quinta-feira, 11 de maio de 2017

D.Pedro quase III

  O que poderia ter sido e não fo  

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"Num ímpeto difuso de quebranto, 
Tudo encetei e nada possuí...
 Hoje, de mim, só resta o desencanto 
Das coisas que beijei mas não vivi... 
 Um pouco mais de sol - e fora brasa, 
Um pouco mais de azul - e fora além. 
Para atingir faltou-me um golpe de asa... 
 Se ao menos eu permanecesse aquém". 

"QUASE" - Mário de Sá-Carneiro  
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 Acabo de reler  o belo livro da historiadora Mary Del Priore "O Príncipe Maldito - Traição e Loucura na Família Imperial" (Editora Objetiva, 312 páginas, 2007)
 Se antes de 13 de maio de 1888 o Império tivesse acertado com os senhores de escravos uma indenização por meio de títulos do Tesouro Nacional, resgatáveis a longo prazo, por exemplo, o Brasil poderia ter tido um terceiro Imperador.  
 D.Pedro Augusto

O que fez o Império desabar como um castelo de cartas foi o caos econômico e social que se instalou após a Abolição.

Como não havia um Código Civil elaborado, os escravos eram - ao mesmo tempo - objetos e pessoas. Pelo Código Penal, deveriam responder pelos seus atos mas, como propriedade privada, podiam ser vendidos, alugados ou trocados.
No livro, Mary del Priore relata histórias de agências de aluguel de escravos, como as de hoje, onde pessoas alugam por dia roupas para festas ou carros para viajar.
 

Os latifundiários, revoltados com a abolição sem indenização apoiaram a República e, também conta a lenda, pagaram para que Deodoro, doente, saísse de casa e atravessasse a rua (morava próximo do Campo de Santana, no centro do Rio, onde se deu o episódio histórico.

0s ex-senhores de escravos se sentiram espoliados e organizaram um movimento para exigir o ressarcimento.

O Conselheiro Ruy Barbosa, continua contando a lenda, mandou queimar toneladas de anuários encontrados no Ministério da Fazenda, com a genealogia e títulos de propriedade de oito gerações de escravos importados para o Brasil, prejudicando igualmente os membros do novo governo, já que também possuíam escravos.

Daí teria surgido a expressão "queima de arquivo".

  ERRO FATAL  

 O pequeno príncipe e seus pais


Rebouças, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e os demais abolicionistas achavam que libertar escravos era medida prioritária, seguida de reforma agrária e entrada dos trabalhadores no processo da oportunidade e da concorrência.


Os quase 800 mil negros agora livres ficaram ao acaso, sem qualquer tipo de apoio: nem escolas, nem hospitais nem um mísero pedaço de terra para que tirassem sustento. A senzala virou um casebre, depois um barraco de favela e, como percebeu meu primo alemão horrorizado, dependências de empregada mesmo em apartamentos de quarto e sala nos dias de hoje.


Os senhores, sem indenização, proprietários de negros chegados depois da Lei Feijó (07.11.1831) tiveram de engolir o despacho de 14.12.1890, aquele que recomendava a queima na sala das caldeiras da Alfândega do Rio e uma inacreditável moção aprovada seis dias depois: "O Congresso Nacional felicita o Governo Provisório por ter ordenado a eliminação nos arquivos nacionais dos vestígios da escravatura no Brasil".


QUEM TERIA SIDO D. PEDRO III 
Da que soubesse como viviam as pessoas "normais", foi matriculado no Colégio Pedro II, onde era tratado como um aluno mais ou menos) comum.

Depois de formado em Engenharia, especializou-se em mineração e escreveu várias obras sobre o assunto.

Até os 1. Pedro III seria Pedro Augusto de Alcântara Augusto Luis Maria Miguel Rafael Gonzaga de Bragança Saxe e Coburgo Gotha, filho primogênito da princesa Leopoldina e de seu marido, Luís Augusto Maria Eudes de Saxe e Coburgo Gotha, nascido no Rio de Janeiro em 19 de março de 1866.




O neto carioca vivia na Áustria, de onde retornou na companhia dos avós aos 5 anos, quando perdeu a mãe.

Veio ser preparado, para suceder a tia, Princesa Isabel, que era estéril.


