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Homenagem ao “Pai da Bossa Nova” no Centro Cultural da Caixa
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Tive a sorte de estar presente naquele domingo, dia 10 de maio/2009
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A poucos dias de chegar aos 80 anos,Johnny Alf compositor,cantor e pianista tem ,nesse final de semana,seu talento homenageado com shows na Caixa Cultural do Rio de janeiro, espaço nobre na Avenida Chile,centro histórico da cidade.
Tudo começou para o público brasileiro quando o artista foi apresentado por Ronaldo Bôscoli como um dos pilares da bossa nova. na lendária “Noite do Amor, do Sorriso e da Flor”, em 21 de maio de 1960 no Anfiteatro da Faculdade de Arquitetura da UFRJ, na Praia Vermelha-o ponto de partida do movimento.
Alfredo José da Silva nasceu no Rio de Janeiro em 19 de maio de 1929 e é compositor, cantor, instrumentista (pianista) .
Filho de um cabo do Exército que faleceu quando ele tinha apenas 3 anos, a mãe -empregada doméstica -o criou trabalhando numa casa de família na Tijuca, zona norte da cidade,
Começou a estudar piano com a professora Geni Borges,amiga dos patrões .
Depois da musica clássica, veio o interesse pela música popular, em especial, pelas trilhas de filmes.
Era e continua a ser admirador de Cole Porter e Gerswhin.
Estudou no Colégio Pedro II.( olha só,ele também) e ao fazer inglês no Instituto Brasil-Estados Unido( olha só,ele também),foi convidado para participar de um grupo artístico do curso . Uma amiga sugeriu o pseudônimo Johnny Alf.
Ainda adolescente, já tinha sua própria banda e trabalhava num escrit orio no centro da cidade.
Talento reconhecido
Em 1952, Cesar de Alencar era a figura mais popular do rádio brasileiro,com um programa semanal aos sábados, campeão de audiência como ,por exemplo, é o “Fantástico” de hoje( foto-Johnny Alf inicia a carreira).
Cesar era proprietário de uma cantina e Nora Ney e Dick Farney, famosos cantores da época, o convidaram para tocar no local
Mary Gonçalves, atriz e "Rainha do Rádio" daquele ano, estava se lançando como cantora no
longplay “Convite ao romance” e escolheu quatro canções de Johnny: : Podem Falar, O Que é Amar, Estamos Sós e Escuta.
Mary ,privilegiada, teve nesse disco o piano de Alf, a guitarra de Zé Menezes, o sax de Quincas, o violino de Irany Pinto e a flauta de Ary Ferreira ,com direção musical e os arranjos orquestrais são de Lirio Panicali,um Maestro dos quadros da da Rádio Nacional do Rio de Janeiro
O primeiro disco solo em 78 rpm veio com Céu e mar e Rapaz de bem (1953), que são consideradas as precursoras da bossa nova.
Johnny Alf tocou nas boates.Monte Carlo, Mandarim, Clube da Chave, Beco das Garrafas e Drink
O crítico Jayme Negreiros, em sua seção "Discos", publicada em “O Jornal” no dia 21 de setembro de 1954, escrevia:
“A mais moderna interpretação posta em disco brasileiro até hoje, de um cantor nosso. O rapaz é artista mesmo, sente modernamente a música, conhece o piano, sua arte logo se espalha, o que ele faz com as frases é de uma naturalidade e de um jogo espontâneo tremendos”. No trabalho,lançado pela Sinter, Alf interpreta dois sambas canções: Dizem por aí (Haroldo Eiras e Victor Berbara) e Beija-me mais (Amaury Rodrigues).
Dois anos se passaram (1956) até o lançamento seguinte , pela gravadora Copacabana. Ali está o famoso Rapaz de Bem e O Tempo e o Vento, ambas de sua autoria. " Rapaz de Bem," dizem Jairo Severiano e José Eduardo (Zuza) Homem de Mello na A Canção no Tempo”, vol 1,
" "É a mais bossa nova das músicas que antecederam a bossa nova.
“Rapaz de Bem” é de autoria de um pianista muito ouvido e admirado pelos criadores do movimento”.
Ponte aérea musical
Em 1955 foi para São Paulo, tocando na boate Baiuca e no bar Michel, com os então iniciantes Paulinho Nogueira, Sabá e Luís Chaves.
*Em 1962 voltou ao Rio de Janeiro, se apresentando no Bottle's Bar, com o conjunto musical Tamba Trio, Sérgio Mendes, Luís Carlos Vinhas e Sylvia Telles. Também trabalhou no Litlle Club e no Samba Top com o conjunto formado por Tião Neto (baixista) e Edison Machado (baterista).
Em 1965 realizou uma turnê pelo interior paulista.
Professor de música no Conservatório Meireles, de São Paulo. participou do III Festival da Música Popular Brasileira em 1967
No ano passado a Coleção semanal Folha: 50 anos de Bossa Nova, homenageou o artista. dedicando a ele um CD/livro e resgatando a obra do “verdadeiro pai da Bossa Nova”, como o jornalista e editor da coleção assim denomina.
Tom Jobim (que só se referia a ele como Genialf) e Newton Mendonça adoravam e arranjaram Incerteza e Brigas , Duas Contas e Relógio da Vovó. O Que É Amar, Céu e Mar e Rapaz de Bem
Num festival da Tv Record –canal 7, Johhny apresentou composição Eu e a brisa, tendo como intérprete a cantora Márcia .Desclassificada no Festival,é no entanto,um clássico da MPB e um dos maiores sucessos de sua carreira.
