sábado, 18 de janeiro de 2025

LEONARDO DA VINCI. #TBT

 205 obras de Da Vinci por datas:

pinturas, esboços e estudos

 fonte WIKIART

https://www.wikiart.org/pt/leonardo-da-vinci/all-works#!#filterName:all-paintings-chronologically,resultType:masonry

1452-1519


Leonardo Da Vinci passou pelas amarguras da intolerância, na Inquisição.

No ano de 1476, compareceu perante o tribunal de Florença para responder à acusação de sodomia,

A pena legalmente prevista era a morte na fogueira, mas ele acabou absolvido por falta de provas. 

A absolvição permitiu que  vivesse mais 43 anos deixando um acervo incomparável de obras artísticas, científicas e culturais. Uma fogueira chegou perto de privar o mundo de uma das figuras mais extraordinárias de todos os tempos.

Da Vinci é o símbolo do homem da Renascença, escultor, inventor, músico, astrônomo, pintor, anatomista e fisiologista, químico, botânico, ferreiro, mecânico, arquiteto, engenheiro, filósofo, matemático, homem belo e forte, excelente esportista - ótimo nadador e cavaleiro - 

Da Vinci padeceu do preconceito que atingia os bastardos e os trangressores e teve sua vida envolvida em sombras por muito tempo. 

Finalmente, o mistério foi desvendado por inteiro. Já se conhece o nome de seu último companheiro e herdeiro da obra e dos bens: Francesco Melzi, (foto da direita), um pintor alguns anos mais novo.

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Filho do  tabelião Piero e da camponesa Caterina, nasceu em Vinci, cidadezinha próxima a Veneza, em 15 de abril de 1452. Sua entrada na Universidade foi negada em virtude da origem bastarda sendo, então, privado da educação humanística disponível na época. 

Ele mais que compensou esta falha educacional ao se transformar no maior gênio da humanidadede nos dois últimos milênios

Dedicou-se a temas tão diversos quanto a cinemática, as causas das marés, o mecanismo do movimento do ar nos pulmões, hábitos noturnos das corujas, as leis físicas da visão humana e a natureza da Lua. 

Inventou urn máquina voadora, elaborou teoremas geométricos, desenvolveu diversos estudos hidráulicos, concebeu o vapor como meio de propulsão, escreveu poemas, fábulas e máximas filosóficas. 

O primeiro robô humanóide lançado pela NASA foi inspirado nos desenhos de Leonardo Da Vinci. 

Em 1991, Donald Calne, revendo os manuscritos encontrados no palácio de Windsor, concluiu que ele já conhecia a doença de Parkinson. Foi aluno de Andrea del Verrochio, pintor ligado à poderosa família Medici, que o protegeu.


Em 1476, enquanto ainda morava na casa de Verrochio foi acusado da maior das vilezas na época: sodomia. 

O “alvo”: Giacomo di Caprotti, (foto) um jovem modelo de 17 anos, com quem acabou se relacionando durante 20 anos. 

Embora a Florença daqueles dias acolhesse os homossexuais, acusações desta natureza causavam sérios danos às carreiras de artistas dependentes de patrocínio, especialmente os que contavam com a chancela da Igreja Católica. 

Para escapar deste escândalo, mudou-se para Milão onde desenhou equipamento militar para o Duque Ludovico Sforza: armas manuais, projéteis, lança-chamas, canhões e arcos para arremesso de pedras e flechas. 

Os traumas da rejeição social e do preconceito fizeram Leonardo fechar sua vida privada a sete chaves. 
Sempre cercado por belos jovens, seus desenhos de genitálias, esboços de nus e escritos mostravam grande apreço pela beleza masculina e não há registro de amizade mais íntima com mulheres. 

Pinturas femininas perfeitas, só do colo para cima. Quando se arriscava a ir mais fundo,  os genitais femininos, segundo críticos, ficavam distorcidos e mal resolvidos.

De acordo com seu diário, Da Vinci manteve relações bem próximas com seus estudantes, mas não era promíscuo. 

Além da relação com Giacomo di Caprotti, teve, nos últimos anos, a companhia  constante do também pintor Francesco Melzi, aristocrata da Lombardia, que foi seu testamenteiro, herdeiro universal e administrou o acervo.

Com de mais de 5.000 manuscritos  detalhavam inventos em ótica, acústica, mecânica dos fluídos, hidraullica, vôo, astronomia, anatomia e armamentos, pontes portáteis, túneis subterrâneos, navio à prova de bombas, formação de chuvas. 

