quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

História do carnaval carioca. Texto 2 FIM

 



 A festa  de rua já era chamada de "carnevalo” e assim viajou no tempo até a “Belle Epoque” - final de século 19/comecinho do século 20 - quando continuava a atrair as populações que vinham admirar carros decorados e pessoas fantasiadas.


Travestismo consentido

Nos álbuns fotográficos das famílias cariocas, no passado recente, havia pelo menos um grupo carnavalesco alegre, saindo para um banho de mar à fantasia, uma batalha de confetes, ou para assistir ao desfile dasSociedades e Préstitos, os avós da moderna Escola de Samba patrocinada.
Numa dessas fotos : banal, simples e corriqueira,

minha mãe, ainda solteira,de terno de tropical branco, chapéu panamá e bigodes feitos

com rolha queimada, acompanha seus três irmãos

vestidos de baiana, havaiana e melindrosa, maquiados e com unhas pintadas,num travestismo consentido e estimulado pela sociedade


Ritual


O Carnaval foi Introduzido entre nós pelos

portugueses no século 17, com o nome de entrudo,

festejo remanescente das festas daGrécia antiga, das bacanais romanas, das danças macabras medievais, todas elas depois aglutinadas e transformadas nos bailes de máscaras da Renascença.

O Carnaval não era uma festa, mas um ritual. A data

móvel de sua celebracão é herança do momento

histórico em que se decupava o tempo em períodos de 40 dias.



A Quaresma, período que vai da Epifiânia ( Dia de

Reis) à quarta-feira de Cinzas, servia para ligar o


profano ao sagrado.

O Carnaval permitia os derradeiros excessos quando

a Igreja, em seus primeiros séculos, preparava o cerne da festa de Páscoa, vinda das antigas comemorações pelo término do inverno no Hemisfério Norte.
 

Neste momento, as regras sociais eram invertidas:

os senhores se fantasiavam de escravos e, durante 5 dias, os escravos se transformavam em senhores.
Na Idade Média, a festa se realizava nas igrejas e a missa era dita ao contrário - começava com a Eucaristia e terminava com os Atos de Penitência - os ricos se fantasiavam de pobres, os pobres de ricos, as crianças se vestiam de adultos e os adultos de criança.
Origem da palavra
Com a cristianização do calendário, as festas pagãs

foram rebatizadas.

Fevereiro era o tempo de “Carne levare levamen”,

quando eram degustados pela última vez os pratos gordurosos, antes da entrada em quarentena, a ”quadragésima”, palavra que evoluiu para Quaresma.


Quarenta dias de comidas “magras” até a chegada

da Páscoa.

Outras teorias remontam o termo a "carrus navalis”, carro que distribuía vinho ao povo durante a festa de Isis, deusa egípcia adotada por gregos e romanos.

No século 13, a festa de rua já era chamada de

"carnevalo” e assim viajou no tempo até a “Belle

Epoque” - final de século 19/comecinho do século 20 - quando continuava a atrair as populações que vinham admirar carros decorados e pessoas

fantasiadas.
Entrudo

A palavra portuguesa "entrudo" e o galês "

entroidovieram do Latim

"introitu", que significava entrar na Quaresma e, por

metonímia, o tempo que vem antes da Quaresma. Ou seja, o Carnaval.

Mascarados, os foliões se aproveitavam do

anonimato para atitudes ilícitas e imorais. 


A Igreja em Portugal, que criou o "Jubileu das 40

horas” e decretou leis severas em 1817, mesmo assim não conseguiu conter a violência

da festa, nem o terremoto que praticamente destruíu

em 1755 e diminuiu a sanha das brincadeiras agressivas.

A festa popular chegou por aqui durante o período colonial e se estendeu pela monarquia, com toques de sadismo.
As pessoas atiravam umas nas outras água em

limões de cera ou saquinhos com pó, farinha, cal ou o que tivessem nas mãos.
O primeiro baile de carnaval aconteceu no Rio de

Janeiro em 1840,organizado para divertir a Corte.


Em 1846, foi criado o “Zé Pereira”,
grupo de foliões com bumbo e tambores.
A Maestrina Chiquinha

Gonzaga

(foto) [inovou os festejos

com seu“Abre Alas”(1899).
A partir daí, o Carnaval passou a ter composições

especialmente elaboradas :

marcha-rancho, o samba,

a marchinha, o samba-enredo e o

frevo, além da batucada
.
Com a chegada do automóvel, o

corso - desfile de carros decorados -

levava famílias inteiras ao centro das cidades, onde


as batalhas de confete e serpentina faziam a alegria

geral.

Desigualdade carnavalesca
Proibido pela violência que continha, o entrudo

evoluiu parabrincadeiras mais amenas com

elementos lúdicos como os citados confete, serpentina e mais o famoso lança-perfume. Até ser proibido pelo breve

Presidente Jânio Quadros - nove meses de governo,

até renunciar em. 25/8/1961 - o lança-perfume era

elemento indispensável na bolsinha/adereço de qualquer folião, mesmo mirim.
 


Mesmo ali prevalecia o

desnível social: os mais privilegiados usavam o

importado “Rodo

Metálico(foto), o

povão mais simples ia de “

Colibri”, em sua embalagem de vidro.
Totalmente permitido e até incentivado

como o travestismo do album de fotos

familiar, o “lança” era encontrado nas

matinês dos clubes infantis e aspirado nos bailes de

gala,dando baratos incriveis.
Crepes, brioches e croissants
Na véspera do dia em que começava a proibição de

consumir carne e
gorduras durante a

Quaresma (terça-feira gorda), as pessoas

usavam o que havia

restado de gordura em casa para festejar,

consumindo frituras e pães super calóricos.

Neste tempo do peixe contra a

carne e do comedimento contra

os excessos, o consumo de ovos

era igualmente interditado.

Assim, surgiu a crepe –
panqueca, aqui no Brasil - feita de farinha e leite.
Nos países anglofônicos festeja-se o “Pancake
Tuesday”, nos francofônicos o“Mardi Gras”, que
veio a dar nome ao festejo popular mais importante deNova Orléans.


Malhação do Judas e Rei Momo

A partir do século XI, um boneco encarnando o Rei

do Carnaval -nosso Rei Momo - fazia parte dos desfiles, sendo queimado pelos

habitantes das cidades ao final das folias.
Atualmente, estas manifestações ainda sobrevivem

e, no Rio de Janeiro, a alma alegre do povo chama este boneco de Judas. A cada sábado de Aleluia, ao meio dia em ponto, um "

Judas" é "malhado.

Com o correr dos tempos,as tradições que a gente encontrava nas 
fotos de album de família foram se formando,se firmando e acabaram por transformar o Carnaval (principalmente no Brasil)na festa popular mais diversificada e culturalmente rica do mundo.

**************************************  

Nenhum comentário:

Andy Warhol

  A série Diários de Andy Warho l     está disponível na Netflix e conta a história do artista norte-americano através dos seus diários pess...

Textos mais visitados