sexta-feira, 9 de abril de 2010

Centenário de nascimento de Adoniran Barbosa


"Conferir ao Adoniran a função de defensor involuntário do combate preconceito linguístico é ampliar ainda mais o seu extenso currículo que acumula variadas e significativas funções. Diante da pluralidade cultural e linguística brasileira, Adoniran Barbosa não aceitava como propagava a diversidade encontrada na fala dos brasileiros. Ele “mirou um alvo” e atingiu em cheio, retratando um falar diferenciado do que é prescrito pela NGB (nomenclatura gramatical brasileira),há muito combatido por linguistas e estudiosos do português contextualizado no Brasil. A depreciação cultural é um marco do povo brasileiro que insiste em desvalorizar a sua cultura a começar pela fala"\



Mônica Guedes Jogas (UNESA)

Nataniel dos Santos Gomes (UNESA)

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"Iracema"

http://youtu.be/wtP3dTexAbE





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O Noel Rosa paulista


(1910-1982)




Três anos de pesquisa foram necessários para o jornalista Celso de Campos Jr. escrever a história de Adoniram Barbosa(Adoniran - Uma Biografia' Editora Globo, 1a edição/ 2004)relançada agora,por ocasião do centenário de nascimento do artista multimídia,compositor,cantor,humorista,ator e artesão.

Trajetória de vida que se confunde com a história da cidade de São Paulo e a do Brasil,


A desconstrução linguística, que emergiu do megulho do jeito de falar do paulistano mais humilde,é marca registrada de suas composições.Assim como os erros de concordância,verdadeiras anedotas.O nome artístico era o de um personagem de programa radiofônico, que "grudou" e se incorporou

João Rubinato era um dos sete filhos de Ferdinando e Emma Rubinato, imigrantes italianos da localidade de de Cavarzere,província de Veneza.Dizem os biógrafos que aos dez anos a certidão de nascimento foi adulterada para que o menino pudesse trabalhar para ajudar a família.

Ele trabalhava e logo deixou a escola porque -além de não gostar mesmo,a situação financeira dos famíiares era caótica e tinham alma nômade.Moraram em Valinhos, Jundiaí,Santo André e, por fim, se fixaram em São Paulo.

Em 1924, os Rubinato foram para Santo André, onde João foi tecelão, pintor, encanador, serralheiro e servia as visitas como garçon, na casa do então Ministro da Guerra Pandiá Calógeras.

Em São Paulo tentou ser metalúrgico, mas seus pulmões ficaram afetados pelo pó do ferro esmerilhado,semente do enfisema pulmonar que o matou.


Em Jundiaí ,aos 14 anos,foi entregador de marmitas que chegavam mais leves aos comensais, por um sistema muito pessoal e prático de distribuição de renda: "Se havia fome e, na marmita, oito bolinhos, dois lhe saciariam a fome e seis a dos clientes; se quatro, um a três; se dois, um a um".

O marmiteiro desejava ser artista e escolheu a carreira de ator. Não tinha instrução, physique du rôle(saquem a expressão marota e me digam se era adequada) e nem padrinhos influentes.

Mas o Brasil vivia a era do rádio,João Rubinato tinha boa voz e resolveu participar de um programa de calouros com o peseudônimo de Adoniran Barbosa – nome tirado de Adoniram um companheiro de boêmia e Luiz Barbosa um cantor de sambas.
Escolheu "Se você jurar" de de Ismael Silva e Nilton Bastos, mas foi gongado.Voltou ao mesmo programa cantando "Filosofia", de Noel Rosa e chamou a atenção pela forte personalidade.

Surge o heterônimo


Quando investiu na carreira de compositor,João Robinato gravou em vinil "Dona Boa",mas o sucesso não veio.

Tentou o papel de ator radiofônico e criou diversos personagens que lhe trouxeram popularidade, em programas escritos por Osvaldo Moles. É a partir dessas emissões radiofônicas que seu talento desponta de verdade: um avaliador sensível que transforma as experiências vividas em música cômica ou comédia musicada.Adoniran Barbosa, um dos tipos criados,toma a forma de heterônimo.

Saudosa maloca

A linguagem popular paulistana é o meio que divulga a mensagem: o discurso de Adoniran formata um painel sócioantropológico incrível e ainda atual da cidadania brasileira.