As invenções eram protegidas, pois já naquela época havia a espionagem industrial e roubo de direitos autorais. 
As idéias de Leonardo Da Vinci eram inacreditáveis e impraticáveis para seu tempo. 

Ao visitar uma exposicão em Amboise 
(França),patrocinada pela IBM, com maquetes construídas a partir de seus esboços, fiquei me perguntando se ele viajou no tempo ou se recebeu a visita de um viajante do futuro.

Pois lá estavam, entre tantas outras, o bate-estacas das construções modernas, a caixa de marchas dos automóveis, a bicicleta, o tanque de guerra, o helicóptero. 

Descobriu a glândula tireóide, estudou a placenta, o cordão umbilical e as vias de nutrição fetal. 
Estudou o coração, concluíndo que esse órgão é massa muscular alimentada por artérias, possuindo veias, como os outros músculos. 
Intuiu ainda o princípio da sustentação do "mais pesado que o ar". 

Técnicas revolucionárias compensaram o “pequeno” número de pinturas, se o compararmos com outros artistas, mas elas se tornaram as mais valorizadas do mundo.

A primeira encomenda para pintar o mural do refeitório da Igreja Santa Maria delle Grazie, em Milão, resultou no afresco “Última Ceia” (1495-1498) onde Da Vinci usou técnicas pioneiras, admiráveis pelo uso da perspectiva, mostrando, também, detalhes psicológicos dos componentes da mesa. 

Esta “Última Ceia” começou a se deteriorar 50 anos após seu término. 
Mesmo muito comprometida e desgastada,a obra teve e tem uma primordial importância na História da Arte. 

Da Vinci tornou-se grande amigo do maior político e escritor daqueles tempos: Niccolo Machiavelli.

Na idade madura, foram elaboradas as obras mais conhecidas: Mona Lisa, Leda e São João Batista. 

A Mona Lisa, ou Gioconda, exposta no Museu do Louvre é seu quadro mais famoso e ambíguo. 

Embora tenha sido apresentado  ao mundo como o retrato da mulher do comerciante Francesco del Giocondo, alguns experts em Da Vinci especulam sobre a possibilidade de ser uma reprodução da figura da mãe do artista ou, mesmo, sua auto imagem em travesti. 

Em 1507, começou a trabalhar para Francisco I ,sucessor de Luís XII no trono da França - e aceitou o convite para morar em Cloux, perto de Amboise, no castelo que ganhou do soberano. 

Precisou voltar à terra natal para resolver pendências relativas à herança do pai, e lá ficou até 1511, ano em que conheceu Francesco Melzi, último companheiro, a quem confiaria, ao morrer, todos os seus manuscritos, todos os bens, todos os esboços, todas as pinturas.

Leonardo da Vinci morreu em Cloux (2 de maio de 1519), nos braços do Rei da França.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Carson McCullers. Esplendores e trevas. Brilhos e abismos.

 

O universo gótico de Carson McCullers

 



  



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As aparências enganam. Criança solitária, pianista e concertista com carreira interrompida por febre reumática, Carson McCullers escolheu a literatura para extravasar seu enorme   talento.

 

Sua imagem frágil não combina com a  da transgressora temida que, ao escancarar em seus livros as hipocrisias  escondidas debaixo dos tapetes da sociedade americana, viu-se ameaçada de morte pela  Klu Klux Klan – a organização de extrema direita  que incita  o ódio racial e aos homossexuais. 


A história de dois surdos-mudos - em "O coração é um caçador solitário" (The Heart is a lonely hunter”) -  tornou Carson Mc Cullers famosa da noite para o dia. 


Em 1967,  John Huston adaptou para o cinema seu livro " Reflections in a golden eye” ( Reflexos em um olho dourado). No filme - “Os Pecados de Todos Nós”, na versão brasileira - Elizabeth Taylor e Marlon Brando protagonizam uma história de infidelidade, voyeurismo e homossexualidade reprimida que chocou os Estados Unidos.


Um casamento complicado  - que terminou no suicídio do marido - também não faltou como fermento para fazer crescer o bolo. Receita não muito leve, que inclui pitadas de “esplendores” e “iluminações’, seguidas de períodos de trevas, onde “a alma se arrasava”.


