sábado, 14 de maio de 2011

14/15 de maio 2011- Festa Literária de Santa Teresa


(crédito da imagem: FAPERJ)
A Montmartre carioca
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A terceira edição da Festa Literária de Santa Teresa acontece hoje e amanhã,com atividades gratuitas para todas as faixas etárias.
Literatura, música,teatro,exposições e lançamentos de obras movimentam as ladeiras do bairro charmoso -agora conhecido mundialmente por conta do desenho animado "RIO"-,com apoio de da Secretaria Municipal de Cultura e parceria de empresas ,instituições,grupos e profissionais autônomos.
A FLIST é uma realização do Centro Educacional Anísio Teixeira-CEAT-escola instalada no bairro que desenvolve trabalho pedagógico com visão humanística da educação -da Educação Infantil ao Ensino Médio.
O homenageado do ano é Bartolomeu Campos de Queirós, escritor e educador nascido na cidade de Papagaio, Minas Gerais e radicado em Belo Horizonte.
  • Os eventos acontecem em três espaços: Parque das Ruínas (Rua Murtinho Nobre,169-foto)
  • na Casa de Paschoal Carlos Magno (Rua Hermenegildo de Barros, 161) e na Casa Amarela (na mesma Hermenegildo, no número 163)
  • 14 restaurantes e seis hotéis oferecem seus espaços para o final de semana com literatura,música,artes, boemia e o lindo visual do bairro.
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Paschoal sempre presente em Santa Teresa
Mecenas das artes e figura mais que importante do teatro
Os Deuses que protegem as Artes não deixam que nos esqueçamos de Paschoal Carlos Magno (1906-1980), animador cultural, produtor, crítico, autor e diretor, romancista, diplomata de carreira, político e apaixonado pelo teatro.
Em nome dessa paixãoproduziu festivais por todo o país e abriu sua casa no bairro carioca de Santa Teresa para abrigar o Teatro Duse, com oitenta lugares.
Criado para ser laboratório de atores e diretores, acabou se transformando em importante referência na dramaturgia brasileira. Levaram a assinatura de Paschoal a Caravana da Cultura (1964), a Barca da Cultura (1974), o Trem da Cultura, projetos itinerantes de circulação de artes cênicas, o Teatro Experimental de Ópera e o Festival Nacional de Teatro de Estudantes (com sete edições).
Paschoal criou, em 1944, um "Curso de Férias de Teatro" que foi a semente do Teatro Experimental do Negro. Em 1965, fundou a Aldeia de Arcozelo, no município de Pati do Alferes - interior do Estado do Rio de Janeiro - um local para repouso de intelectuais e centro de treinamento para diversos segmentos de arte.

Quem é bom, já nasce feito
Paschoal Carlos Magno nasceu no bairro carioca do Catete, em 13 de janeiro de 1906, filho dos imigrantes italianos Nicolau e Filomena Campanella Carlos Magno.
Aos 12, já tinha um livro de poesias publicado (“Templos”) e prefaciado pelo Conde de Afonso Celso,um importante crítico literário. Aos dezoito, havia publicado “Tempo que passa” e "Chagas do Sol". Com 20 anos, ganhou uma menção honrosa da Academia Brasileira de Letras com o romance "Drama da alma e do sangue".
Quatro anos depois, a mesma Academia lhe concedeu o primeiro prêmio teatral pela peça “Pierrot”. Montada pela Companhia de Jaime Costa e assistida e aplaudida pelo Presidente Getúlio Vargas, trouxe a consagração popular.
No final de 1927, Paschoal Carlos Magno, Renato Vianna e o artista plástico Roberto Rodrigues (irmão do futuro dramaturgo Nelson Rodrigues) lançaram a Companhia Caverna Mágica, que encenou “Fim de Romance”. Uma peça de vanguarda com iluminação sofisticada e diálogos bem estruturados – não fez sucesso, o novo sempre assusta.
Em 1929, fundou a Casa do Estudante do Brasil, que abrigava estudantes sem recursos e iniciou campanha para que autoridades e a população ajudassem a manter a Entidade que criou junto com Ana Amélia Carneiro de Mendonça.
Cursava Ciências Jurídicas e Sociais, mas encontrava tempo e disposição para viajar pelo Brasil, organizar feiras, espetáculos, festivais, caravanas e seminários com jovens. Em 1933, é nomeado vice Consul em Manchester, Inglaterra, indo depois para o Consulado Geral em Londres. Serviu também na Itália (Milão).

