferente"
Três séculos e meio separam os maiores poetas da literatura portuguesa – o renascentista Luís de Camões (1524-1580) e Fernando Pessoa (1888-1935), introdutor do Modernismo em Portugal.
No entanto, a magnitude de suas obras lhes reservou um repouso comum no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa. Não existem indícios comprovados da sexualidade de Pessoa,apesar de ter escrito belos poemas homoeróticos em inglês, sua segunda língua. Jamais se casou embora tenha mantido um único romance epistolar em duas etapas: dois beijos em oito meses e, dez anos depois, alguns telefonemas durante 3 meses.
Frequentava o círculo transgressor, composto pelos amigos literatos e artistas e deixou 25.543 textos manuscritos e datilografados.
Desde criança inventava alter-egos - os heterônimos - cada um com uma história pessoal e personalidade definida. Todos os heterônimos (oitenta e seis) possuíam um mapa astral feito pelo próprio Pessoa que, em virtude de dificuldades financeiras, chegou a pensar em ganhar a vida como astrólogo.
Em 1928, trabalhando como redator em propaganda, fez polêmica campanha de lançamento da Coca Cola, responsável pela interdição do produto em Portugal.
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Fernando Antonio Nogueira Pessoa, filho de Joaquim de Seabra Pessoa e de Maria Madalena Pinheiro Nogueira nasceu e morreu em Lisboa.
Órfão de pai aos 5, tendo a mãe se casado outra vez, em 1895, com João Miguel Rosa, consul português em Durban. A nova família mudou-se para a África do Sul onde nasceram seus outros irmãos e irmãs.
Ali, surgiram o primeiro heterônimo (Chevalier de Pas) e o primeiro poema, dedicado à mãe.Toda sua formação básica foi em inglês, influenciada por Shakespeare e John Milton.
Aos 17 anos,
Pessoa voltou definitivamente para Portugal para ingressar na Universidade, mas, uma greve dos universitários, encerrou suas ambições.
Nunca foi além de Sintra e Cascais, nos arredores de Lisboa, e fez apenas uma única viagem ao interior de seu país. Em 1908, começou a trabalhar para firmas comerciais como correspondente e alugou um quarto para morar sozinho.
A Editora Ibis
A morte da avó paterna lhe rendeu uma pequena soma em dinheiro que foi aplicada num projeto malogrado: a Editora Ibis. Tinha 20 anos e já estava falido.
Entre 1912 e 1915, quando o Modernismo dava seus primeiros passos em Portugal, o poeta era crítico literário das revistas 'Águia' - que fazia a apologia da Renascença Portuguesa - e 'Orpheu' - que congregava o grupo artístico mais importante da época: Alfredo Pedro Guisado, Armando Cortes Rodrigues, Mario de Sá Carneiro, Santa Rita Pintor, José Pacheco e Almada Negreiros, entre outros
Em 1918, a publicação do longo poema 'Antinous' (no mais refinado inglês) juntamente com os 35 Sonnets provocou questionamentos sobre sua sexualidade.
Escândalo nas Letras
Um verdadeiro escândalo foi desencadeado em 1915 com a publicação de O Marinheiro e Chuva Oblíqua e, como Alvaro de Campos, da Ode Triunfal e Ode Marítima, poesias consideradas homoeróticas.
Com apenas dois números publicados, a 'Revista Orpheu' fez o Modernismo chegar a Portugal e agitou a opinião pública durante meses. Nesta época, Pessoa estreita as relações com aquele que foi seu maior amigo: Mario de Sá Carneiro, que logo viajaria para estudar na Sorbonne, em Paris
A mínima convivência era compensada por uma frenética troca de correspondência. Pouco tempo depois, Sá Carneiro se suicidou, deixando um bilhete de adeus para o amigo.
Heterônimos
O gênio multifacetado de Pessoa já havia criado alguns heterônimos fixos:
*Álvaro de Campos, engenheiro naval e poeta modernista, autor da Ode Marítima, Tabacaria e dos mais chocantes poemas de Pessoa
*Ricardo Reis,um médico monarquista e conservador exilado no Brasil que 'morreu' em 1919, autor de pequenas odes
* Alberto Caeiro, falso naïf e anti - intelectual, que escrevia sobre as coisas óbvias da vida *Bernardo Soares,contabilista,autor do Livro do Desassossego, mistura de aforismos, ensaios, sonhos e ficção que, publicado 50 anos depois de sua morte, trouxe-lhe a definitiva consagração mundial.
Estes alter-egos continuam sendo estudados por alguns psicanalistas, que os consideram 'manifestação esquizofrênica'. Mas, por outro lado, lindamente arrumada em formato de arte.