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Lula Carson Smith nasceu em 19 de Fevereiro de 1917 em Columbus, Georgia, uma região conhecida como The Deep South - o Sul profundo.

   

Começou a estudar piano aos dez anos, para realizar os desejos da mãe, apaixonada por música e do pai, relojoeiro. 


O diagnóstico de uma doença reumática progressiva interrompeu os planos e Carson resolveu canalizar seu potencial para a  literatura.


Devoradora feroz das obras de Dostoyevski, Chekhov, Tolstoi e  Eugene O'Neill, ainda  adolescente  escrevia peças  teatrais. 


Em 1933, decidida a ser escritora, parte para Nova York, onde teve seu primeiro conto, “Wunderkind”, publicado um ano depois. Não por acaso, trata-se da história de uma jovem pianista que perde o “dom “ musical durante a passagem da adolescência para a idade adulta.


O primeiro sucesso literário foi o estímulo para que Carson se matriculasse na Universidade de Columbia,  em curso de   redação criativa.

 Esta relação mal resolvida  com a carreira abandonada vai se apresentar sempre na estruturação de suas obras. As palavras eram escolhidas com cuidado, para  que soassem como música.  


O casamento


Pedida em casamento por James Reeves McCullers, seu colega na Universidade,  o casal passou a morar no antigo apartamento de solteiro de James, em Charlotte, Carolina do Norte, onde foi escrito o texto “The Mute”.          


Mc Cullers trouxe,  além do novo sobrenome irlandês, mais problemas para as neuroses de Carson. Ambos eram bissexuais, mas as mulheres por quem Carson se apaixonava, costumavam rejeitá-la.  Uma exceção foi Annemarie Schwarzenbach, que vivia entre a nata da sociedade e da intelectualidade de seu tempo, mas soube captar a essência de Carson, no curto tempo da relação que tiveram.


Havia o fantasma do alcoolismo rondando e  uma competitividade intelectual de verdade,  onde Carson era sempre vencedora com sua mente brilhante.

Carson, Reeves e o compositor David Diamond  viveram uma relação triangular, cujo caráter obsessivo e  não convencional foi  o mais importante na vida afetiva de  Carson e pontuou   o tema central de sua obra : a solidão no amor. 


Talento Reconhecido


Muito pouco editada em Português, as primeiras obras de Carson Mc Cullers saíram  de um só fôlego : “The Heart Is a Lonely Hunter”, a história de dois surdos mudos,  Reflections on a Golden Eye” ( publicada em duas partes no “Harper’s Bazaar’),  “The Ballad of the Sad Café” e ‘The Member of the wedding”.

Em março de 1942,  recebeu sua primeira premiação - o  “Guggenheeim Fellowship”. O projeto de usar o dinheiro do prêmio para se dedicar a escrever durante férias no México foi abandonado em virtude de sua frágil constituição física.


              Iluminações e trevas


A história pessoal de Carson é das mais trágicas da literatura americana.

Sua problemática clínica e psicanalítica, preencheria vários prontuários médicos.  

Períodos de “iluminações” e “esplendores”, de onde surgiam as obras clássicas do gótico sulista, eram seguidos de  “trevas assustadoras” que a levavam a falar, seguidamente, em suicídio. A mãe de Carson acreditava que estas crises se deviam à excessiva leitura das obras de Dostoyewski..... 

 

O casamento acabou em divórcio, houve um recasamento  anos após e a conjugação de todo esse estresse resultou   numa espécie de roda da fortuna  com seus altos e baixos : honrarias literárias, prêmios, fama, depressão, mudança de domicílio para a França, honraria, prêmios literários, traqueostomia, aborto, delirium tremens, paralisia, ménages à trois, cancer, cadeira de rodas, derrame cerebral, mais prêmios e honrarias, mais depressão e assim por diante.


Esta trajetória cruel durou até 15 de Março de 1967, quando a escritora  finalmente - para usar um chavão popular que se mostra bem apropriado -‘descansou”, semanas após completar 50 anos.

  

Gótico Sulista


Os contos fantásticos de terror, paranóias e loucuras de Edgar Allan Poe, foram a grande influência do movimento gótico - que remonta ao século XVI - na literatura norte-americana.

William Faulkner, Nobel de 1949, deu continuação aos romances psicológicos e simbólicos, tendo como palco  o sul dos Estados Unidos.

A CASA NATAL
Os escritores sulistas que seguiram a tradição de Faulkner participaram do chamado “movimento gótico sulista”.   

