Lysistrata,
Aspasia, Corina e Sapho.
Na vida e na ficção elas fizeram a diferença.
Lysistrata
da “Guerra dos Sexos”, Aspasia de Mileto, Corina de Tanagra e
Sapho de Lesbos - a primeira, personagem de Aristófanes e as demais
atenienses que conseguiram romper o
espaço minimalista reservado às mulheres na Grécia da antiguidade.
Suas
atitudes firmes inspiraram o movimento pacifista contra a guerra do Vietnã na
década de 70 e fizeram com que - em março
de 2003 - artistas em redor do mundo
se unissem para protestar contra a violência diária, o terrorismo sem
limite e as mortes desnecessárias causadas pela intolerância do governo Bush.
Situados
na confluência da Europa e Oriente Médio, os gregos desenvolveram uma
civilização que, dois mil anos depois, continua a enriquecer o mundo.
Quanto
às mulheres, eram contraditórios : veneradas, sob a forma de deusas em
santuários, não tinham nenhum controle sobre seu destino na vida real. Passavam
direto da ditadura paterna para a matrimonial e estavam, nos séculos VII a III
aC, apenas poucos degraus acima do
status de escravo.
As jovens não recebiam educação formal. Mesmo
nas famílias ricas eram ensinadas apenas a cozinhar, fazer trabalhos domésticos
e tingir tecidos.
Entre
os mais pobres, que não contavam com
escravos, as mulheres faziam também trabalhos no campo.
No
espaço do lar - rico ou humilde - sofriam segregação : não ocupavam a mesma ala
da residência reservada aos homens.
Atuação
na política, filosofia, literatura, poesia, pedagogia, incitação à transgressão
e desobediência explicita às leis discriminatórias foram os traços que uniram estas 4 lendárias figuras femininas.
Aspásia de Mileto
Nascida
na colônia de Mileto imigrou para Atenas em 450 AC e ali viveu como estrangeira
residente.
Aspásia |
O
status de estrangeira permitiu que Aspasia não ficasse confinada ao lar,
podendo frequentar qualquer ambiente.
Mulher
legítima e legitimada e - ao mesmo tempo - amante recebia em seu salão literário amigos e
admiradores que eram tratados com polidez e educação. Aspásia pensava, se
mostrava, se exprimia.
Intelectual
quando a norma exigia que a glória de uma mulher fosse a invisibilidade e o
silêncio, companheira admirada e respeitada pelo marido. O grande filósofo
Sócrates a admirava pela “rara
sabedoria política”, e “pelo grande número de atenienses que com ela vinham aprender a arte da retórica”.
Corina de Tanagra
Atenas
foi a cidade irradiadora de cultura do mundo antigo, mas a literatura grega
clássica, a história e a filosofia se concentraram numa época breve e em
espaços claramente delimitados.
Terminadas
as grandes guerras, novas vozes se apresentaram, agora cantando o prazer do
amor, as paixões, a vida e o vinho.
Assim
era a poesia lírica (cantada ao som da lira) e uma notável representante do novo
movimento foi Corina de Tanagra, também
sacerdotisa. Uma sacerdotisa na Grécia antiga exercia o cargo de
conselheira das lideranças e atuava como juíza em tribunais que julgavam
criminosos.
Corina
foi mestra do célebre Píndaro e escreveu 5 livros de poesia ligeira, mas
severa, daí seu apelido de “A mosca”.
Em confrontos com grandes nomes das letras e
artes, venceu 5 vezes os famosos concursos poéticos realizados em Tebas, num
momento em que era vedada às mulheres a liberdade de expressão.
Sapho de Lesbos
Originária de uma família aristocrática da
ilha de Lesbos, Sapho viveu na segunda metade do século 7 aC. e teve
papel ativo nos negócios públicos de sua cidade, antes ser exilada para a
Sicília.
Sapho
se dedicou ao serviço das Musas e chegou a
conhecer, em vida, a fama e o
reconhecimento à sua poesia, a seus
cantos nupciais e a seus epigramas.
Depois de vivenciar
grandes mudanças internas, passou a ser discriminada, acusada de viver
na marginalidade e de amar mulheres, entre elas
Atthis, Télésippa e Mégara.
Escreveu
nove livros de poemas líricos. As
emoções fortes e atmosfera sensual que vinham de sua lira alimentaram o mito em
torno de sua vida íntima, que vem provocando, desde a antiguidade, debates
apaixonados e profundos.
Morreu
ao se atirar ao mar do alto do rochedo de Leucates, por um amor não
correspondido por um homem : Phaon, o Mitileniano.
Lysistrata e a Greve de Sexo
Uma
das 40 obras escritas por Aristophanes ( 447 a 386 aC ), A Guerra dos Sexos
foi uma comédia revolucionária para seu
tempo : os “heróis” eram belas mulheres.
Lysistrata,
figura central da trama, comandou as mulheres de Atenas e combinou com as mulheres
de Esparta uma greve inusitada para forçar seus maridos a encerrar a Guerra do
Peloponeso, que estava destruindo as duas cidades-estado.
Quando
voltavam das batalhas famintos de amor, as mulheres se recusavam a fazer sexo e
assim, os homens de Atenas e Esparta
celebraram o tratado de paz.
Lysistrata pede oportunidades maiores para o sexo
feminino, argumentando que as mulheres também
possuem inteligência e juízo para tomadas de decisão políticas.
Consideradas
propriedade, como os escravos - exceto para o sexo e multiplicação da espécie -
as mulheres de Atenas souberam usar sua moeda de troca para comprar uma boa
causa.
Se
a Lysystrata que inspirou o autor existiu é uma pergunta sem resposta, mas o
poder feminino que emana da obra de Aristófanes é inquestionável.
Comédia grega inspira ativistas : o
Projeto Lysystrata
Em 3 de Março de 2003, 500 cidades em diversos
países como Argentina, Austrália, Áustria, Alemanha, Canadá, Republica
Dominicana, Inglaterra, Italia, Escócia, Estados Unidos, Espanha, Finlândia,
França, Grécia, Islândia, Índia, Irlanda, Israel, Japão, Suíça, Síria e
Turquia levaram à cena em suas
Universidades o espetáculo de Aristófanes.
A intenção dos criadores do Projeto foi tentar diminuir a frustração com a administração de George W Bush em relação ao
Oriente Médio e instigar as pessoas, especialmente os estudantes, a buscar a paz.
Marcie Staliare, que coordena o Projeto, declarou : “O tempo que estamos vivendo é confuso, mas
como educadores acho que o maior poder que podemos delegar aos estudantes é a
habilidade de pensar racionalmente e fazer suas próprias escolhas.Embora
passada em outra época a peça nos coloca face a face com uma nova forma de
ação, de comportamento e de sentimento. Mais do que tudo, a juventude de hoje
precisa saber que existem alternativas e que ela pode agir. Precisamos combater o medo”
“Antes de começar o Projeto Lysistrata não
podíamos fazer nada além de assistir com horror o que o governo Bush fez nos ataques unilaterais ao Iraque. Então,
criamos um website e começamos a contatar os amigos.A resposta ao nosso apelo
tem sido enorme” A declaração é das atrizes
norte-americanas Kathryn Blume e Sharron Bowers, idealizadoras do Projeto.
Das
bravas mulheres de Atenas à mais radical militante século do século
21 a atitude feminina em busca da liberdade e do reconhecimento expressa uma vontade comum de mudar a vida em geral e suas vidas em
particular, redefinindo os fundamentos culturais e políticos da sociedade.
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Visite
o website do Projeto Lysistrata
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