E "que o inesperado faça uma surpresa" continua sendo o sonho de muita gente. Infelizmente, Johhny não conseguiu participar das comemorações do conquentenário da bossa nova, da qual é um das pedras fundamentais,porque estava lutando contra um cancer de próstata.E se recuperou bem,graças a Deus,mas se encontra em precárias condições financeiras,morando num local muito humilde e sem cuidados especiais para seu problema de saúde.
Não foi esquecido.Ganhou shows pelos oitenta anos em São Paulo e será homenageado ,aqui no Rio,nesse final de semana 8,9,10 de maio , no Centro Cultural da Caixa Econômica,(Almte Barroso esquina de Av Rio Branco) acompanhado de um quarteto de super instrumentistas de São Paulo. Justa reverência da cidade natal onde -pela primeira vez na nossa música popular- apresentou sambas com acompanhamento no estilo jazzístico
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Discografia de Johnny Alf
Fonte: Folha Online
"Rapaz de Bem" (1961) RCA LP "
Diagonal" (1964) RCA LP
"Johnny Alf" (1967) LP, CD
"Eu e a Brisa" (1968) Gold LP "
Ele é Johnny Alf" (1971) EMI LP, CD
"Nós" (1974) EMI LP, CD
"MPB 100 - Ao Vivo" (1975) Tapecar LP
"Desbunde Total" (1978) Phonodisc LP
"Olhos Negros" (1990) RCA LP "
Noel Rosa-Letra e Música. Johnny Alf e Leandro Braga" (1997) Lumiar CD
"Cult Alf - 40 Anos de Bossa Nova" (1998) Natasha CD "
Eu e a Bossa" (1999) Rob Digital CD
"As Sete Palavras de Cristo na Cruz. Pedro Casaldáliga e Johnny Alf" (1999) Paulinas Comep CD
"A Música Brasileira deste Século por seus Autores e Intérpretes-Johnny Alf" ( 2001) Sesc-SP CD *******************************************************************************************************
2 comentários:
O genial Johnny Alf
Com a partida do estelar Johnny Alf, com quem tive o privilégio de conviver e trabalhar no início dos anos 1970, escrevendo e produzindo shows, volta a se divulgar mais uma tolice, mais um falso bordão da famigerada “história oficial da Bossa Nossa”, cheia de ficções, mentiras e deturpações de toda ordem. A reincidente besteira consiste em chamar Johnny Alf de “precursor” da Bossa Nova. Grave e medonho erro. São três osprincipais compositores, os três pilares autorais, composicionais, da Bossa Nova, estética nascida na segunda metade da década de 1950. Três músicos geniais. O pianista e compositor Newton Mendonça (1927-1960), o mais importante compositor do estilo, quem mais alto e longe foi na estruturação composicional, na sistematização melódica e harmônica da Bossa Nova, quem verdadeiramente foi vanguarda, mais ousou, mais transgrediu e promoveu mais invenção. Foi grande amigo de Johnny Alf. Este foi quem, pela primeira vez, me falou de Newton, e com muito entusiasmo, carinho e admiração. O outro é Tom Jobim (1927-1994), primeiro e fundamental parceiro de Newton, que a este sobreviveu 34 anos e com quem formou a principal dupla criadora da Bossa Nova. A parceria New-Tom compôs os hinos, as fundamentais e mais influentes matrizes da Bossa Nova. E o terceiro pilar, anterior a Newton e Tom, e deles mestre, foi Johnny Alf (1929-2010), pianista virtuosíssimo, cantor único e compositor precioso, que cometeu as primeiras ousadias melódicas, harmônicas e rítmicas e, mesmo antes da batida definidora de João Gilberto, é responsável pelas criações basilares do estilo. Negro, pobre e órfão de pai, nascido no Morro da Mangueira, Alfredo José da Silva, filho de uma empregada doméstica, criado em Vila Isabel, incrivelmente parece ser a mais nobre dissonância, culta, sofisticada e afinadíssima, de um tipo de música que surgiu entre os meninos brancos, de classe média alta, da Zona Sul carioca. O sintetizador de todo o processo desenvolvido na década de 1950, o criador do novo ritmo e estilo, da batida rítmica, o definidor da revolucionária harmonia, do novo samba, foi João Gilberto (1931), discípulo também de Johnny Alf. Os jovens Newton, Tom e João Gilberto, assim como Carlos Lyra, Menescal, João Donato, Luiz Eça, Ronaldo Bôscoli, entre outros, formavam a mais assídua platéia do pianista e cantor Johnny Alf nas boates Mandarim (onde revezou com Newton), Clube da Chave, Drink e Plaza. As canções de Johnny Alf, Newton Mendonça e Tom Jobim favoreceram e estimularam a revolucionária criação de João Gilberto. As músicas dos três compositores se adequaram perfeitamente à forma de João Gilberto tocar e cantar. Suas estruturas e características pareciam ter sido feitas especialmente para João, que as acolheu, assumiu-as, vestiu-as com a nova batida e inusitada interpretação, e construiu definitivamente a estética, transformando o baiano de Juazeiro no maior e insuperável intérprete da Bossa Nova. Tom Jobim declarou, por algum tempo, que, se querem dar “um pai” à Bossa Nova, ele é Johnny Alf.
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