Faziam parte do grupo de Carson Mc Cullers, entre outros : os escritores Eudora Welty, Flannery O’Connor, Truman Capote, T.S.Elliot e Isak Dinesen, a fotógrafa Diane Arbus e o pintor Francis Bacon, com as suas telas retratando seres distorcidos.   


O imaginário de Carson - povoado de personagens auto-destrutivos, que se julgam monstruosos e extravagantes com suas insanidades, deformações e perplexidades e a bipolaridade luz/sombra – reflete esplendores e trevas, mundos entre os quais ela transitou como uma equilibrista apoiada num fino fio, a muitos metros de altura e sem rede de segurança. 



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sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Alan Turing e a maçã envenenada

 

 


Em 2019,foi nomeado ícone do século 20 pela BBC.*

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Morrer da Cura                  

Durante 2012, ano do centenário de nascimento de Turing, a comunidade científica mundial organizou eventos para lembrar a genial figura.
No Brasil, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul liderou as homenagens.


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Em 7 de junho de 1954, Alan Turing - considerado o pai dos computadores, matemático, criptólogo que decifrou as mensagens da máquina Enigma que mandava as ordens de Hitler para seus comandados - mordeu uma maçã mergulhada em cianureto de potássio no seu quarto, em Wilmslow, Cheshire,Inglaterra.

Por ironia, ao dar queixa à polícia de roubo praticado por um garoto de programa, passou de vítima a réu.

Condenado por prática de homossexualidade, teve o “benefício” de optar entre o encarceramento ou se submeter a tratamento hormonal - uma espécie de castração química.

Turing optou pela segunda hipótese mas,  não resistiu à depressão causada pelos efeitos dos estrogênios, hormônios femininos inoculados em seu organismo.
Apenas em 1969,  o Reino Unido descriminalizou a opção sexual de quem “pensava diferente”. 



Minibiografia de Alan  Mathison Turing

O diplomata britânico, servindo na índia, Julius Mathison Turing e sua esposa grávida Ethel Sarah  desejavam que seu filho ou filha tivesse nacionalidade inglesa e deixaram Chatrapur em direção a Paddington, onde  Alan nasceu, em 23 de junho de 1912. 
 

Deixaram o bebê e seu irmão mais velho com amigos ingleses até a idade escolar, pois "eram muito solicitados para viagens".

No período de seis anos, compreendido entre o aparente abandono explicado como o “desejo de não colocar em perigo a saúde das crianças, que estariam em constante contato com as moléstias existentes na colônia inglesa” e a matrícula no Colégio St. Michael, o menino aprendeu a ler sozinho em 3 semanas e mostrou grande interesse por números e quebra-cabeças.

A genialidade, logo percebida por todos os professores, fez com que fosse  matriculado em Sherbone (em Dorset), aos 14 anos.

O primeiro dia de aula coincidiu com uma greve geral no país. Turing estava tão ansioso que correu os mais de 30 km que separavam Southampton da nova escola, em tempo recorde. 
A façanha foi  noticiada na imprensa local.

Tomou gosto pelo desafio do esporte e tornou-se maratonista. 
Em 1949, concluiu a prova em 2 horas, 46 minutos e 3 segundos,  disputando  classificação  para os Jogos Olímpicos. Uma perna quebrada encerrou a carreira  e os pódios. 

Mas o  grande interesse era mesmo direcionado à matemática e Turing não se adaptava bem aos cursos normais de Sherbone.
Assim, aos 16 anos, teve contato com os trabalhos de Einstein. 

Captou a essência, compreendeu  a mensagem e apoiou as críticas de Einstein às leis de  Newton.

Este período foi acompanhado e, sobretudo, apoiado por  Christopher Morcom, um jovem igualmente genial  e primeiro namorado, que morreu em uma epidemia de brucelose. 

Abalaram-se  as ambições e afetou-se para sempre  a sensibilidade amorosa de Alan Turing. 
Para honrar a memória de Morcom, dedicou-se ainda mais aos estudos. 
Foi aceito no King's College, Universidade de Cambridge e foi  discípulo de Harold Hardy, matemático famoso.
 
Em 1935, aos 23 anos ,Turing  foi nomeado professor do King's College, já reconhecido  como brilhante pensador.  