A saudade da convivência com Sá Carneiro e o fechamento da revista Orpheu mergulharam Pessoa na maior solidão de sua vida. Durante o dia trabalhava como modesto escriturário e tradutor, à noite bebia e fazia poesia publicada em algumas revistas literárias, mas sem a menor repercussão.
Ophelia
Neste deserto de emoção apareceu uma brisa, na forma de primeira e única mulher que povoou sua vida sentimental - Ophelia Queiroz, 19 anos, igualmente funcionária do comércio. O romance, na primeira fase, durou poucos meses e, nas cartas,Pessoa começava a tratá-la como uma criancinha.
Todos os críticos e estudiosos estão de acordo que este tom infantil não é inocente. Ophelia entra no jogo da 'infantilidade perversa' e da dupla personalidade, recebendo e respondendo cartas em que Álvaro de Campos a adverte que Fernando Pessoa não deveria ser levado a sério.
A mudança de Ophelia para o outro lado da Cidade, a morte do padrasto e a volta da mãe para Lisboa somados ao estado dos nervos do poeta, que se reconhece muito doente, arrefecem o pequeno entusiasmo que impulsionava a relação e, em 29 de novembro de 1920, uma lúcida e cruel mensagem encerra o namoro.
Dez anos depois aconteceu uma retomada, agora usando também o recurso da voz: já existiam telefones em Portugal.
Estranho amor
O crítico David Mourão Ferreira, que estuda as duas fases da correspondência amorosa, sugere que o fracasso desta aventura deveu-se à presença constante de Álvaro de Campos e que a relação de 1929-1930 era, na verdade, um ménage a trois virtual.
Ophelia, depois da natural fase de perplexidade, seguiu sua vida. A partir de 1936, começou a trabalhar no SNI - Secretariado Nacional da Informação - onde conheceu o teatrólogo Augusto Soares, com quem se casou em 1938, três anos após a morte de Pessoa.
Pessoa e a Propaganda
Em 1928, a agência McCann-Erikson decidiu lançar o refrigerante Coca Cola em Portugal. Com uma grande verba publicitária,
Pessoa foi contratado como redator e criador da campanha, já que trabalhava como tradutor nas correspondências da McCann com seus clientes portugueses.
O humor mordaz do poeta criou o slogan 'Primeiro estranha-se, depois entranha-se'. A campanha foi um sucesso, seguida de um enorme prejuízo financeiro.
O então Diretor de Saúde de Lisboa, Ricardo Jorge, entendeu que a mensagem publicitária era um explícito reconhecimento da toxicidade do produto e decretou a interdição de todo o estoque do refrigerante, que foi lançado ao mar.
Renúncia voluntária
O regime fascista fez com que muitos intelectuais portugueses se auto-exilassem pelo medo da prisão ou por não mais suportar as atitudes do governo Salazar.
O irmão Luís Miguel, residente em Londres e naturalizado cidadão britânico, tentou convencê-lo a recomeçar a vida fora de Portugal.
Pessoa chegou a pensar em partir, mas cansado, com cirrose hepática e o organismo devastado pelo álcool, resolveu ficar.
O Premio Nobel de Literatura José Saramago escreveu em 1998 ”O ano da morte de Ricardo Reis, onde conta a vida do heterônimo depois da morte de seu criador.
O que trará o amanhã?
Fernando Pessoa, que fez parte de uma geracão que abalou o mundo, morreu quase no anonimato.
Monarquista, adotou a liberdade dentro do conservadorismo bem ao estilo inglês de sua formação básica. Era anti-reacionário, opositor ferrenho à Igreja de Roma, seguidor da Kabbalah, da Rosacruz, da Maçonaria e membro da Ordem dos Templários.
Autor de versos de amor sem nunca ter se realizado afetivamente. Esotérico, traduziu obras de teor espírita para a língua portuguesa.
Em 30 de novembro de 1935, horas após ter escrito em inglês suas últimas palavras - 'I know not what tomorrow will bring' (não sei o que o amanhã trará),faleceu no Hospital São Luís dos Franceses, no Bairro Alto.
Reconhecido como o maior autor português do século XX o amanhã trouxe-lhe a fama e a riqueza, que ele jamais teve oportunidade de usufruir.
E a imortalidade, celebrada mundo afora em 2005, nos 70 anos de sua morte.
Mais uma vez no Brasil, na exposição do Museu da Língua Portuguesa e no Centro Cultural dos Correios no Rio e neste dia de seu nascimento- 123 anos depois- no maior site de busca da web .
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