O irmão Luiz Augusto, que - mais tarde - se tornou oficial da Marinha, o acompanhou. Para dirigir os estudos dos dois netos foi escolhido Manuel Pacheco da Silva, médico, ex-reitor do Externato D. Pedro II e futuro barão de Pacheco.
O preceptor teve que lidar com o fato complicante de D. Pedro Augusto ter como língua materna o alemão. Muito parecido com o avô, teve dele carinhos, atenções e cuidados.

E, por muitos anos era considerado como legítimo sucessor, mas só depois que sua mãe, irmã de Isabel, faleceu, tendo deixado 5 filhos homens. 

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Isabel deu à luz uma menina, Luisa Vitória, que viveu poucas horas. Em 1875, nasce o esperado Príncipe do Grão Pará e, logo em seguida, outro filho homem, com o odiado Gaston, o Conde D'Eu , veio garantir a continuação da dinastia.



HISTÓRIA NÃO OFICIAL


Os bastidores da Família Imperial Brasileira, não ensinados nos bancos escolares e nem constantes da História Oficial, a tornam igual a qualquer família plebéia.


Disputas, conspirações, conflitos de ego, Príncipe moço louro e belo - diziam que parava gente na rua para vê-lo - lutando com a tia Regente e - sobretudo com o tio odiado pelo povo -, conspirando contra eles, sendo estimulado a isso por um grupo de nobres focados em seus próprios interesses.

A tia traiu o desejo expresso no leito de morte pela irmã, para que sempre cuidasse dos sobrinhos e, longe da figura angelical que as biografias traçam, alguns achavam que era invejosa, mesquinha, insegura, dominada pelo marido conde que mais tarde também espoliou os dois (Pedro Augusto e Augustinho) quando vendeu os bens da família real.
E foi ele que embolsou os 5 mil contos que o sogro deposto recusou como indenização para se instalar na Europa. Assinou recibo, inclusive.

Ruy Barbosa, quando advogado dos meninos ficou chocado com as maracutaias orquestradas dentro da família Imperial, sob a batuta do Conde D'Eu, notório explorador dos miseráveis a quem alugava quartos nos cortiços.

 

QUASE

Um grupo de liberais e republicanos desejava fazer a transição da Monarquia para a República, inspirado em Napoleão III, o Imperador Presidente.

Ninguém melhor que Pedro Augusto para encarnar este personagem que evoluiria entre o passado e o futuro. 

Mas numa época sem Prozac, Frontal, Anafranil, Pondera, Rivotril sua insegurança misturada com a depressão profunda própria de quem teve perdas atrapalhou bastante (diagnóstico rápido de Freud, que o visitou: "tristeza").


Perdeu a mãe, a família, a vida dos palácios europeus onde já era tratado como Majestade, herdeiro do trono imperial brasileiro; e viu seu primo Pedro de Alcântara, o ''mão seca'' ocupar um lugar que teoricamente lhe pertencia.
Com a Proclamação da República, o príncipe foi detido no Paço Imperial junto com o restante da família, depois de deixar sua residência, na atual Rua Ibituruna, no bairro da Tijuca.



MENSAGEM NA GARRAFA


O capítulo do livro "Príncipe Maldito" que descreve as últimas horas da família real em terras brasileiras e seu melancólico exílio me esclareceu uma dúvida antiga.
A pomba que foi solta assim que o navio se preparava para sair de nossas águas territoriais tinha vindo da cozinha, com asas cortadas, daí tendo caído ao mar logo em seguida, levando junto a palavra "saudade" escrita num cartãozinho.
 

Depois de ter tentado matar o capitão do navio, os surtos de Pedro Augusto se agravaram durante a viagem para a Europa. E screveu várias mensagens denunciando possível complô para eliminação de toda a família, colocando-as em garrafas. Uma foi dar em Maragogipe, no litoral de Alagoas.
 

Foi mandado para a propriedade de sua família paterna, onde ainda continuou a conspirar, já que havia, no Brasil, clima para a Restauração.

Esteve internado em hospitais psiquiátricos, tendo sido paciente de Sigmund Freud.

Aos vinte e sete anos, tentou o suicídio.
Morreu solteiro, sem filhos, sempre se identificando "Sou o Imperador do Brasil", aos 68 anos, num sanatório em Viena, em julho de 1934.


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