Primeiros estudos sobre computação

Em 1938, depois de passar dois anos na Universidade de Princeton, orientado por   Alonzo Church, obteve seu Doutorado. 
A tese era sobre o conceito de hipercomputação. 

Alan imaginou uma máquina capaz de fazer qualquer tipo de cálculo, desde que lhe fossem dadas as instruções necessárias.  Não se falava em chips ou processadores, apenas fórmulas  matemáticas, mas, ali  estava a descrição do que conhecemos hoje como computador.

No estudo "Os números computáveis  aplicados ao   “Entscheidungsproblem" (publicado em 1936), foi reformulada a linguagem  formal universal  para o que se conhece como “Máquina de Turing”: resolve qualquer problema matemático que se possa representar  por um  algoritmo. 

Continua sendo uma importante ferramenta para estudos de Matemática Pura.
O Pai do moderno computador é considerado, também, o fundador da ciência da computação e o primeiro a desenvolver o conceito de inteligência artificial.

Decifrando o Enigma

Durante a segunda guerra mundial, Alan Turing foi  um dos principais pesquisadores em  Bletchey Park - centro secreto do serviço de inteligência britânico.

Ali,  realizou trabalho fundamental  de criptografia, que ajudou a mudar os rumos da segunda guerra mundial: quebrou o código de comunicações entre o alto comando  de Hitler.
 
A máquina,   chamada Enigma,  usava um  sistema de engrenagens que misturava as letras - como cartas de um baralho - antes de serem transmitidas pelos telégrafos.
Turing imaginou o  Colossus - que um biógrafo chamou de “tataravô do PC “ - e chegou a decodificar cerca de 50  mil mensagens por mês.

Enquanto  homossexuais usavam triângulo rosa nos campos de concentração, um matemático homossexual -literalmente- zombava de Hitler, ajudando a abater submarinos e aviões germânicos  e  inventava um teste - Teste de Turing - para decidir se máquinas pensam ou não.

 Em 1942,  foi aos Estados Unidos decodificar os códigos japoneses e conheceu   Claude Shannon de quem se tornou muito íntimo.

A quebra do código do Enigma  foi mantida em segredo até os anos 70. Nem  amigos mais próximos e nem a  família jamais tiveram idéia do que se passou.
 
Tempos finais

Em 1952, um garoto de programa encontrado ao acaso e acompanhado de um cúmplice assalta a casa do gênio. 
Durante a queixa, dada na delegacia próxima, o policial pergunta  como conheceu o acusado. 
Acontece que, naqueles tempos, assumir a orientação sexual significava receber acusação de “manifesta indecência e perversão “, segundo as leis britânicas sobre sodomia.
 
 A mídia internacional  acompanhou cada segundo do julgamento e informou a sentença: ou dois anos de encarceramento ou  um ano  de tratamento de “redução da libido”,  à base de hormônios femininos.

Cresceram os seios e muitos outros efeitos secundários da overdose de estrogênios, mas Turing optou pela possibilidade de, livre, continuar trabalhando. 

Consagrado em 1951 como membro da  Royal Society, a partir do episódio de 1952 foi eliminado dos grandes projetos científicos.

Na manhã de 8 de junho de 1954, a  faxineira encontrou o corpo de Turing.
Na véspera, revelou a necropsia, ele havia se  deitado e  mordido uma maçã mergulhada numa jarra com cianureto de potássio.

Era admirador fanático do filme de Walt Disney  “Branca de neve e os 7 anões” que viu pela primeira vez em 1938, em Cambridge, e reviu dezenas de vezes.

Durante o tratamento hormonal cantava compulsivamente um trecho da trilha da película  que dizia no original  “mergulha a maçã  na jarrinha e deixa a morte, que nos adormece, entrar”.

O homem  que morreu desonrado  e rejeitado  também revive, para sempre, na   bela biografia  escrita   pelo matemático Andrew Hodges, em 1983.

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* Programa  da BBC que escolheu Alan Turing como personalidade do século
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

a seguir> As avós da Plaza de Mayo. em elaboração

 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Nada contra o peru. - Meu texto de Natal. #tbt

 

 





 


25 de dezembro : apenas uma data no calendário,mas como dói..

Agora, dor acrescida por familias divididas pela
   política do ódio bolsonarista.



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Ho Ho, a época permite um texto levemente confessional.



Nos jurássicos Natais antes da globalização, lá na Idade da Pedra das emoções,o quesito consumo - salvo nas casas milionárias - era fraquíssimo.