Teatro do Estudante do Brasil
O panorama careta do teatro carioca recebeu um alento quando a ousadia de Paschoal preparou a montagem de Romeu e Julieta, de Shakespeare, com os então iniciantes Sônia Oiticica, Paulo Porto e Sandro Polônio.
Mesmo servindo na Inglaterra como diplomata, deixou o TEB funcionando no Rio e, de longe, supervisionou a montagem de um repertório variado (Edmond Rostand, José de Alencar, Gonçalves Dias). Cacilda Becker, dama do teatro, revelou-se ali.
Do elenco de Hamlet, em 1948, participaram Sergio Cardoso, Barbara Heliodora, Maria Fernanda e Sergio Britto.
Vale lembrar que boa parte do trabalho se desenvolveu em plena segunda guerra, com um oceano de distância. Mas para Paschoal bastavam determinação, bom tipo fisico, alguma desenvoltura e a centelha de talento que ele sabia captar, mesmo de longe.
No tempo livre, enquanto propagava nossa cultura na Europa, escreveu e publicou o romance “Sun Over the Palms”, que obteve excelentes resenhas.
O teatro deve também a Paschoal Carlos Magno a fala brasileira em lugar do sotaque lusitano, a valorização do cenógrafo e do figurinista, e a exclusão do ponto. Desta ousadia sem limites surgiram o Teatro Experimental do Negro, o Teatro Gibi para crianças e o Teatro Experimental de Ópera.
Em 1951, viajando pelo Brasil com a remontagem de Hamlet, Paschoal idealizou festivais estudantis no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil que aconteceram sempre com recordes de bilheteria. Já que os patrocinadores eram inconstantes e temerosos, para descomplicar a burocracia (leia-se censura) e oferecer novo espaço para experimentos, foi inaugurado um teatrinho doméstico.
O Teatro Duse
Em 2 de agosto de 1952, o Embaixador inaugurou no porão de sua casa em Santa Teresa, o Teatro Duse, com 80 lugares, batizado em homenagem à atriz italiana Eleonora Duse, e que se propunha a revelar novos autores e atores nacionais.(foto:tela de Ana Maria Moura)
Até 1956, foram abrigados ali o Teatro do Estudante do Brasil (TEB) e o Teatro Experimental do Negro.
Os autores, então inéditos em cena exibidos no Duse foram, entre outros, Antônio Callado, Rachel de Queiroz, Hermilo Borba Filho e Francisco Pereira da Silva e atores como Teresa Rachel e Agildo Ribeiro ali iniciaram suas carreiras.
Após a morte de seu idealizador, a Fundação Nacional de Artes Cênicas comprou a casa de Paschoal e o teatro Duse foi incorporado à rede dos teatros da instituição e reaberto em 2 de agosto de 1998, na festa dos 46 anos de sua inauguração.
O casarão que abriga o teatro, construído na década de 20, pode hospedar 30 pessoas e foi comprado pelo governo federal em 1984.
Aldeia de Arcozelo
Animado com o sucesso dos festivais estudantis que percorriam o Brasil, Paschoal resolveu montá-los numa propriedade que tinha, no municipio de Pati do Alferes. interior do Estado do Rio - a Aldeia de Arcozelo(vista panorâmica).
Mais de mil participantes, grupos amadores e estudantis, estiveram na Aldeia. Ali foi consagrado Plínio Marcos, que havia sido notado por Paschoal num festival que se realizou em Santos (o sétimo).
A Aldeia era a antiga Fazenda da Freguesia, do Capitão-Mor Manoel Francisco Xavier e, pelo sonho de Paschoal, deveria se transformar num centro de arte em permanente atividade, com um Anfietatro Itália Fausta, um Teatro Renato Vianna e área para Festivais de Teatro Amador e Encontro de Corais das Escolas.
Sonhar lindo assim é grátis, mas ver sonho audacioso virar realidade, infelizmente, só nas novelas. Em 1980, nos dias finais, o diplomata havia vendido a casa e a maior parte de seus bens para bancar o centro cultural na Aldeia de Arcozelo e manter seu teatro em funcionamento.
Paschoal perdeu dinheiro, fez dívidas que não poderia pagar e teve que vender sua casa em Santa Teresa. Triste, frustrado, carente do patrocínio que poderia apoiar seus projetos, já que foi perseguido pela Ditadura Militar, escreveu o livro “Não acuso nem perdôo”.
Quando completou 70 anos, Carlos Drummond de Andrade publicou no Jornal do Brasil a crônica “Por sua vida curtida e generosa, hoje devia ser feriado nacional”.
Em dezembro de 2005, a casa onde morou o Embaixador na Rua Hermenegildo de Barros, em Santa Teresa, na zona sul do Rio, foi entregue ao público com a reativação da sala de espetáculos, restaurado e transformado - finalmente - o centro cultural que deve hospedar grupos teatrais que se apresentarem no Rio e promover encontros de jovens e da clientela da terceira idade.
Paschoal Carlos Magno, que tive a honra de conhecer pessoalmente e de quem recebi prova material da famosa generosidade, morreu em 24 de maio de 1980 aos 74 anos.
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