São as malocas (favelas em carioquês),os favelados despejados (oh, como está nítida a filosofia de AB nesse caso do deslizamento do Morro do Bumba em Niterói, retrato do desgoverno em que vivemos),engraxates,mulheres abandonadas,mulheres que abandonam o lar, a atropelada Iracema que atravessou na contramão, a solidão dos músicos, dos compositores e intérpretes e arranjadores, dos artistas plásticos, todos ainda hoje considerados outsiders.
A partir de "Saudosa maloca" e "Samba do Arnesto"gravados com os "Demônios da Garoa",veio a consagração.

O primeiro casamento não foi bem sucedido mas lhe deu uma bela filha,Maria Helena, de sensível coração-criada no Rio pelos tios.
Mas o segundo,com Matilde,durou a vida inteira

Matilde,sábia mulher, entendeu e até incentivou a boemia e trabalhava fora para ajudar nos momentos de falta de grana.Sem impedimentos, com o habeas corpus da companheira, Adoniran viveu para os botecos, a boemia e... para Matilde.

O preconceito era forte: de um lado meus conterrâneos cariocas teimavam em não aceitar o aposto "Noel Rosa paulista",por conta dos propositais erros de gramática e concordância.
Os paulistas mais esnobes não aceitavam as letras diferenciadas, achando" meio vergonhosas "
Uma certa gravadora ,inclusive,insultou um componente dos "Demônios da Garoa" que lhe foi apresentar uma música inédita de Adoniram, com algo similar aos tradicionais " nóis se metemos" "nóis não se importa","nóis fiquemos",etc.

Últimos tempos
Nos últimos anos de vida, o enfisema complicou a locomoção e cantar se tornou quase impossível.Sem poder sair de casa, passou a fabricar brinquedos movidos a eletricidade e virou um ourives:fazia,enfeites,pequenos objetos de uso pessoal e cigarreiras com pedaços de lata e madeira.
Até o fim,o humor continuou sendo sua marca registrada.
Adoniran Barbosa morreu na sua querida São Paulo,do Braz e do Bixiga, no dia 23 de novembro1982, aos 72 anos de idade
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Discografia ( a fonte? Wikipedia portuguesa,com certeza)

  • 1951 - "Os mimosos colibris/Saudade da maloca" (78 rpm)
  • 1952 - "Samba do Arnesto/Conselho de mulher" (78 rpm)
  • 1955 - "Saudosa maloca/Samba do Arnesto" (78 rpm)
  • 1958 - "Pra que chorar" (78 rpm)
  • 1958 - "Pafunça/Nois não os bleque tais" (78 rpm)
  • S/D - "Aqui Gerarda!/Juro, amor!" (78 rpm)
  • 1972 - "A Música Brasileira Deste Século -Adoniran Barbosa"
  • 1974 - "Adoniran Barbosa"
  • 1975 - "Adoniran Barbosa"
  • 1979 - "Seu Último Show" (Ao Vivo)
  • 1980 - "Adoniran Barbosa e Convidados"
  • 1984 - "Documento Inédito"
  • 2003 - "2 LPs em 1" (Re-lançamento dos LPs de 1974 e 1975)

[editar]Coletâneas

  • 1990 - "O Poeta do Bexiga" (Com interpretes de suas músicas)
  • 1996 - "MPB Compositores: Adoniran Barbosa" (Com participações e interpretes de suas músicas)
  • 1999 - "Meus Momentos: Adoniran Barbosa"
  • 1999 - "Raízes do Samba: Adoniran Barbosa"
  • 2001 - "Para Sempre: Adoniran Barbosa"
  • 2002 - "Identidade: Adoniran Barbosa"
  • 2004 - "O Talento de: Adoniran Barbosa" (Com participações especiais)

Principais composições

  • Malvina, 1951
  • Saudosa maloca, 1951
  • Joga a chave, 1952
  • Samba do Arnesto, 1953
  • As mariposas, 1955
  • Iracema, Adoniran Barbosa, 1956
  • Apaga o fogo Mané, 1956
  • Bom-dia tristeza, 1958
  • Abrigo de vagabundo, 1959
  • No morro da Casa Verde, 1959
  • Prova de carinho, 1960
  • Tiro ao Álvaro, 1960
  • Luz da light, 1964
  • Trem das onze, 1964
  • Trem das Onze com Demônios da Garoa, 1964
  • Aguenta a mão, 1965
  • Samba italiano, 1965
  • Tocar na banda, 1965
  • Pafunça, 1965
  • O casamento do Moacir, 1967
  • Mulher, patrão e cachaça, 1968
  • Vila Esperança, 1968
  • Despejo na favela, 1969
  • Fica mais um pouco, amor, 1975
  • Acende o candeeiro, 1972
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