Cada criança recebia “ O” presente, e que lambesse os beiços. 

Lá pelas tantas, ganhei a tão esperada boneca, acrescida de cabelos naturais, um plus originário dos bulbos de alguma trança desconhecida. 

Encantada com as madeixas e com o brinquedo, batizei-a, imediatamente, de Elizabeth.


 Como a então jovem e sorridente Rainha da Inglaterra.


Comida havia, e muita, ao redor da mesa de Natal. Culpa? Acho que sim, mas enrustida.. talvez na tentativa de suprir o que faltava nos outros 364 dias. 

E quando se descobria que Papai Noel não existia, era uma tragédia.

Escaldada pela decepção, jamais fiz isso de iludir meus filhos.


Mesmo com as famílias detonando a cabeça das crianças, não havia a popularizacão da psicanálise e quem ia a um terapeuta dizia que a consulta era com um neurologista.


E passava a ser olhado de lado, com desconfiança, era maluco.

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Em compensação, não havia endividamento estimulado pela mídia, já que- quando você compra seu carrão em 90 meses, embriagado pelos anestesiantes comerciais de tv- fica devendo até as próximas datas magnas da cristandade, ou pelo resto da vida.


A verdadeira História


Teria sido bem mais simples se tivessem nos contado a verdade. Inspirado em São Nicolau (barba branca, roupa vermelha), o Papai Noel da lenda viajava num trenó puxado por renas, enquanto o Santo montava um burrico.


A reforma protestante do século 16 eliminou a festa de São Nicolau, mas os holandeses preservaram seu Sinter Klaas ( nome holandês para São Nicolau).


Quando emigraram para os Estados Unido, Sinter Klaas virou Santa Claus. 


Um conto de 1821, de autoria de Clement Clarke, “The night before Christmas” (A véspera de Natal), contava que Papai Noel  visitava a Terra em sua carruagem puxada por 9 renas. 


Em 1863, o ilustrador Thomas Nast, do jornal  novaiorquino “ Harper's Illustrated Weekly “ , desenhou a figura barriguda, jovial, de barbas brancas e nariz lustroso que chegou até nós.


Curioso que no Brasil, salvo no Nordeste, no interior e em alguns lares mais conscientizados das cidades grandes, o aniversariante do dia 25, o que nasceu na manjedoura, é esquecido.


Em prol da figura criada em 1931 para campanha publicitária da Coca Cola, com fins específicos de incrementar o consumo da bebida e o comércio dos brinquedos.

  • É surreal um Papai Noel com neve nas barbas,derretendo no clima tropical de dezembro no Brasil.
  • Acho um absurdo, aliás, o povo se empapuçar de nozes,castanhas a avelãs num calorão desses.Aqui em casa, sirvo gelatinas,tortas frias e comidas leves.


Esqueceram do aniversariante(perdão pela obviedade outra vez)


Os primeiros presépios apareceram nas igrejas no século 16,montados pelos jesuítas.Os presépios das igrejas de Praga-construídos em 1562, estão entre os mais antigos conhecidos.

Aos poucos foram entrando nos lares,feitos de pequenas figuras de vidro,porcelana,cera, miolos de pão ou esculpidos em madeira.


Nos anos 30, aqui no Brasil, os integralistas tentaram introduzir no nosso Natal a figura do "Vovô Índio",saído das florestas,de tanga e cocar,trazendo briquedos educativos para as crianças brasileiras.

É ruim,hein? Não rolou.


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Cristovam Camargo, criador do personagem,chegou a publicar um livro sobre o assunto,com lendas aborígenes para ver se convencia e incrementava a mudança.Também não rolou.


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Para seguir a tradição, manda o protocolo que neste dia tão especial  se reúna o agrupamento heterogêneo chamado família,ao invés da confraternização com os amigos, aqueles que participam do dia a dia, que guardam segredos, aconselham e consolam.


Com eles a gente toma um café antes ou depois da festa,todos nós reféns do calendário.


O Natal, não deveria ser (mas ainda é) aquela festa linda em que as famîlias dispersadas durante o ano, se reúnem frente ao peru assado.

Espero que, com o tempo, a mesma globalização que liquidou bonequinhas de porcelana com nome de rainha ajude a abrir as mentes e os coracões.


Nada contra o peru!

Gondwana. Laurásia e Pangeia > a seguir

Pangeia   CONTINUA

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